segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Criacionismo? Design Inteligente? Isso não é ciência

Por Adelson Vidal Alves



O mundo tem pouco mais de 6000 anos, os fósseis são vestígios de espécies extintas no diluvio universal, o homem foi criado exatamente como ele é, não sofreu qualquer evolução. Eis o que defende o criacionismo. Tese bíblica para explicar a origem do mundo e da humanidade. Absurdo? Não. Desde que ela fique dentro das igrejas, pregada como uma hipótese teológica, baseada exclusivamente na fé.

No entanto, ainda hoje vemos cientistas de boa formação acadêmica que defendem o criacionismo como ciência, e pior, que deve ser ensinado nas escolas como alternativa ao evolucionismo. Os alunos deveriam aprender a teoria da criação e da evolução, e escolher entre as duas em qual acreditar. Parece democrático, mas é na verdade uma distorção bizarra do sentido escolar e científico.

É simples: o método cientifico se caracteriza pelo experimento. Ao se investigar um objeto, colhem-se fontes, elaboram-se hipóteses e testam-se todas elas, por várias vezes, até que se chegue a uma conclusão segura. O criacionismo faz caminho inverso. Ele parte de uma conclusão, a de que Deus criou o mundo exatamente como narram os textos bíblicos. Os fósseis, os testes genéticos, os cálculos da física são todos manipulados para provar a verdade pré-estabelecida. Isso não é ciência.

A ciência evolucionista não tem todas as respostas sobre todo o processo que gerou o cosmos e a vida no nosso planeta. Que bom que não tenha, isso mostra que é uma ciência séria. Mas ao contrário do criacionismo, a teoria fundada por Darwin goza de fontes abundantes nos fósseis, na observação do mundo natural, nos testes genéticos, e por ai vai. Que evoluímos é um fato. Os detalhes ainda estão para serem descobertos. Como colocar uma ciência rigorosa ao lado de um sistema de pensamento mítico, como se os dois tivessem validade científica?

Todavia, os criacionistas evoluíram neste debate (ironia, não?). Desacreditados pela academia, eles resolveram dar um rosto não tão escancaradamente religioso a sua teoria. Falam agora de “design inteligente”, uma moda forte nos EUA. Os novos criacionistas preferem organizar sua “ciência” para comprovar que o mundo que temos atualmente comprova ordem, harmonia, e estética dignas de um criador inteligente. Tanta beleza poderia vir do acaso? Não seria uma hipótese razoável admitir uma força organizadora ao invés de atribuir a complexidade da vida a um acidente cósmico e mutações casuais? Perguntam eles. 

Bem, o cientista pode acreditar que há uma força que organizou o universo que ele estuda, mas não pode, jamais, incluí-la em suas hipóteses, pela simples razão que não terá como prova-la. Os cientistas do design inteligente querem um Deus criador para poder sustentar reflexões sobre um mundo vigiado por um ser superior. A ciência não precisa disso. Ela deve investigar as coisas como aconteceram, e não por qual sentido aconteceram. Isso é coisa pra filosofia e para a teologia.

Além do mais, a ideia de um cosmos em ordem, simétrico, belo e interligado não é consenso científico. Grandes cientistas como Albert Einstein e Stephen Hawking creram ou creem em uma “teoria do tudo”, uma espécie de código natural da física que explicaria por completo tudo que existe. Há quem discorde, como o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Em seu livro “a criação imperfeita” ele tenta demonstrar que o mundo natural que vivemos testemunha assimetria, caos e desordem, e que a vida que conhecemos só foi possível graças a erros no funcionamento natural das coisas. Se não há a interligação defendida por cientistas unificadores e místicos, jamais encontraremos uma teoria final.

Mas este é um debate científico, o criacionismo e o design inteligente nada ajudam Ao contrário, deveríamos, de uma vez por todas, entender que a fé tem seu lugar no mundo, até pra explicar de forma simplista o que é complexo, desde que fique longe dos laboratórios e das aulas de ciências.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Qual o sentido da vida?

