segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

As lições de Bauman

Por Adelson Vidal Alves



Morreu nesta segunda-feira, 9, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Autor de várias obras em vários campos, o escritor se destacou por um conceito particular, que norteou a maior parte do seu trabalho: o de modernidade liquida.

Em linhas gerais, o termo descreve uma modernidade no qual nada é duradouro. Ao contrário, os tempos atuais seriam de vida curta em valores, comportamentos e também relacionamentos amorosos. Tudo seguiria uma lógica de descarte, que vai de um celular, trocado quando já não detém as melhores tecnologias, até às pessoas.

Isso mesmo! Em seu livro “Amor líquido”, Bauman discorre sobre as relações amorosas instáveis, atingidas pela liquidez moderna onde o “pra sempre” não está na moda. Os casamentos “até que a morte o separe” praticamente estariam em extinção. As pessoas seriam trocadas como se troca um modelo de automóvel. Amar passaria pela lógica de consumo, que sempre descarta rápido, afinal, nada dura, nem o sentimento em que a maior parte dos filósofos e romancistas tanto se debruçou nesses séculos todos.

Bauman não chegou a ser um pensador que inovava em seus escritos. Ele preferiu estender seu conceito de liquidez moderna para vários campos da vida social. Falou sobre cultura, moda, educação, medo, privacidade, sempre partindo de sua convicção de que o mundo atual é movido por um descarte permanente, inserido numa realidade altamente consumista.

Para Bauman, vivemos em torno do consumo. Não consumir é o inferno. A felicidade passa sempre por consumir, e consumir cada vez mais. Se em outros tempos o sonho de todos era construir uma poupança para o futuro, hoje antecipamos o futuro, através de crediários e cartão de crédito. Nem pensar em usar um celular sem as tecnologias mais atuais, vale criar um volume enorme de lixo utilizável em nome da vaidade do consumo.

A sociedade dos cosumidores transformou tudo em mercadoria. O que dizer das redes sociais? Frequentamo-las, de alguma forma, pra vender. Não falo apenas de coisas, mas de pessoas. É a reificação ao extremo. O corpo sarado, a profissão, o conhecimento, tudo isso viram fatores que nos valorizam como mercadoria. O objetivo é ser vendável na sociedade de consumidores. Quando alguém não nos interessa, basta um off-line.

Se Zygmunt Bauman não descobriu a roda, foi capaz de sistematizar conceitos que nos fazem entender um pouco melhor esse mundo onde tudo se move por uma lógica mercadológica, capaz de engolir padrões que até então eram sólidos e faziam a vivência social mais estável.

As lições de Bauman não são as mais otimistas, mas são capazes de nos revelar a crueldade de um mundo preso em seu egoísmo, medo e vaidade. Ele nos explicou o mundo, cabe agora, transformá-lo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário