terça-feira, 24 de janeiro de 2017

OPINIÃO: Jovens, é preciso falar de democracia

Por Adelson Vidal Alves



Recentemente, fui convidado a falar para um grupo de alunos que ocupavam uma escola pública, em protesto contra o governo estadual e em apoio aos professores em greve. Os alunos, pouco mais de 16 pessoas, eram quase todos de organizações estudantis de atuação nacional. Apenas 2 ou 3 eram da escola. Elogiei a coragem e a iniciativa daqueles, mas me atrevi a falar sobre democracia: respeitar o espaço público, dialogar com as instituições, obedecer decisões judiciais, apostar no parlamento como instrumento de mediação, reconhecer no Estado uma conquista civilizatória. Quase apanhei. Para aqueles jovens, o Estado é burguês, a democracia é burguesa, o parlamento é burguês, as eleições um jogo de cartas marcadas. Nada mudaria por dentro deste ordenamento institucional, seria preciso uma revolução que derrubasse o atual Estado e se instalasse outro de caráter proletário.

Esses adolescentes aprenderam tais coisas nos cursinhos de partidos e entidades estudantis, também em algumas aulas de história onde o professor mais doutrina do que amplia a dimensão critica. São jovens, tem espírito rebelde, eu também já tive, mas pensam pouco além dos manuais que lhe entregam.

Há pessoas que culpam Marx e Engels, por serem eles os responsáveis por essa subversão anacrônica da nova juventude. Mas com uma leitura atenta destes autores, podemos entender que a coisa não é bem assim. A revolução que nossos meninos e meninas querem, pode e deve assumir caminhos menos estreitos que os pensados pelos partidos que guiam a maior parte do movimento estudantil.

Karl Marx quando desenvolveu seu pensamento revolucionário, falava em um tempo onde o Estado era uma fortaleza de classe, onde o domínio era exercido pela força contra pequenos grupos de resistência. Nesta perspectiva, caberia como saída apenas o assalto ao poder, afinal, não havia nenhum outro espaço para que as classes de baixo fossem ouvidas. O filósofo alemão, ainda, recuperou o termo ditadura do proletariado, de Augusto Blanqui, para caracterizar um curto período de transição entre a tomada do poder do Estado até o fenecimento deste. Sobre o processo, Marx deu poucos detalhes.


Marx, porém, morreu. Não teve tempo para ver que a luta dos trabalhadores foi capaz de arrancar concessões das classes dominantes, não só no campo econômico, tornando a dinâmica de classe mais complexa, mas, principalmente, abrindo terrenos políticos onde as classes subalternas pudessem reivindicar seus interesses e fazê-los virarem pautas de Estado. Engels, parceiro de Marx, chegou a escrever um prefácio onde admitia que a ditadura do proletariado deveria ser pensada como uma república democrática. 

Desde então, o marxismo (naturalmente dialético) seguiu seu curso repensando suas estratégias revolucionárias. Autores como Gramsci, Ingrao, Poulantzas, Togliatti, Berlinguer e outros, vão pensar o caminho do socialismo como uma longa caminhada pacífica por entre os espaços democráticos. Nada de rupturas violentas e de tomadas do palácio de inverno. A hora é de “fazer política”, como diria Gramsci. E em nossos tempos, isso significa aceitar o Estado de direito, obedecer a constituição, travar uma luta cultural no seio da sociedade civil, por dentro da ordem institucional. A Era das grandes revoluções acabou, a democracia é o único caminho seguro para que transformações se operem sem retrocessos. São questões que os manuais da UNE não apresentam aos nossos jovens rebeldes de hoje.

                                                                                                   

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