sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Os coveiros da educação

Por Adelson Vidal Alves


Todo ano, no dia 15 de Outubro, professores de todo o país recebem homenagens, de alunos, dos pais de alunos e de autoridades políticas. Ouvimos frases do tipo “o professor é a base da sociedade”, “devemos valorizar nossos mestres” “educar é um ato de amor” e por ai vai. Só que, na prática, o apoio aos mestres para por ai. A sociedade ignora seus professores, não se soma a suas lutas, não participa das batalhas cotidianas por valorização profissional. Ao contrário, há entidades e pessoas que desqualificam nossas greves, nos chamam de vagabundos, afinal, estaríamos todos chorando de barriga cheia.

Os governos, historicamente, não valorizam a educação. Temem o efeito libertário que ela pode ter. O Ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou essa semana o aumento do piso salarial nacional dos professores para R$ 2,298,80 a cada 40h semanais trabalhadas. Já no ano passado, o Relatório de Observação sobre as Desigualdades na Escolarização do Brasil produzido por um comitê técnico do Conselho de Desenvolvimento de Econômico e Social (Cdes) da Presidência da República, já apontava que os docentes com nível superior recebem a metade do que ganham outros profissionais com mesma graduação. E a coisa é ainda pior. Segundo o próprio governo federal, apenas 46% dos estados pagaram o piso no ano de 2016.

Mas não são apenas governos e a sociedade que não se preocupam com a educação no Brasil, os professores também têm culpa. A maior parte desses profissionais ganha salários baixíssimos, mas conseguem completar suas rendas com outros trabalhos. Trabalham em dois ou três empregos, com uma jornada de trabalho  que pode chegar a 15hs por dia, algo próximo do que era nos primeiros anos da revolução industrial. Mas tamanho esforço lhes rende uma vida econômica razoável, que mexe diretamente nas suas consciências. A luta da categoria que deveria ser por trabalhar menos com melhores remunerações é substituída pela obsessão de ter uma nova matrícula. Trabalhar mais para manter o status de classe média.

Professores só se mobilizam quando o salário atrasa, quando algum direito econômico seu é ameaçado. É um economicismo egoísta que não deveria combinar com o posto de educadores que ocupam. Há aqueles, inclusive, que boicotam greves, bajulam superiores a fim de obter benefícios. A realidade é dura. O aumento vem, o carro é trocado, e tudo fica numa boa.


Exercer a função docente é estressante, cansativa, a se julgar pelas condições das salas de aula que a nós hoje é oferecida. Os professores que se matam em jornadas de trabalho quase compulsórias, logo vão ficar doentes, contrair algum esgotamento mental, até encostarem e aposentarem por invalidez. Uma trajetória de penúria com um fim desalentador. Mas o sentimento imediatista e economicista cega os professores para as principais pautas que deveriam nortear nossa luta como classe. Cegos, sem consciência e olhando apenas para a conta bancária, encharcada pelo sangue e suor docente, se conformam com as migalhas. Eis aqui um dos pontos que nos ajudam a explicar tanto descaso dos governos com a educação e seus educadores. 

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