Por Adelson Vidal Alves
Morreu nesta segunda-feira, 9,
o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Autor de várias obras em vários campos, o
escritor se destacou por um conceito particular, que norteou a maior parte do
seu trabalho: o de modernidade liquida.
Em linhas gerais, o termo
descreve uma modernidade no qual nada é duradouro. Ao
contrário, os tempos atuais seriam de vida curta em valores, comportamentos e
também relacionamentos amorosos. Tudo seguiria uma lógica de descarte, que vai
de um celular, trocado quando já não detém as melhores tecnologias, até às
pessoas.
Isso mesmo! Em seu livro “Amor
líquido”, Bauman discorre sobre as relações amorosas instáveis, atingidas pela
liquidez moderna onde o “pra sempre” não está na moda. Os casamentos “até que a
morte o separe” praticamente estariam em extinção. As pessoas seriam trocadas
como se troca um modelo de automóvel. Amar passaria pela lógica de consumo, que
sempre descarta rápido, afinal, nada dura, nem o sentimento em que a maior
parte dos filósofos e romancistas tanto se debruçou nesses séculos todos.
Bauman não chegou a ser um
pensador que inovava em seus escritos. Ele preferiu estender seu conceito de
liquidez moderna para vários campos da vida social. Falou sobre cultura, moda, educação,
medo, privacidade, sempre partindo de sua convicção de que o mundo atual é movido
por um descarte permanente, inserido numa realidade altamente consumista.
Para Bauman, vivemos em torno
do consumo. Não consumir é o inferno. A felicidade passa sempre por consumir, e
consumir cada vez mais. Se em outros tempos o sonho de todos era construir uma
poupança para o futuro, hoje antecipamos o futuro, através de crediários e
cartão de crédito. Nem pensar em usar um celular sem as tecnologias mais
atuais, vale criar um volume enorme de lixo utilizável em nome da vaidade do
consumo.
A sociedade dos cosumidores
transformou tudo em mercadoria. O que dizer das redes sociais? Frequentamo-las,
de alguma forma, pra vender. Não falo apenas de coisas, mas de pessoas. É a
reificação ao extremo. O corpo sarado, a profissão, o conhecimento, tudo isso
viram fatores que nos valorizam como mercadoria. O objetivo é ser vendável na
sociedade de consumidores. Quando alguém não nos interessa, basta um off-line.
Se Zygmunt Bauman não descobriu
a roda, foi capaz de sistematizar conceitos que nos fazem entender um pouco
melhor esse mundo onde tudo se move por uma lógica mercadológica, capaz de
engolir padrões que até então eram sólidos e faziam a vivência social mais
estável.
As lições de Bauman não são as
mais otimistas, mas são capazes de nos revelar a crueldade de um mundo preso em
seu egoísmo, medo e vaidade. Ele nos explicou o mundo, cabe agora,
transformá-lo.
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