terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Artigo: 30 dias de governo Samuca

Por Adelson Vidal Alves



O governo Samuca completa um mês. Tempo curto para avaliação de resultados, mas que fornece dados para uma primeira análise de direções e opções assumidas. Neste aspecto, do ponto de vista estratégico, o novo prefeito optou por investir alto no marketing, sobretudo, o pessoal. Ele atraiu para o círculo do governo quase toda a imprensa regional, colocando seus holofotes não apenas para as ações de governo, também para gestos cotidianos como pessoa. Noticiou-se sua ida ao trabalho de ônibus, bicicleta, a pé e até uma aventura religiosa em um culto protestante. Assim como o ex-presidente Collor, que fazia questão de exibir o perfil jovial de atleta e sua proximidade com o povo (Collor descia diariamente a esplanada com um representante popular) Samuca tenta se desvincular do perfil autoritário do seu antecessor.

Contudo, no que diz respeito a um projeto de governo, Samuca ainda não fez nada. Seu secretariado é anônimo, inexperiente e com pouca entrada política. Tanto é que nesses 30 dias dois dos nomes escolhidos já pediram demissão. O governo não tem rumo, se resume em um imenso esforço para deixar de pé serviços essenciais. Ainda sim, vem fracassando. Pelo menos 24 bairros penam desabastecimento de água. Com o objetivo de blindar a figura do prefeito, chegou-se ao ridículo de insinuarem sabotagem nas tubulações da rede. Não colou.

O governo, ainda, carece de projetos de impacto. Falou-se em “Ruas de Lazer” que em duas semanas viu minguar o número de pessoas, o Plano de mobilidade Urbana foi deixado de lado, e na educação, a gafe do prefeito, que não sabia de uma dívida de férias com os professores. De resto, apenas vídeos constantes que visam reforçar a figura do “novo” em torno de Samuca.

Enfim, o primeiro mês segue de incertezas. Apenas a constatação de uma ausência de rumos claros, a busca desorganizada para colocar a máquina funcionando, a indecisão quanto ao caminho programático a se dar para a gestão. Ficamos com a insegurança quanto que administração teremos nos próximos 4 anos, afinal, ninguém vive de mídia pessoal, uma hora até os fanáticos acordam.  



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Em menos de um mês de governo, Samuca perde dois secretários



O governo Samuca, em menos de um mês de governo, já teve que substituir dois dos seus secretários escolhidos. O primeiro foi Rafael Galvão, anunciado para assumir a secretaria de Saude, mas sequer chegou a tomar posse. Foi substituído por Marcia Cury, tia do vice-prefeito, ligada ao ex-prefeito Neto e que ocupou durante todo o governo passado o cargo de diretora geral do hospital do Retiro.


A baixa da vez é Ricardo Moreira, que era presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPU), que pediu demissão. Ricardo será substituído pela arquiteta Maria Ilma de Andrade. Em ambos os casos, a justificativa foi “questões pessoais”, mas ao que tudo indica, a equipe de Samuca anda se bicando, com vários nomes do primeiro escalão insatisfeitos com o tratamento que vem recebendo. A previsão é que novos nomes sejam trocados nas próximas semanas. 

domingo, 29 de janeiro de 2017

Crise da falta de água questiona perfil "gestor" do governo Samuca


O governo Samuca parece enfrentar seu primeiro grande desafio como gestão: o desabastecimento de água. Durante a semana, cerca de 24 bairros foram atingidos pela falta de água, isso em um calor que passa os 30 graus. Varios comerciantes foram prejudicados. O diretor do SAAE, Leonardo Vidal, chegou a falar em sabotagem e ameaça ir a Polícia. A hipótese, entretanto, não convence nem mesmo o governo. Segundo fontes ligadas a prefeitura, o próprio prefeito não acredita nesta possibilidade.

Seguem os problemas

O diretor da autarquia chegou a garantir que todo o problema seria resolvido até o sábado. Contudo, mais uma tubulação estourou na madrugada de sábado para domingo, o que pode comprometer o abastecimento de pelo menos 10 bairros do município.

