segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O voo no escuro

Por Adelson Vidal Alves



Nas comemorações da vitória de Samuca um caixão com os nomes de Baltazar, Nelson Gonçalves, Zoinho e América Tereza era exibido com orgulho. Os apoiadores do prefeito eleito diziam celebrar o fim da velha política, não nos termos da democracia, em que o adversário é tido como opositor legítimo, e dentro do comportamento cívico, é reconhecido como possível interlocutor no futuro, mas no linguajar fascista, onde o outro não é só derrotado, também é massacrado, eliminado. O clube Náutico parecia estar celebrando o título de um time de futebol, esporte onde a razão cede gentilmente à paixão. Na política não deveria ser assim, mas quando ela funciona sob o mito, o heroísmo, o sebastianismo e o messianismo, geralmente é isso que acontece.

Passando a ressaca, a vida real. Samuca pegará uma prefeitura endividada, cerca de 5oo milhões de rombo, metade do orçamento previsto para o próximo ano. Herdará uma máquina inchada, enfrentará uma crise econômica que atinge o Brasil e o estado do Rio de Janeiro. Para cumprir o que prometeu, terá que recorrer a uma política de austeridade fiscal, reduzir gastos, aplicar reformas administrativas. Diante destes desafios, necessitará não apenas da teoria de gestão que ele diz ter, vai precisar do parlamento, onde 18 dos 21 vereadores apoiaram seu adversário.

O que ele pretende fazer? Pode abandonar tudo que disse no segundo turno, ceder as regras da governabilidade e compor um governo de coalizão. De cara, vai decepcionar grande parte dos seus eleitores, que acreditaram quando ele prometeu “governar só com o cidadão”, algo impossível numa democracia representativa. Se se aventurar a enfrentar a câmara, a sociedade organizada e as instituições de mediação democrática, estará arriscando a não terminar seu mandato. Grave dilema.

Outro desafio é a composição de seu secretariado. O PV não tem quadros para administrar uma cidade, e a escolha dos principais nomes pode ser dentro de uma perspectiva tecnocrata ou de uma sinalização para a política e os partidos. O clima do segundo turno dividiu a cidade, cabe a Samuca não repetir o gesto hostil de seus seguidores, e reconciliar o município para uma governança focada na população. Insistir na polarização, no “eles contra nós” será uma irresponsabilidade e também um erro.

Enfim, para usar de uma metáfora tão utilizada por Baltazar, Samuca é um voo no escuro. Os próximos atos seus começarão a nos dar elementos para análises políticas mais concretas de seu novo governo, até agora o que temos é a euforia, o oba-oba e as promessas infundadas de um governo solitário. Agora é aguardar se o voo no escuro nos levará para um porto seguro ou para um fim mais trágico. Aguardemos.




quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sebastianismo eleitoral, bonapartismo de poder

Por Adelson Vidal Alves



D. Sebastião, rei de Portugal, morreu  durante a batalha de Alcácer-Quibir, no ano de 1578. Como não possuía herdeiros, o trono ficou sob o poder do rei Filipe II, da Espanha. Sob estas condições, surgiu um movimento de caráter místico-messiânico que se espalhou entre o povo, que esperava o retorno de D. Sebastião como salvador daquela situação, muitos, inclusive, chegavam a dizer que o rei na verdade não tinha morrido, apenas aguardava o momento para o regresso triunfal. Esse movimento recebeu o nome de sebastianismo, e influenciou até mesmo aqui no Brasil, em Canudos, com Antonio Conselheiro, que aguardava a volta do salvador para restaurar a monarquia.

O Bonapartismo é o termo político que se dá a governos que buscam a governabilidade fortalecendo o executivo e enfraquecendo o legislativo. Inspirado no jeito Napoleão Bonaparte de governar, o bonapartismo visa a consolidação de uma ditadura, através de um líder carismático capaz de negociar a conciliação de classes e grupos sociais. No Brasil, nosso maior exemplo foi Collor, e em menor medida, Lula.

