Por Adelson Vidal Alves
Recentemente, fui convidado a
falar para um grupo de alunos que ocupavam uma escola pública, em protesto
contra o governo estadual e em apoio aos professores em greve. Os alunos, pouco
mais de 16 pessoas, eram quase todos de organizações estudantis de atuação
nacional. Apenas 2 ou 3 eram da escola. Elogiei a coragem e a iniciativa
daqueles, mas me atrevi a falar sobre democracia: respeitar o espaço público,
dialogar com as instituições, obedecer decisões judiciais, apostar no
parlamento como instrumento de mediação, reconhecer no Estado uma conquista
civilizatória. Quase apanhei. Para aqueles jovens, o Estado é burguês, a
democracia é burguesa, o parlamento é burguês, as eleições um jogo de cartas marcadas.
Nada mudaria por dentro deste ordenamento institucional, seria preciso uma
revolução que derrubasse o atual Estado e se instalasse outro de caráter
proletário.
Esses adolescentes aprenderam
tais coisas nos cursinhos de partidos e entidades estudantis, também em algumas
aulas de história onde o professor mais doutrina do que amplia a dimensão
critica. São jovens, tem espírito rebelde, eu também já tive, mas pensam pouco
além dos manuais que lhe entregam.
Há pessoas que culpam Marx e
Engels, por serem eles os responsáveis por essa subversão anacrônica da nova
juventude. Mas com uma leitura atenta destes autores, podemos entender que a
coisa não é bem assim. A revolução que nossos meninos e meninas querem, pode e
deve assumir caminhos menos estreitos que os pensados pelos partidos que guiam
a maior parte do movimento estudantil.
Karl Marx quando desenvolveu
seu pensamento revolucionário, falava em um tempo onde o Estado era uma
fortaleza de classe, onde o domínio era exercido pela força contra pequenos
grupos de resistência. Nesta perspectiva, caberia como saída apenas o assalto
ao poder, afinal, não havia nenhum outro espaço para que as classes de baixo
fossem ouvidas. O filósofo alemão, ainda, recuperou o termo ditadura do
proletariado, de Augusto Blanqui, para caracterizar um curto período de
transição entre a tomada do poder do Estado até o fenecimento deste. Sobre o
processo, Marx deu poucos detalhes.
Marx, porém, morreu. Não teve
tempo para ver que a luta dos trabalhadores foi capaz de arrancar concessões
das classes dominantes, não só no campo econômico, tornando a dinâmica de
classe mais complexa, mas, principalmente, abrindo terrenos políticos onde as
classes subalternas pudessem reivindicar seus interesses e fazê-los virarem
pautas de Estado. Engels, parceiro de Marx, chegou a escrever um prefácio onde
admitia que a ditadura do proletariado deveria ser pensada como uma república
democrática.
Desde então, o marxismo
(naturalmente dialético) seguiu seu curso repensando suas estratégias
revolucionárias. Autores como Gramsci, Ingrao, Poulantzas, Togliatti,
Berlinguer e outros, vão pensar o caminho do socialismo como uma longa
caminhada pacífica por entre os espaços democráticos. Nada de rupturas
violentas e de tomadas do palácio de inverno. A hora é de “fazer política”,
como diria Gramsci. E em nossos tempos, isso significa aceitar o Estado de
direito, obedecer a constituição, travar uma luta cultural no seio da sociedade
civil, por dentro da ordem institucional. A Era das grandes revoluções acabou,
a democracia é o único caminho seguro para que transformações se operem sem
retrocessos. São questões que os manuais da UNE não apresentam aos nossos
jovens rebeldes de hoje.
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