Protestos

Os moradores dos bairros Três Poços e Colorado perderam a paciência na última Sexta-feira, 27, e realizaram protestos devido a situação da falta de água. Os manifestantes atearam fogo em objetos e chegaram a obstruir ruas, até a chegada da polícia. Segundo lideranças do bairro, a situação é desesperadora e atípica, eles relataram que nunca ficaram tanto tempo sem água. A forma com que o governo Samuca vem tratando a situação, com lentidão para a resolução dos problemas, começa a questionar o principal discurso governista: o de boa gestão. Afinal, como acreditar que Samuca é um bom gestor se mal consegue distribuir água a seus governados?


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

OPINIÃO: Jovens, é preciso falar de democracia

Por Adelson Vidal Alves



Recentemente, fui convidado a falar para um grupo de alunos que ocupavam uma escola pública, em protesto contra o governo estadual e em apoio aos professores em greve. Os alunos, pouco mais de 16 pessoas, eram quase todos de organizações estudantis de atuação nacional. Apenas 2 ou 3 eram da escola. Elogiei a coragem e a iniciativa daqueles, mas me atrevi a falar sobre democracia: respeitar o espaço público, dialogar com as instituições, obedecer decisões judiciais, apostar no parlamento como instrumento de mediação, reconhecer no Estado uma conquista civilizatória. Quase apanhei. Para aqueles jovens, o Estado é burguês, a democracia é burguesa, o parlamento é burguês, as eleições um jogo de cartas marcadas. Nada mudaria por dentro deste ordenamento institucional, seria preciso uma revolução que derrubasse o atual Estado e se instalasse outro de caráter proletário.

Esses adolescentes aprenderam tais coisas nos cursinhos de partidos e entidades estudantis, também em algumas aulas de história onde o professor mais doutrina do que amplia a dimensão critica. São jovens, tem espírito rebelde, eu também já tive, mas pensam pouco além dos manuais que lhe entregam.

Há pessoas que culpam Marx e Engels, por serem eles os responsáveis por essa subversão anacrônica da nova juventude. Mas com uma leitura atenta destes autores, podemos entender que a coisa não é bem assim. A revolução que nossos meninos e meninas querem, pode e deve assumir caminhos menos estreitos que os pensados pelos partidos que guiam a maior parte do movimento estudantil.

Karl Marx quando desenvolveu seu pensamento revolucionário, falava em um tempo onde o Estado era uma fortaleza de classe, onde o domínio era exercido pela força contra pequenos grupos de resistência. Nesta perspectiva, caberia como saída apenas o assalto ao poder, afinal, não havia nenhum outro espaço para que as classes de baixo fossem ouvidas. O filósofo alemão, ainda, recuperou o termo ditadura do proletariado, de Augusto Blanqui, para caracterizar um curto período de transição entre a tomada do poder do Estado até o fenecimento deste. Sobre o processo, Marx deu poucos detalhes.


Marx, porém, morreu. Não teve tempo para ver que a luta dos trabalhadores foi capaz de arrancar concessões das classes dominantes, não só no campo econômico, tornando a dinâmica de classe mais complexa, mas, principalmente, abrindo terrenos políticos onde as classes subalternas pudessem reivindicar seus interesses e fazê-los virarem pautas de Estado. Engels, parceiro de Marx, chegou a escrever um prefácio onde admitia que a ditadura do proletariado deveria ser pensada como uma república democrática. 

Desde então, o marxismo (naturalmente dialético) seguiu seu curso repensando suas estratégias revolucionárias. Autores como Gramsci, Ingrao, Poulantzas, Togliatti, Berlinguer e outros, vão pensar o caminho do socialismo como uma longa caminhada pacífica por entre os espaços democráticos. Nada de rupturas violentas e de tomadas do palácio de inverno. A hora é de “fazer política”, como diria Gramsci. E em nossos tempos, isso significa aceitar o Estado de direito, obedecer a constituição, travar uma luta cultural no seio da sociedade civil, por dentro da ordem institucional. A Era das grandes revoluções acabou, a democracia é o único caminho seguro para que transformações se operem sem retrocessos. São questões que os manuais da UNE não apresentam aos nossos jovens rebeldes de hoje.

                                                                                                   

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Justiça determina que Drable pague salário de Dezembro a servidores



A Juiza Flávia Fernandes de Melo Balieiro Diniz, da 3ª vara cível da Comarca de Barra Mansa, determinou que o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable (PMDB) pague os salários de Dezembro aos funcionários ativos e inativos da educação do município. Segundo despacho, que é resultado de uma ação do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) o chefe do executivo tem prazo de 72 horas, contando a partir do recebimento da decisão judicial, para cumprir o determinado, com pena de sequestro de valores.


