Por Adelson Vidal Alves
O mundo tem pouco mais de 6000
anos, os fósseis são vestígios de espécies extintas no diluvio universal, o
homem foi criado exatamente como ele é, não sofreu qualquer evolução. Eis o que
defende o criacionismo. Tese bíblica para explicar a origem do mundo e da
humanidade. Absurdo? Não. Desde que ela fique dentro das igrejas, pregada como
uma hipótese teológica, baseada exclusivamente na fé.
No entanto, ainda hoje vemos
cientistas de boa formação acadêmica que defendem o criacionismo como ciência,
e pior, que deve ser ensinado nas escolas como alternativa ao evolucionismo. Os
alunos deveriam aprender a teoria da criação e da evolução, e escolher entre as duas em qual acreditar. Parece democrático, mas é na verdade uma distorção
bizarra do sentido escolar e científico.
É simples: o método cientifico
se caracteriza pelo experimento. Ao se investigar um objeto, colhem-se fontes,
elaboram-se hipóteses e testam-se todas elas, por várias vezes, até que se
chegue a uma conclusão segura. O criacionismo faz caminho inverso. Ele parte de
uma conclusão, a de que Deus criou o mundo exatamente como narram os textos
bíblicos. Os fósseis, os testes genéticos, os cálculos da física são todos
manipulados para provar a verdade pré-estabelecida. Isso não é ciência.
A ciência evolucionista não tem
todas as respostas sobre todo o processo que gerou o cosmos e a vida no nosso
planeta. Que bom que não tenha, isso mostra que é uma ciência séria. Mas ao
contrário do criacionismo, a teoria fundada por Darwin goza de fontes
abundantes nos fósseis, na observação do mundo natural, nos testes genéticos, e
por ai vai. Que evoluímos é um fato. Os detalhes ainda estão para serem
descobertos. Como colocar uma ciência rigorosa ao lado de um sistema de pensamento
mítico, como se os dois tivessem validade científica?
Todavia, os criacionistas evoluíram
neste debate (ironia, não?). Desacreditados pela academia, eles resolveram dar
um rosto não tão escancaradamente religioso a sua teoria. Falam agora de “design
inteligente”, uma moda forte nos EUA. Os novos criacionistas preferem organizar
sua “ciência” para comprovar que o mundo que temos atualmente comprova ordem,
harmonia, e estética dignas de um criador inteligente. Tanta beleza poderia vir
do acaso? Não seria uma hipótese razoável admitir uma força organizadora ao
invés de atribuir a complexidade da vida a um acidente cósmico e mutações
casuais? Perguntam eles.
Bem, o cientista pode acreditar
que há uma força que organizou o universo que ele estuda, mas não pode, jamais,
incluí-la em suas hipóteses, pela simples razão que não terá como prova-la. Os
cientistas do design inteligente querem um Deus criador para poder sustentar
reflexões sobre um mundo vigiado por um ser superior. A ciência não precisa
disso. Ela deve investigar as coisas como aconteceram, e não por qual sentido aconteceram.
Isso é coisa pra filosofia e para a teologia.
Além do mais, a ideia de um
cosmos em ordem, simétrico, belo e interligado não é consenso científico.
Grandes cientistas como Albert Einstein e Stephen Hawking creram ou creem em uma “teoria
do tudo”, uma espécie de código natural da física que explicaria por completo
tudo que existe. Há quem discorde, como o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Em
seu livro “a criação imperfeita” ele tenta demonstrar que o mundo natural que
vivemos testemunha assimetria, caos e desordem, e que a vida que conhecemos só
foi possível graças a erros no funcionamento natural das coisas. Se não há a interligação defendida por cientistas unificadores e místicos, jamais encontraremos
uma teoria final.
Mas este é um debate
científico, o criacionismo e o design inteligente nada ajudam Ao contrário,
deveríamos, de uma vez por todas, entender que a fé tem seu lugar no mundo, até
pra explicar de forma simplista o que é complexo, desde que fique longe dos
laboratórios e das aulas de ciências.