Por Adelson Vidal Alves



Como todos sabem, sou materialista. O materialismo, de origem grega, é o pensamento que reduz a vida, a sociedade, os planetas e os seres humanos num simples aglomerado de átomos. Nesta perspectiva, a morte é tão somente a interrupção da consciência, a entrada no silêncio eterno e no vazio. Tudo isso é bem diferente da metafísica. Esta, como sugere a etimologia, crê num mundo além da matéria. A religião (parte da metafísica) geralmente crê num Deus que criou o mundo, que tem inteligência suprema e um plano para todos nós. Materialistas pensam a vida como um simples acidente cósmico, os religiosos, um cálculo ordeiro de uma inteligência celestial.

Ser materialista não é fácil. É dose saber de nossa finitude, que não temos nenhuma força superior para recorrer quando a morte se aproxima, quando perdemos o emprego, contraímos uma doença grave. E depois de tudo isso, nem um céu pra nos confortar no além-túmulo nós temos. A maioria das pessoas religiosas prefere não fazer grandes questionamentos sobre o sentido da vida. Ele está na mão de uma energia cósmica que promete no futuro coisa melhor que esse mundo furreca nos oferece.

Sim, porque nem mesmo os cristãos consideram nossa vivência um paraíso, ele ficou no Éden, e pelo vacilo de Eva, estamos aqui quebrando a cara. Pessimistas e religiosos sabem que o mundo oferta desespero, medo, tormento, angústia e tristeza, o tempo todo. Não a toa, Franscisco de Assis coloca em sua oração que a morte não é um desastre, é a abertura do portão para um mundo plenamente feliz. E quem aqui nunca disse a um ente querido que morreu: “descanse em paz”. Descansar do que? Da felicidade e dos prazeres? Não. Da dor que é a existência humana.

Dito tudo isso, materialistas e cristãos se rivalizam quanto ao fato de encontrar o sentido da vida. Materialistas sabem que ela é fruto de um acaso, não há ordem ou direção. Vivemos, morremos e pronto. Os religiosos vão falar em karmas, paraísos celestiais, missões divinas etc. Estes estão resolvidos.

Os materialistas, contudo, também precisam de algum sentido, senão estariam em hospícios ou pendurados numa forca de suicídio. Pensa-se nos prazeres, nos amigos, nas causas humanitárias, nas ideologias utópicas, no amor, no sonho de deixar um filho. Para quem não espera nada do outro lado, aqui passa a ser o céu e o inferno.

O materialismo é um ato corajoso e conformista. Nos dá a missão de encarar a pior das possibilidades humanas: não há Deus e nem uma vida futura perfeita. A postura de aceitar a finitude humana é conformação, mas também a coragem de viver com suas forças, e não jogar para nenhum deus o que a natureza caótica nos condenou como espécie.


domingo, 18 de dezembro de 2016

O estranho comportamento de Sérgio Boechat, o “Guru” de Samuca

Por Adelson Vidal Alves




O advogado Sérgio Boechat fará parte de uma espécie de “conselho de gurus” que irão orientar o prefeito eleito de Volta Redonda Samuca Silva. Ele usou sua página na internet para responder um texto meu, publicado aqui nesse mesmo blog no dia 16 de Dezembro 2016 ( Clique para ler Samuca não serve nem para populista fajuto). A reação me espantou, até porque, Boechat assinou comigo um artigo intitulado "Nosso voto em Baltazar" onde apoiávamos o então candidato Paulo Cezar Baltazar no segundo turno das eleições municipais. No artigo, compartilhamos preocupações com uma possível eleição de Samuca. Abaixo cito trechos do nosso texto:


"O momento é de crise, com perda relativa de receitas, agravada pelo “rombo orçamentário (..,) vai exigir do Chefe do Poder Executivo um conhecimento profundo de Administração Pública. Não é tarefa para amadores, para quem conhece pouco a Volta Redonda de hoje, para quem não está acostumado a fazer composições políticas, preferindo se esconder em discursos de isolamento que não combinam com a complexidade da política democrática. Não podemos, também, arriscar a cidade entregando-a a quem não tem experiência em gestão pública".