Rodrigo Drable, até então, vinha insinuando que os salários de Dezembro eram de responsabilidade do governo anterior, não dele. Na ação, o SEPE argumentou que os salários são de responsabilidade da prefeitura, já que todos os funcionários prestaram serviço ao Estado, não a um governante. Os profissionais da educação comemoraram a decisão. 


domingo, 22 de janeiro de 2017

OPINIÃO: Samuca terá uma longa lua de mel com Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves



O prefeito de Volta Redonda Samuca Silva deve ter uma relativa estabilidade de governo no seu primeiro ano de gestão. E isto não depende se governará de fato com eficiência, tem a ver, sobretudo, com a forma pelo qual foi eleito.

É de conhecimento de todos que o então candidato do PV venceu as eleições sem a necessidade de um projeto de cidade. Sua figura jovial, embrulhada no discurso do “novo” e do “bom gestor”, interrompeu o debate racional do segundo turno, e em torno dela, fabricou-se um exército de fiéis que rejeitavam todos os argumentos da razão, a paixão e o irracionalismo bastavam aos eleitores de Samuca.

Empurrado como um messias para seu trono, o prefeito eleito surfa numa popularidade fabricada pelo seu próprio marketing. Popularidade fanática onde seus apoiadores chegam ao ponto de pedir a opositores que se silenciem para que deixem “o garoto trabalhar”. Na visão destes, é preciso que a dialética democrática seja substituída por um monólogo político, onde apenas o prefeito fala, governa, age e pensa.

Todo este sentimento apaixonado vem acompanhado com a aparente adesão da imprensa regional ao projeto solitário de Samuca. Ela parece sustentar a estratégia inicial do governo de querer embutir no senso comum municipal a ideia de uma “herança maldita” do antigo governo. Assim, liquida-se o fantasma do antecessor eficiente e Samuca passa a ser uma espécie de salvador de uma cidade destruída pelos erros do passado. Essa jogada não é nova. O PT se utilizou muito bem disso quando tentou emplacar a história de “refundação” do Brasil com sua chegada ao poder. Ao dizer que fará o melhor governo da história, o prefeito de VR acompanha o mesmo raciocínio fundacional petista.

É fato que a oposição terá dificuldades de quebrar esta imagem heroína a curto prazo, em geral, a paixão sobrevive por sua própria incapacidade de ver a realidade. Samuca pode racionalizar sua relação de governo, e ingressar de fato na política democrática, ou acreditar ingenuamente que seu marketing sozinho lhe fará o povo te carregar nas costas por 4 anos. Certo presidente acreditou na segunda a hipótese e acabou sofrendo impeachment.

O tempo será um elemento precioso para que abra um clarão na política de Volta Redonda, por enquanto, ela não está nas ruas, nos bons debates, no parlamento e nem na imprensa. Tudo isto é substituído por vídeos diários nas redes sociais, substituindo a mediação democrática dos organismos da sociedade civil por uma tentativa de comunicação direta com as massas, característica do populismo. Resta saber: Samuca está a altura de um populista? Eu já dei minha resposta neste blog. E ela é NÂO.




quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Educação de Volta Redonda está sem receber férias e Samuca não sabia




Os profissionais da educação de Volta Redonda costumavam receber seu 1/3 de férias por volta do dia 15 do mês de Janeiro. Até hoje, 18, ainda não receberam. O pior é que o prefeito não sabia que tinha essa divida com esses trabalhadores. Em assembleia na Câmara de Vereadores com o SEPE e a categoria, nesta Quarta-feira, foi avisado pelos próprios profissionais. Entre uma ligação e outra, Samuca foi avisado do débito, e garantiu pagamento no próximo dia 23, e também confirmou o pagamento dos salários em dia. O gestor, no entanto, anda meio desinformado das suas obrigações. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Até agora Samuca só fez marketing pessoal e atacou o ex-prefeito