Os dois casos acima tem algo a dizer ao segundo turno eleitoral em Volta Redonda, particularmente, sobre o candidato Samuca Silva. O sebastianismo já se faz presente no processo eleitoral. Quem vota no candidato do PV geralmente o faz com esperança de que se trata de um herói que libertará a cidade do jugo dos políticos corruptos que até então dominaram o poder. Como um messias que desce das nuvens, ele mudará tudo, sem necessidade de propostas, diálogos legislativos ou partidários. É a mágica do novo, do jovem gestor, da mudança, elementos suficientes para a glória final da cidade nas mãos do sebastianismo Samuca.

Caso triunfe, e se recuse a voltar os olhos para a governabilidade democrática, Samuca terá que apelar ao bonapartismo. Ele já tem 18 vereadores contra ele, apenas 3 o apoiam, exatamente os mais próximos do atual prefeito Neto. Collor sofreu a mesma dificuldade, e tentou governar por decretos, congelando ações do Judiciário e reeditando Medidas provisórias já rejeitadas pelo congresso. Tentou impor suas reformas econômicas, já que não tinha base de governo suficiente para negociação. Terminou renunciando, sob a mira de um processo de impeachment.


No momento é difícil prever o novo prefeito de Volta Redonda, a “onda verde” perdeu força, mas ainda se sustenta em meio ao clima de sebastianismo, onde o fanatismo e a fé impedem diálogos propositivos, fanáticos não se convencem com o uso da razão. Seja como for, Samuca já introduz dois elementos na campanha eleitoral de 2016 na cidade do aço que afrontam diretamente os valores da democracia. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Nosso voto em Baltazar




Mais uma vez a eleição para prefeito em Volta Redonda será decidida no 2º Turno. Contrariando todas as previsões e pesquisas, no dia 30 de outubro nossa escolha para administrar o município, nos próximos 04 anos, estará entre o candidato do PV, Samuca Silva, e o candidato do PRB, Paulo Baltazar. Samuca é relativamente desconhecido entre nós, mas aparenta ser um bom quadro, pode ter um belo futuro político pela frente se continuar residindo em Volta Redonda, caso não ganhe a eleição. Terá, entretanto, que fazer ajustes em seu discurso e no seu perfil político.

O momento é de crise, com perda relativa de receitas, agravada pelo “rombo orçamentário” que o “prefeito ficha suja” vai deixar para o próximo prefeito. Administrar uma situação de descontrole como esta não é fácil e vai exigir do Chefe do Poder Executivo um conhecimento profundo de Administração Pública e da própria Prefeitura, agravada com todas as complicações que podem surgir durante o mandato, inclusive, em função da “dívida” com os servidores, perdas salariais e PCCS, sem falar nos compromissos não cumpridos com os fornecedores. Não é tarefa para amadores, para quem conhece pouco a Volta Redonda de hoje, para quem não está acostumado a fazer composições políticas, preferindo se esconder em discursos de isolamento que não combinam com a complexidade da política democrática. Não podemos, também, arriscar a cidade entregando-a a quem não tem experiência em gestão pública.

Diante deste difícil quadro que vai ser encontrado pelo próximo prefeito, votaremos no 10 – Paulo Baltazar – PRB.  Estamos em sintonia com o que ele pensa em termos de administração pública, gostamos da sua tenacidade e determinação para fazer as coisas acontecerem e também porque ele sempre cumpre os seus compromissos.

Como dito, temos pouco conhecimento sobre o outro candidato e por responsabilidade para com nossa cidade, optamos por não arriscar, não dar chance para aventuras perigosas que podem comprometer a vida de nossa cidade.  A experiência de Samuca como gestor público não consta do seu currículo, exercer o cargo de Controlador não dá a ninguém credencial para administrar uma prefeitura com um orçamento de 01 bilhão de reais. Teoria apenas não resolve.  

Caminhamos em direções distintas no primeiro turno, ainda que debatendo sempre em tom respeitoso, mas diante do atual cenário municipal, resolvemos nos posicionar publicamente a favor de Paulo Baltazar, a quem consideramos o melhor caminho para vencermos o atual e desastroso ciclo de governo e avançarmos na construção de uma Volta Redonda mais justa e mais democrática.

Adelson Vidal Alves - Historiador

Sérgio Boechat - Advogado e Consultor Político   






domingo, 16 de outubro de 2016

Por que Baltazar

Por Adelson Vidal Alves



“No primeiro turno é voto, no segundo turno é veto”. A frase é de Alessandro Molon, deputado federal pela Rede Sustentabilidade. Ela é uma realidade na medida em que no segundo turno as alternativas programáticas se reduzem a duas, e nem sempre estão em acordo com nossas preferências. Por conta disso, flertei nos primeiros dias após o primeiro turno com as opções de Baltazar ou do voto nulo. De imediato, rejeitei a “onda Samuca”, o oba-oba da anti-política, que consagra a hostilidade às instituições democráticas que nos garantem hoje a resolução cívica dos conflitos contemporâneos. No lugar da política, vem a gestão, no lugar das ideologias, vem a técnica, no lugar do parlamento e dos partidos, vem as corporações. Nesta última parte do discurso de Samuca, percebe-se semelhanças com o fascismo e seu “estado-corporativo”, onde o Estado abole os conflitos sociais de classe e o substitui por organizações profissionais colaborativas.

As ideias de Samuca são desorganizadas. Se por um lado ele proclama os valores da pós-modernidade, isto é, a fragmentação, o fim da totalidade social, das utopias e das grandes narrativas ideológicas, por outro, o seu discurso gestor encarna o neoliberalismo econômico mais radical. A gestão do Estado mínimo, dos apertos fiscais, das contas equilibradas a custo de austeridade. Pensa-se no orçamento, depois nas pessoas.

O fenômeno Samuca, no entanto, não é privilégio de Volta Redonda, ele ganhou grande parte do Brasil, surfando na onda da despolitização e da desilusão com a democracia representativa. Derrotar Samuca, assim, é resistir ao avanço deste fenômeno, que elimina a “busca do bem comum” na definição aristotélica da política. Por isso, decidi votar em Baltazar.

Baltazar é um político de larga experiência pública, no legislativo e no Executivo. Não sou contra o novo, mas frente crises como a atual, não podemos correr riscos de aventura, nem entregar a prefeitura para um estágio de gestão pública. Mais que experiente Baltazar sempre atuou em favor das questões mais nobres da vida social. Como prefeito, inaugurou o ciclo de urbanização citadina, aplicou reformas administrativas que praticamente triplicou o orçamento municipal. Sua administração foi capaz de eleger o então desconhecido Antônio Francisco Neto.

O candidato do PRB é evangélico, mas jamais deu sinal de fundamentalismo. Sua vida pública foi de diálogo, com a sociedade, os partidos e as religiões. A composição política de sua candidatura é de centro, e seu perfil governante é acessível, com sensibilidade para a participação popular.

Vivemos tempos conturbados, não podemos nos seduzir com discursos salvadores e messiânicos. Em 1989, elegemos presidente um jovem desconhecido que prometia caçar marajás. Formou um partido sem bases sociais, negou a política, tratando-a como a portadora da perversidade pública. O rosto bonitinho com discurso manso nos empurrou para o caos econômico, confisco e corrupção. Em proporções históricas diferentes, vemos a história se repetir, desta vez em forma de farsa. Cabe a nós derrotar este caminho, votando em Baltazar.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Afinal, quem é Samuca de verdade?

Por Adelson Vidal Alves



Volta Redonda terá um segundo turno inesperado. Nem os mais precisos analistas foram capazes de prever o candidato Samuca Silva (PV) enfrentando Paulo Cezar Baltazar na disputa para a prefeitura. Sem grandes pretensões avaliativas, me parece claro que o discurso do “gestor” não-político foi capaz de atrair as mentes mais desiludidas com a política, que trata toda a classe política como a generalização da corrupção e da perversidade. Enquanto os candidatos da dianteira se estapeavam, o discurso manso e aparentemente técnico do jovem gestor avançou pelas trilhas da anti-política.