"(...)temos pouco conhecimento sobre o outro candidato e por responsabilidade para com nossa cidade, optamos por não arriscar, não dar chance para aventuras perigosas que podem comprometer a vida de nossa cidade.  A experiência de Samuca como gestor público não consta do seu currículo, exercer o cargo de Controlador não dá a ninguém credencial para administrar uma prefeitura com um orçamento de 01 bilhão de reais. Teoria apenas não resolve".  


Parece que B0echat mudou e muito de opinião, nesse caso, seria importante que publicasse em seu blog uma nota rejeitando tudo que escreveu comigo naquele artigo. Além do que, seu comportamento estranho vem junto com o fato que será nomeado assessor especial de uma pessoa em que jamais votou, talvez seja o único entre os tantos cargos comissionados que Samuca escolheu. Mas vamos ao que ele escreveu.

Ele inicia sua defesa do prefeito eleito dizendo que desconheço pesquisas recentes. Ora, o que isso tem a ver com o que escrevi?  No meu artigo trato do perfil de Samuca e de algumas hipóteses sobre sua surpreendente eleição. Boechat nega que Samuca tenha feito propostas tecnicistas e neoliberais. Ele fez e muito isso: Quando defendeu o enxugamento do Estado, sinalizou para as diretrizes do livre mercado, quando se cercou de empresários e quando tagarelou a lorota de que o problema dos governos é tão somente a falta de um gestor. Samuca não é um liberal consciente, provavelmente jamais leu John Locke, Adam Smith ou David Ricardo. No entanto, o liberalismo aparece em sua visão de sociedade.

O “guru” de Samuca também fala que a vitória do novo prefeito se deu em cima de um projeto e de uma boa comunicação com o povo. Conversa fiada. O candidato do PV renegou as diretrizes programáticas do seu partido, não tocou, ou tocou pouco, nos temas obrigatórios a sua filiação verde, sobretudo o ambientalismo e o desenvolvimento sustentável. De olho nos votos conservadores, foi contra o que defende o Partido Verde no que toca ao aborto e a legalização da maconha. Resumiu-se apenas em falar que era o “novo” e “gestor”. Isso lá é projeto?

Boechat exagera quando exalta as qualidades de comunicador do candidato. Quem acompanhou a campanha eleitoral viu que Samuca não tinha domínio nem mesmo de seus apoiadores mais aloprados, que produziram charges debochando de adversários. Quando fugia dos debates alegando outros compromissos, o ingênuo candidato transmitia ao vivo pela internet reuniões que fazia em seu comitê no mesmo horário em que poderia estar debatendo com seu adversário. Nas redes sociais, ao contrário do que diz Boechat, Samuca foi atrapalhado, lhe faltando até mesmo a criatividade para um jeagle, chegando ao absurdo de plagiar a campanha do candidato a prefeito de São Paulo em 2012 Fernando Haddad. O restante da nota de Boechat é pura bajulação.

O estranho comportamento do futuro assessor de Samuca parece ser explicado pela constatação óbvia de que será esse seu papel no futuro governo: o de blindar Samuca. Nada contra, mas não deixa de ser uma grande ironia, haja vista que ele passou parte de sua vida de oposição ao prefeito Neto atacando quem o defendia.


Boechat costumava divulgar em seu blog os nomes dos cargos comissionados de Neto. Fará isso com o governo Samuca? Se fizer, terá que divulgar seu próprio nome. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Samuca não serve nem para populista fajuto

Por Adelson Vidal Alves



O termo populismo é um dos mais debatidos na sociologia e na historiografia. Em geral, faz referência a governos que dão as costas a partidos políticos e ao parlamento. Tem um líder carismático que utiliza comunicação direta com o povo, sempre usando de discursos impactantes, como o que trata os mais pobres como “descamisados”. O populismo é um fenômeno abundante na história da América Latina. No Brasil, teve inicio com Getúlio Vargas e foi até o governo de João Goulart, o Jango. Na Argentina, um exemplo claro de populismo é o peronismo.