São apenas pouco mais de 15 dias de governo, mas o prefeito de Volta Redonda Samuca Silva vem confirmando a regra dos novos governantes eleitos, que abusam do marketing pessoal em tempos de anti-política, aliás, foi esse o tema de uma reportagem publicada no site da revista Exame, no ultimo dia 16, onde Samuca, inclusive, é citado. A matéria fala dos prefeitos eleitos que venceram desdenhando da política, posando como gestores. A maioria deles iniciou seus mandatos com ações demagógicas, que visam criar símbolos em torno de seu governo, do tipo tentar mostrar que são iguais a seus governados. “Os prefeitos estão buscando uma legitimidade típica de começo de mandato. Trata-se, claro, de uma legitimidade simbólica – que no universo político é muito importante. Ao se vestir de gari, por exemplo, o político quer passar a mensagem de que vai trabalhar duro pela cidade”, comentou na reportagem o cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), que ainda fez um alerta, para ele “isso não pode se tornar o fator principal dentro de uma administração. Não é se vestir de trabalhador que vai transformar alguém em um bom prefeito”,

Bicicletas, ônibus e caminhadas

A fim de reforçar sua imagem de campanha, Samuca convocou a imprensa para cobrir seu cotidiano. No primeiro dia de mandato, foi trabalhar de ônibus. Sua equipe tinha mais gente que o número de passageiros do coletivo. Depois, resolveu ir a pé, e recentemente, de bicicleta, sempre abusando das fotos, das selfies e dos vídeos. Parte da população o apoiou, mas a maioria parece ter olhado com desconfiança. O Jornal Aqui chegou a pedir em sua capa: “Sem demagogia, por favor!”.

Ataques ao ex-prefeito

Sem ter apresentado nenhuma pauta relevante de governo, Samuca tem apostado, além do marketing pessoal, nos ataques a seu antecessor, Antônio Francisco Neto. Em uma entrevista coletiva cheia de pompa, ele denunciou uma suposta dívida da prefeitura de mais de R$ 800 milhões de reais, um problema que seus adversários de campanha sempre denunciaram e ele minimizou. Disse que Neto só deixou R$ 21 milhões em caixa, e insinuou que a prefeitura não teria dinheiro sequer pra honrar os pagamentos em dia dos servidores públicos. O ex-prefeito respondeu que a divida está parcelada em 20 anos, e até agora, Samuca não respondeu se Neto estava ou não com a razão.
Passado alguns dias, o atual chefe do executivo voltou a sua artilharia, dessa vez criticando Neto por usar a porta dos fundos para entrar no Palácio 17 de Julho. Disse ele a já citada reportagem da Exame: “Sou a favor do olho no olho. Nos primeiros dias do meu mandato, fui trabalhar de ônibus e também fiz o percurso de casa até à prefeitura à pé. Eu entro pela porta da frente da prefeitura. O ex-prefeito entrava pela porta dos fundos.”. Neto respondeu: “Lamento ter lido isso, pois não é bem assim. A entrada citada pelo Samuca é que dá acesso facilitado ao elevador, usado pelas pessoas com necessidades especiais ou dificuldades de locomoção. Eu, Marcelo e tantas outras pessoas da prefeitura usam essa entrada. Jamais deixei ou deixarei de olhar os cidadãos nos olhos. Fui prefeito por quatro mandatos, três vezes deputado e assumi funções que dignificaram nossa cidade, como agora. Não é justo ler isso”.
Pelo jeito, até mesmo a tentativa de se vangloriar pelo marketing vem sendo feita de forma desastrada e bizarra. Seus assessores deveriam lhe aconselhar iniciar logo seu governo, até o marketing tem prazo de validade.





sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Apoiadora do prefeito de Barra Mansa chama professores de "prostitutas"




O prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable (PMDB), está disposto a fazer um governo sem participação da sociedade organizada. Em mais de 10 dias de governo, com os salários de Dezembro dos servidores do municipio atrasados, ele se recusa a dialogar com o SEPE (Sindicato Estadual dos profissionais de educação). Para isso, escolheu um jeito inusitado de se comunicar com a categoria dos professores. 



Através do facebook o chefe do executivo, que apoiou o deputado Eduardo Cunha (preso recentemente por corrupção), já gravou mais de uma dezena de vídeos, compartilhado e elogiado por seus apoiadores, a maioria deles com Cargos Comissionados na prefeitura. Aliás, as defesas em tom de bajulação que vem acontecendo na internet faz parte de uma estratégia do novo prefeito de engradecer sua figura pessoal e denegrir servidores que lutam por seus direitos. 



