Por
Adelson Vidal Alves
Todo ano, no dia 15 de Outubro,
professores de todo o país recebem homenagens, de alunos, dos pais de alunos e
de autoridades políticas. Ouvimos frases do tipo “o professor é a base da
sociedade”, “devemos valorizar nossos mestres” “educar é um ato de amor” e por
ai vai. Só que, na prática, o apoio aos mestres para por ai. A sociedade ignora
seus professores, não se soma a suas lutas, não participa das batalhas
cotidianas por valorização profissional. Ao contrário, há entidades e pessoas
que desqualificam nossas greves, nos chamam de vagabundos, afinal, estaríamos
todos chorando de barriga cheia.
Os governos, historicamente,
não valorizam a educação. Temem o efeito libertário que ela pode ter. O
Ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou essa semana o aumento do piso
salarial nacional dos professores para R$ 2,298,80 a cada 40h semanais
trabalhadas. Já no ano passado, o Relatório de Observação sobre as
Desigualdades na Escolarização do Brasil produzido por um comitê técnico do
Conselho de Desenvolvimento de Econômico e Social (Cdes) da Presidência da
República, já apontava que os docentes com nível superior recebem a metade do
que ganham outros profissionais com mesma graduação. E a coisa é ainda pior.
Segundo o próprio governo federal, apenas 46% dos estados pagaram o piso no ano
de 2016.
Mas não são apenas governos e a
sociedade que não se preocupam com a educação no Brasil, os professores também
têm culpa. A maior parte desses profissionais ganha salários baixíssimos, mas
conseguem completar suas rendas com outros trabalhos. Trabalham em dois ou três
empregos, com uma jornada de trabalho que pode chegar a 15hs por dia, algo próximo
do que era nos primeiros anos da revolução industrial. Mas tamanho esforço lhes
rende uma vida econômica razoável, que mexe diretamente nas suas consciências. A
luta da categoria que deveria ser por trabalhar menos com melhores remunerações
é substituída pela obsessão de ter uma nova matrícula. Trabalhar mais para manter
o status de classe média.
Professores só se mobilizam
quando o salário atrasa, quando algum direito econômico seu é ameaçado. É um
economicismo egoísta que não deveria combinar com o posto de educadores que
ocupam. Há aqueles, inclusive, que boicotam greves, bajulam superiores a fim de
obter benefícios. A realidade é dura. O aumento vem, o carro é trocado, e tudo
fica numa boa.
Exercer a função docente é
estressante, cansativa, a se julgar pelas condições das salas de aula que a nós
hoje é oferecida. Os professores que se matam em jornadas de trabalho quase
compulsórias, logo vão ficar doentes, contrair algum esgotamento mental, até
encostarem e aposentarem por invalidez. Uma trajetória de penúria com um fim
desalentador. Mas o sentimento imediatista e economicista cega os professores
para as principais pautas que deveriam nortear nossa luta como classe. Cegos,
sem consciência e olhando apenas para a conta bancária, encharcada pelo sangue
e suor docente, se conformam com as migalhas. Eis aqui um dos pontos que nos
ajudam a explicar tanto descaso dos governos com a educação e seus educadores.
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