Mas há quem diga que ele chegou a Volta Redonda, a partir do “fenômeno Samuca”. Claro que tal conceituação é um exagero. O prefeito eleito da cidade do aço não tem carisma, a comunicação com o povo é precária, sua oratória é fraca, está mais próximo desta moda que exalta a gestão contra a política, demonizada como o mal generalizado. O populista, de alguma forma, faz política.

Nesta semana, a câmara de vereadores aprovou a diminuição do poder de remanejamento do prefeito para 7%, um golpe na governabilidade. Muitos de seus seguidores defenderam que Samuca convoque o povo para ir às ruas contra o parlamento. Mas ele não fará tal convocação. Não tem base social, não contaminou a população a ponto de fabricar um “samuquismo”. Enfrentar os vereadores sem base social sólida seria um dos seus maiores equívocos.


Devemos ter claro que Samuca não venceu com um programa político de cidade. Mesclou (provavelmente de forma inconsciente) propostas tecnicistas e neoliberais, apresentando-se de forma messiânica. Samuca não serve nem para um populista fajuto. Sua até então improvável vitória se deu sob um vácuo político provocado pela crise da política tradicional. Ele foi empurrado para o Palácio de 17 Julho como uma forma de grito desesperado pelo novo. O próprio Samuca demorou a entender estes fatos, reagiu assustado, ganhou muito mais por conta desta onda do que por méritos próprios. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Por que estou deixando a REDE Sustentabilidade

Por Adelson Vidal Alves



No ano de 2013 me juntei a um grupo de pessoas para recolher assinaturas na fundação de um novo partido: a REDE Sustentabilidade. A nova legenda nascia em torno da ex-senadora Marina Silva. As eleições de 2014 interromperam esse processo, já que a REDE não conseguiu registro no TSE a tempo de disputar as eleições presidenciais. Marina acabou se abrigando temporariamente no PSB.

Em 2015 o partido é reconhecido pela Justiça eleitoral. Eu e meus companheiros do grupo de assinaturas nos reunimos para tentar organizar o partido na cidade de Volta Redonda. Fomos aconselhados a procurar os grupos que também tinham interesse em construir a REDE. Os interessados aceitaram trabalhar na formação de uma direção provisória plural, sendo orientados diretamente pelo diretório estadual. A poucos dias do final do prazo de filiação para a disputa do pleito municipal formamos nossa executiva, onde fui escolhido porta voz (presidente na linguagem jurídica do TSE). Nossa direção provisória resistiu a uma investida oportunista de pessoas que tentaram assaltar o partido para fim de interesses pessoais, saímos inteiros e obtivemos relativo sucesso com nosso único candidato a vereador. Tudo isso, no entanto, foi extremamente desgastante, me fazendo conhecer desilusões e desalentos frente a realidade do partido, a quem hoje comunico meu desligamento. As razões são de ordem pessoal e política.

De inicio admito o quanto é trabalhoso formar um partido, ainda mais com a proposta que a REDE tinha. O movimento foi aberto, acolheu variados setores da sociedade, a ideia era ser plural. Com o tempo, percebi que esse pluralismo virou sinônimo de falta de identidade, já que nunca nos posicionamos no espectro ideológico, nunca nos afirmamos como centro, esquerda ou direita, a REDE quer abraçar o mundo, de certa forma, adotando o discurso pós-moderno que proclama o fim das grandes narrativas ideológicas. O partido não é social-democrata, liberal , comunista, ou é tudo ao mesmo tempo. No centro, o discurso comum da sustentabilidade e da nova política, essa última que jamais foi devidamente conceituada, apenas de forma genérica. Convivi ao lado de neopentecostais homofóbicos, anti-comunistas, ultraliberais, gente de direita mesmo, aceita naturalmente pelo partido.