Apoiadora de Rodrigo Drable chama professores de "prostitutas"



Só que a bajulação ao prefeito parece estar saindo do controle. Nas redes sociais, um perfil identificado como Camilla Arruda fez o seguinte comentário "Prostitutas, apenas isso, se o prefeito chamar para acordo, sossegam o facho" enquanto outro usuário  usa o termo "baderneiros" para se referir a manifestantes que na manhã desta sexta-feira, 13, foram até a prefeitura cobrar salários atrasados. A manifestação foi uma ação conjunta entre profissionais da saúde e da educação. Nem o prefeito e nem nenhum dos representantes da prefeitura quis receber as categorias, que seguem sem os salários de Dezembro e sem qualquer informação. 







Para manifestantes, perfis que atacam servidores obedecem ordens do próprio prefeito Rodrigo Drable. 

Os coveiros da educação

Por Adelson Vidal Alves


Todo ano, no dia 15 de Outubro, professores de todo o país recebem homenagens, de alunos, dos pais de alunos e de autoridades políticas. Ouvimos frases do tipo “o professor é a base da sociedade”, “devemos valorizar nossos mestres” “educar é um ato de amor” e por ai vai. Só que, na prática, o apoio aos mestres para por ai. A sociedade ignora seus professores, não se soma a suas lutas, não participa das batalhas cotidianas por valorização profissional. Ao contrário, há entidades e pessoas que desqualificam nossas greves, nos chamam de vagabundos, afinal, estaríamos todos chorando de barriga cheia.

Os governos, historicamente, não valorizam a educação. Temem o efeito libertário que ela pode ter. O Ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou essa semana o aumento do piso salarial nacional dos professores para R$ 2,298,80 a cada 40h semanais trabalhadas. Já no ano passado, o Relatório de Observação sobre as Desigualdades na Escolarização do Brasil produzido por um comitê técnico do Conselho de Desenvolvimento de Econômico e Social (Cdes) da Presidência da República, já apontava que os docentes com nível superior recebem a metade do que ganham outros profissionais com mesma graduação. E a coisa é ainda pior. Segundo o próprio governo federal, apenas 46% dos estados pagaram o piso no ano de 2016.

Mas não são apenas governos e a sociedade que não se preocupam com a educação no Brasil, os professores também têm culpa. A maior parte desses profissionais ganha salários baixíssimos, mas conseguem completar suas rendas com outros trabalhos. Trabalham em dois ou três empregos, com uma jornada de trabalho  que pode chegar a 15hs por dia, algo próximo do que era nos primeiros anos da revolução industrial. Mas tamanho esforço lhes rende uma vida econômica razoável, que mexe diretamente nas suas consciências. A luta da categoria que deveria ser por trabalhar menos com melhores remunerações é substituída pela obsessão de ter uma nova matrícula. Trabalhar mais para manter o status de classe média.

Professores só se mobilizam quando o salário atrasa, quando algum direito econômico seu é ameaçado. É um economicismo egoísta que não deveria combinar com o posto de educadores que ocupam. Há aqueles, inclusive, que boicotam greves, bajulam superiores a fim de obter benefícios. A realidade é dura. O aumento vem, o carro é trocado, e tudo fica numa boa.


Exercer a função docente é estressante, cansativa, a se julgar pelas condições das salas de aula que a nós hoje é oferecida. Os professores que se matam em jornadas de trabalho quase compulsórias, logo vão ficar doentes, contrair algum esgotamento mental, até encostarem e aposentarem por invalidez. Uma trajetória de penúria com um fim desalentador. Mas o sentimento imediatista e economicista cega os professores para as principais pautas que deveriam nortear nossa luta como classe. Cegos, sem consciência e olhando apenas para a conta bancária, encharcada pelo sangue e suor docente, se conformam com as migalhas. Eis aqui um dos pontos que nos ajudam a explicar tanto descaso dos governos com a educação e seus educadores. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Arquiteta integrante do PV critica projeto discutido no governo Samuca



A arquiteta Aida Cardoso, integrante do Partido Verde, usou seu perfil no facebook para criticar o projeto "Arco da centralidade" que está sendo discutido pelo prefeito de Volta Redonda Samuca Silva, do mesmo partido de Aida. Confira o que ela escreveu:


[ ARCO DA CENTRALIDADE ] - Um termo incluído no Plano Diretor de 2008 para CONECTAR os 3 centros (Vila, Retiro e o novo Aero - área privada da CSN lembrem-se). 
Que o Plano Diretor foi debatido minimamente com a sociedade, sabemos, mas NÃO TEVE seu processo concluído devido a ausência de finalização dos trâmites legais na Câmara.
Mesmo assim, incompleto e irregular foi o Plano usado na gestão Neto para se definir algumas OBRAS de INTERESSE ao deslocamento de automóveis. O problema é que estas obras foram definidas em gabinete, à portas fechadas e com a presença de sabe-se lá QUEM ou com QUAL INTERESSE. Em nenhum momento no Plano Diretor existe a citação que estas obras seriam ESPECIFICAMENTE A VONTADE DA POPULAÇÃO, pois de FATO NÃO É!
Com base nisto, o MPF em 2014 entrou com uma ação para impedir a licitação das Obras se baseando exatamente no fato mais importante: ausência de participação POPULAR no gasto de VERBA FEDERAL para a o discurso de "melhoria da mobilidade da cidade". O mais interessante é que o Ministério das Cidades, que não possui pessoal o suficiente para fiscalizar os projetos, liberou inicialmente o EMPRÉSTIMO com base em ANTE PROJETOS e maquetes eletrônicas, assim como planilhas de valores previstos aos quais tive acesso. Todo este material compôs o processo do MPF e alerto que a planilha:
* Prevê um Corredor BRS de 15km, que foi feito parcialmente na Vila e um trecho até a Gustavo Lira por 15 Milhões de reais, ou seja, 1 Milhão por km para ser gastar com tinta azul e branca no chão. Este custo é de um VLT pelo menos - diga-se de passagem.
* Estão previstas 23 estações (tipo TUBO de pré embarque - modelo Curitiba) ao longo do corredor BRS, mas não existe projeto destas estações MUITO MENOS COMO elas serão implantadas nas ruas com calçadas estreitas como Sávio Gama (um dos trechos do corredor)
* Está previsto também a requalificação de 3,6 km2 de calçadas, ou seja, uma fração irrisória para o pedestre. Detalhe, no bairro Aterrado, aonde nas principais avenidas já são bem largas e estão em bom estado de conservação.
* 18 km de ciclovias também estão previstas com um orçamento de 4 milhões, ou seja, o que deveria ser PRIORIDADE no projeto de Mobilidade Urbana possui menos de 1% do valor do empréstimo. Sem falar que as rotas são desconexas, são projetos sobrepostos de obras já realizadas e quem não atendem a real necessidade dos ciclistas. Afinal, necessitamos de pelo menos 110km.
* E pra fechar a planilha pelo menos 33 Milhões de reias serão dedicados exclusivamente às obras dos 3 viadutos e 1 ponte, QUE PASMEM.... NÃO ATENDERÁ O TRANSPORTE COLETIVO... Apenas automóveis e veículos de carga irão se beneficiar destas obras se elas forem executadas como previsto.
CONCLUSÃO: Calçadas - não atendem !?!? Ciclovias - não atendem !?!?! Transporte coletivo - de acordo com a planilha terá uma diminuição de 3 min no tempo de espera (um lucro fenomenal diga-se de passagem rs), mas não terá seus trajetos modificados... OU SEJA...
*** A GRANDE DESPESA DE 33 Milhões de reais minimamente serão usados APENAS POR CARROS E CAMINHÕES ***
Já a população que necessita do transporte em massa, boas calçadas e ciclovias por toda a cidade inclusive para acesso dos cadeirantes... haaaaaaaa.... ISTO É SÓ UM D.E.T.A.L.H.E!
Sou totalmente contra um investimento do MEU IMPOSTO neste tipo de Obra. Neste tipo de RETROCESSO URBANO.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

As lições de Bauman

Por Adelson Vidal Alves



Morreu nesta segunda-feira, 9, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Autor de várias obras em vários campos, o escritor se destacou por um conceito particular, que norteou a maior parte do seu trabalho: o de modernidade liquida.

Em linhas gerais, o termo descreve uma modernidade no qual nada é duradouro. Ao contrário, os tempos atuais seriam de vida curta em valores, comportamentos e também relacionamentos amorosos. Tudo seguiria uma lógica de descarte, que vai de um celular, trocado quando já não detém as melhores tecnologias, até às pessoas.