Com mais de um ano de existência, a organização partidária é precária. A disputa política é fratricida. No estado do Rio, no momento atual, assistimos a uma luta interna que mal conhecemos suas dimensões. O interior do estado sofre. As informações não chegavam a nós, mal conseguíamos nos comunicar com nossos dirigentes. A realidade interna do partido corre sem nossa ciência. Nosso deputado Molon vem a Volta Redonda fazer uma palestra, sequer uma ligação recebemos. Passei pelo constrangimento de saber do evento por um de nossos adversários políticos. Em tempos de redes sociais e comunicação rápida, nada explica tal situação, a não ser o descaso.

A REDE segue sendo uma alternativa, do qual sigo confiando que influenciará positivamente a democracia brasileira. Para isso, terá que criar um rosto, apresentar um programa coeso, equalizar suas diferenças e botar pra fora os corpos estranhos que frequentam o partido. Não há nenhum sinal de reforma significativa nesse sentido. Ao contrário, sequer conseguimos agir unificados pelo impeachment, o próprio deputado Molon nos chamou de golpistas.

Marina Silva, essa grande mulher, é o sol no qual os militantes da REDE giram em torno, virou uma santa intocável. Menos por culpa dela, mais pela passividade dos filiados. A grande maioria deles pessoas honestas e sinceras que verdadeiramente se preocupam com um mundo melhor.

Não vou ficar para ajudar nessa mudança que tantos precisamos. Falta-me força, tempo e empolgação. Seguirei, provavelmente, como um torcedor pelas transformações partidárias, mas não doarei mais meu tempo às instâncias de direção. Saio desejando sorte aos guerreiros e guerreiras que ficam e seguem acreditando no potencial do partido. Eu, aqui, despeço-me dos meus companheiros. Força a todos e muita Coragem.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Meus alunos estão lendo Olavo e votando em Bolsonaro. O que deu errado?

Por Adelson Vidal Alves



“Professor, você conhece este filósofo?”, perguntou-me um de meus alunos, com um livro de Olavo de Carvalho na mão. Feliz, propôs a conversar comigo sobre sua descoberta, o livro era “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. A principio, fiquei preocupado, mas ele estava lendo, e isso anda raro em nossos jovens, eu deveria incentivá-lo. Ele segue em seu entusiasmo: “O senhor sabia que Obama não é americano, que o papa é comunista e que a Pepsi usa fetos abortados em seus refrigerantes?" Suas colocações sempre giravam em torno das várias posições polêmicas do “filósofo Olavo”.

Meu aluno não é uma exceção. Olavo de Carvalho tem chegado com relativo sucesso às mentes dos nossos alunos, sobretudo, os de classe média em escolas particulares. De alguma forma, ele tem sido bem mais atraente que os pensadores clássicos. Nossa juventude desconhece Marx, Weber, Foucaut, Sartre... mas conhece Olavo e vota em Bolsonaro. Sim! Essa é a segunda parte da minha preocupação.

Assim como o filósofo sem graduação em filosofia, Bolsonaro vem crescendo entre os nossos jovens. “Bandido bom é bandido morto” “A ditadura militar não dava mole para bandido e terrorista” “virou gay por falta de porrada”. Essas são as frases que vem encantando parte de uma geração. Os admiradores do “Bolsomito” (como Bolsonaro vem sendo conhecido) ainda ostentam que contra o deputado não há denúncia de corrupção. O cara é honesto! Dizem orgulhosos. Resta saber, onde erramos para que a então parte rebelde da sociedade se curve a aberrações como Olavo e Bolsonaro, versões toscas do pensamento reacionário.

Não há uma única resposta. Mas me parece claro que o discurso esquerdista do movimento estudantil soa pedante, chato, repetitivo e distante. Como certa vez escreveu Luiz Felipe Pondé, serve pra comer menininha universitária, mas não para provocar as massas. Mais-valia, imperialismo, neoliberalismo são coisas que não interessam a juventude de hoje, consumista e imediatista. Também os professores marxistas erram feio. Não basta falar que quem vota em Bolsonaro é alienado, “coxinha” e ignorante. Isso é simplismo. São tão arrogantes que não reconhecem que estão fracassando como intelectuais, na pedagogia de construir hegemonia para a esquerda, fomentando a crítica.