Isso mesmo! Em seu livro “Amor líquido”, Bauman discorre sobre as relações amorosas instáveis, atingidas pela liquidez moderna onde o “pra sempre” não está na moda. Os casamentos “até que a morte o separe” praticamente estariam em extinção. As pessoas seriam trocadas como se troca um modelo de automóvel. Amar passaria pela lógica de consumo, que sempre descarta rápido, afinal, nada dura, nem o sentimento em que a maior parte dos filósofos e romancistas tanto se debruçou nesses séculos todos.

Bauman não chegou a ser um pensador que inovava em seus escritos. Ele preferiu estender seu conceito de liquidez moderna para vários campos da vida social. Falou sobre cultura, moda, educação, medo, privacidade, sempre partindo de sua convicção de que o mundo atual é movido por um descarte permanente, inserido numa realidade altamente consumista.

Para Bauman, vivemos em torno do consumo. Não consumir é o inferno. A felicidade passa sempre por consumir, e consumir cada vez mais. Se em outros tempos o sonho de todos era construir uma poupança para o futuro, hoje antecipamos o futuro, através de crediários e cartão de crédito. Nem pensar em usar um celular sem as tecnologias mais atuais, vale criar um volume enorme de lixo utilizável em nome da vaidade do consumo.

A sociedade dos cosumidores transformou tudo em mercadoria. O que dizer das redes sociais? Frequentamo-las, de alguma forma, pra vender. Não falo apenas de coisas, mas de pessoas. É a reificação ao extremo. O corpo sarado, a profissão, o conhecimento, tudo isso viram fatores que nos valorizam como mercadoria. O objetivo é ser vendável na sociedade de consumidores. Quando alguém não nos interessa, basta um off-line.

Se Zygmunt Bauman não descobriu a roda, foi capaz de sistematizar conceitos que nos fazem entender um pouco melhor esse mundo onde tudo se move por uma lógica mercadológica, capaz de engolir padrões que até então eram sólidos e faziam a vivência social mais estável.

As lições de Bauman não são as mais otimistas, mas são capazes de nos revelar a crueldade de um mundo preso em seu egoísmo, medo e vaidade. Ele nos explicou o mundo, cabe agora, transformá-lo. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Marina, REDE e os oportunistas de sempre

Por Adelson Vidal Alves



As manifestações de Junho de 2013 deixaram um recado: ou a política muda ou cai em total descrédito. O povo nas ruas cobrava das instituições e partidos políticos a renovação. Muitas foram as tentativas de respostas, a própria presidente Dilma apresentou medidas que visavam acalmar os ânimos populares, e no campo partidário, uma série de movimentos  ousaram em sonhar com um partido político de novo tipo. Entre essas iniciativas estava a construção da hoje REDE Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva.

A REDE funciona sob uma perspectiva democratizante. Suas decisões devem ser tomadas por consenso. A verticalização presidencialista dos partidos tradicionais é substituída por um paradigma horizontalizado, que dispensa presidente, figura trocada por porta vozes masculino e feminino. Apesar de todo este esforço, a REDE fracassou em sua primeira eleição. Isso quando sua figura maior, Marina Silva, aparece como favorita nas pesquisas presidenciais.

Não só a derrota nas urnas, a REDE sofre com fissuras e disputas internas fratricidas, que expõe o fato de que o partido não conseguiu imunidade contra os oportunistas. Brasil a fora, a REDE é dirigida pela velha política ou por caciques que ditam as regras autoritariamente, como o deputado Alessandro Molon no Rio de Janeiro, o petismo em pessoa infiltrado no partido.

Tudo isso atinge Marina, que corre o risco de ter no seu próprio partido sua maior fragilidade. Se a REDE não conseguiu emplacar grandes vitórias eleitorais, sinal que sua mensagem não chegou ao povo. Talvez pior, o partido e Marina parecem não ter uma mensagem de fato, com a diferença que Marina acumula, pelo seu carisma e história, um patrimônio de votos considerável.

Com o exemplo de 2014, Marina vai precisar ter um rosto em sua candidatura, para que se consolide como alternativa. Até agora ela e seu partido seguem sem um rosto, sem orientação ideológica coerente, sem projeto de país. Quem nunca se perguntou: Marina é de esquerda ou de direita? É socialista ou liberal? Apoia ou não apoia as bandeiras LGBT? Ou se resolve e faz disso um programa político ou correrá o risco de ser desintegrada quando o debate político das eleições começar de fato.