As consequências desses fenômenos são graves, pois a extrema-direita avança, o irracionalismo vira sinônimo de eficiência, o debate crítico desaparece. Tudo isso enquanto a mesma direita faz uma denúncia verdadeira: o marxismo domina as universidades. Mas o que eles não sabem é que o marxismo fica do muro pra dentro. Nas escolas e na vida, a “doutrinação marxista” fracassou. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

BOMBA: Samuca ignora direção do PV em seu governo e cria racha



O Partido Verde de Volta Redonda emitiu nota onde afirma que sua executiva não foi contemplada na composição do secretariado do prefeito eleito Samuca Silva, do próprio PV. O texto inicia com um “Viva!” ao novo governo, mas passa a imagem de que Samuca nomeou sua equipe sem consultar a direção do partido. Fato confirmado na publicação de Aida Cardoso no seu perfil pessoal na rede social facebook. Aida faz parte da direção executiva do PV. “Exatamente isto! As escolhas não foram influenciadas ou sugeridas pela executiva do Partido...que defende a Política Pública do Partido Verde. Entrou 3 filiados do partido no alto escalão, mas a Executiva NÃO PARTICIPOU de diálogo NENHUM”, escreveu Aida, que segue nos seus comentários: “2018 escolheremos Deputados para defender as pautas TÃO POLÊMICAS que foram debatidas em campanha....eu pelo menos vejo como FUNDAMENTAL a atuação do governo de VR para a escolha de 2018. Agora é aguardar!”. Devemos lembrar que em artigo publicado por este blog em 12 de Outubro já se anunciava a traição do novo prefeito. Quem quiser ler o artigo é só acessar:

http://blogdoadelson.blogspot.com.br/2016/10/afinal-quem-e-samuca-de-verdade.html


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Organizar a oposição democrática a Samuca

Por Adelson Vidal Alves



O título deste artigo de inicio pode assustar. Afinal, porque pensar em oposição sendo que o prefeito sequer tomou posse ainda? No entanto, a política é um jogo dinâmico, e a dialética oposição x governo não se dá, necessariamente, a partir de ações concretas da governança, ela pode começar já no inicio do jogo, quando os projetos e os campos políticos se estabelecem.

Samuca não pode começar seu governo sem oposição. Ele precisa responder aos milhares de votos contra seu discurso, seu jeito, suas promessas, seus ataques e seu marketing anti-política. Estão do lado dele quem aceitou a desqualificação das instituições, a esculhambação dos partidos, a generalização da política como lugar  da picaretagem e da canalhice, a profecia de um heroísmo solitário quando clamamos pelo pluralismo.

A oposição a Samuca não pode ser sistemática. Deve acompanhar sua gestão com cobrança a suas promessas pra lá de mirabolantes. Em campanha, tranquilizou seus eleitores quanto a saúde financeira do município, e ofereceu gestão, o único elemento que faltaria para superar a crise. A cobrança vem com um projeto real de cidade, feito sob a lucidez de quem tem na política democrática o único caminho para se concretizar avanços cívicos.

De onde virá essa oposição? Dos partidos que se uniram contra o discurso protofascista de Samuca, do parlamento a quem ele desdenhou, dos intelectuais que reconheceram o discurso ilusório que tem tudo pra virar estelionato eleitoral, dos sindicatos e movimentos sociais que ficaram de fora das visitinhas do prefeito enquanto montava sua equipe. Visitou o presidente da CSN e ignorou as organizações populares.


Não se trata de um boicote a seu governo, tampouco criar obstáculos a sua governabilidade. A ingovernabilidade virá naturalmente, por sua arrogância, por sua prepotência, por sua falta de cautela e liderança, pela incapacidade de articulação política. A oposição democrática não derruba ninguém, aceita as regras do jogo, a falta de condições de jogar o jogo da democracia que põe abaixo os governantes. A oposição deve estar pronta para assumir posições quando Samuca e seu governo já não mais conseguirem ficar de pé, seja pelo fracasso de seu falso projeto seja pela traição de suas promessas.