Só que a “onda Samuca” sofreu um revés. Se no primeiro turno ele se aproveitou de não ser exposto por seus adversários, hoje ele tem que responder por algumas de suas falsas colocações. A se começar, por sua ingênua e equivocada posição de querer vencer sem aliados. Logo que a ficha caiu, a democracia lhe bateu a porta e o lembrou que governar não exige apenas conhecimento técnico. Administrar uma cidade complexa como Volta Redonda não exige apenas conhecimentos técnicos de gestão. É preciso do parlamento, dos partidos, dos vereadores, deputados e de um diálogo com o governo do estado. Como não é bobo, mal terminou sua declaração de independência teve que ir atrás daqueles que desdenhou do alto de sua arrogância de herói solitário. De imediato teve apoio de candidatos ligados ao prefeito Neto, como o vereador Neném. Durante a semana, procurou o candidato derrotado Zoinho, e depois foi atrás de Nelson Gonçalves, sempre com a cautela de exigir de seus possíveis aliados o “sigilo”, a fim de que seu discurso não seja arranhado.

No rádio, está tendo que responder por seu posicionamento político-ideológico. Uma pesquisa rápida na internet pode comprovar que ele não é o “novíssimo” que se apresenta. Como candidato, migrou do trabalhismo cristão para o ecologismo, se levarmos a rigor os conteúdos das siglas partidárias que esteve e agora está. Aliás, ele vem a público hoje dizer que é contra legalizar a maconha e o aborto, traindo seu partido, o PV. Trai por que pede voto no 43, número do partido, mas não cumpre suas obrigações estatutárias como candidato.

Vejamos o que diz o estatuto do PV em seu artigo 20:

Art. 20 cabe ao candidato:

I- divulgar em suas campanhas o programa do partido , assim como  às diretrizes por ele estabelecidas.

Tendo isto em vista, vejamos o que pensa o PV sobre a legalização do aborto, que defende:

“legalização da interrupção voluntária da gravidez com um esforço permanente para redução cada vez maior da sua prática através de uma campanha educativa de mulheres e homens para evitar a gravidez indesejada”.

Sobre a maconha e sua legalização, segue o programa do Partido Verde:

“Uma nova política internacional provavelmente passará pela legalização e
fornecimento, controlado pelo Estado, como forma de solapar e inviabilizar
economicamente os grandes cartéis da droga”

Ao contrário de Eduardo Jorge, que como candidato a presidência em 2014 foi a publico defender o programa do PV nacionalmente, Samuca se esconde para atrair votos conservadores e religiosos. Prática eleitoreira, que ilude, despolitiza, e diminui o debate político. Se faltou honestidade agora, imagina depois de eleito.        

terça-feira, 11 de outubro de 2016

REDE não apoiará nem Samuca e nem Baltazar


A Rede Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva, divulgou nota onde se posiciona com neutralidade no segundo turno das eleições para prefeito em Volta Redonda. Segundo o texto, o partido não tem identidade programática com nenhuma das duas candidaturas. O partido liberou seus filiados a votarem conforme suas consciências. LEIA A NOTA: 


POSIÇÃO DA REDE/VR SOBRE O SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS
O diretório municipal da Rede Sustentabilidade/Volta Redonda reuniu-se nesta terça, 11 de Outubro, para debater sua participação no atual processo eleitoral. Avaliamos como positiva nossa atuação junto à candidatura a prefeito de Nelson Gonçalves (PSD), a quem consideramos próximo de nossas intenções programáticas de governo. Agora ,no segundo turno, com a disputa entre Paulo Cezar Baltazar (PRB) e Samuca (PV), concluímos que ambos não representam nossos princípios e ideias, e por isso, não daremos apoio partidário a nenhuma das duas candidaturas, liberando nossos filiados a votarem conforme suas consciências.

Volta Redonda, 11 de Outubro de 2016
Executiva Municipal da Rede Sustentabilidade/VR

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Vamos falar de legalização do aborto?

Por Adelson Vidal Alves


O Brasil é um dos países que ainda mantém grande resistência ao debate da legalização do aborto. Em parte, tal discussão é bloqueada por conta da intervenção religiosa- protestante e católica- que além de levar para a esfera pública e estatal convicções íntimas, desinforma e aterroriza. Ao proclamarem a “defesa da vida”, os religiosos ignoram a morte anual de milhares de mulheres, devido a utilização de clínicas clandestinas na interrupção de gravidez indesejada.

Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, realizada em 2010, a maioria daquelas que abortam ganham entre 0 e 2 salários mínimos. Isto é, as mulheres ricas conseguem abortar com segurança, enquanto as pobres são expostas a própria sorte. Deve-se constatar que o recurso ao aborto não é uma perversidade feminina, mas ato indesejado de quem não confia no Estado e na sociedade para garantir uma maternidade segura e confortável, para ela e para seus filhos.

A legalização do aborto é uma questão de saúde pública, onde o governo assume responsabilidades para com a decisão individual das mulheres, garantindo amparo decente e que dê segurança a saúde da mulher.

Mas os políticos, sobretudo em tempos eleitorais, costumam fugir deste debate. Num país conservador e de dimensões religiosas, apoiar tal tema não costuma dar voto. Fossem eles republicanos e misericordiosos com as mulheres desassistidas, enfrentariam a temática sem medir suas opiniões pela ótica das urnas. A eleição de muitos se dá a custa do sangue de milhões de mulheres pobres.

Os que se opõem a legalização do aborto se apoiam em um único e frágil argumento: seria assassinato contra seres indefesos. Os defensores da legalização do aborto não defendem a eliminação de crianças formadas no útero da mãe. Em todos os países onde tal prática tem amparo de lei, houve limitação de tempo para a realização do aborto. Afinal, a ciência não tem posição fechada em torno de quando começa a vida humana. Para os fundamentalistas religiosos, ela começa logo após a concepção, em um sopro divino. Deve-se registrar, contudo, que até mesmo teólogos de autoridade dentro da história da igreja já emitiram opinião diferente. Tomás de Aquino, por exemplo, defendeu que a vida propriamente dita só começa 40 dias após o ato sexual.

Em países como Cuba e Uruguai, onde o aborto foi descriminalizado, não houve uma chacina de bebês, como muitos alardeiam. Por lá, começa a se construir uma consciência de direitos, liberdades e responsabilidades. Morrem menos mulheres, e as políticas de educação avançam, com perspectivas de que gravidezes indesejadas diminuam significativamente.

O dever do Estado deve se dar na dimensão educadora e assistencial, conscientizando as pessoas quanto às formas anticonceptivas e também assegurar o acesso de todos a esses métodos.  Mas como a pobreza e a desigualdade persistem no país, por incompetência e descaso do poder público, criminalizar mulheres que recorrem a soberania do seu corpo para interromper uma gravidez indesejada, expondo a risco de morte, é covardia e crueldade.






segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Heroísmo e anti-política em Samuca Silva

Por Adelson Vidal Alves



João Doria Jr, novo prefeito de São Paulo, disse a jornalistas da TV Bandeirantes logo após ser eleito: “O povo quer mais gestão e menos política”.  Com discurso semelhante, Samuca Silva (PV) passou de simples coadjuvante a possível prefeito de Volta Redonda. Isso por que, contando com uma liminar judicial, participou do debate da TV Rio Sul, e se aproveitou do inexplicável clima amistoso do encontro para avançar entre os indecisos e até mesmo entre seus adversários. Sua arrancada ainda exige reflexões mais aprofundadas, mas parte dessa explicação pode ser conhecida na tradição política brasileira.

O Brasil é um país formador de heróis. Tiradentes, Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes.  O pai dos pobres, o cavaleiro da esperança e por ai vai. O heroísmo é uma característica do imaginário popular em tempos de crise. Samuca, bem longe de participar do panteão desses gigantes da nossa história, saiu-se bem como o salvador, a esperança da renovação, aquele que participa da política, mas não é politico, é gestor. Hoje ele cavalga rumo a prefeitura como o novo que chega para incomodar a classe política, essa classe de malfeitores e corruptos, na cabeça do grande povão. Em menos de dois dias, virou uma onda, surfando no oba-oba prematuro da despolitização.

Fenômenos como Samuca começam a ser cada vez mais constantes, sobretudo a partir das jornadas de Junho, onde a anti-política marcou posição, os partidos e sindicatos foram hostilizados, as instituições desqualificadas. Se distanciar do tradicional, falar com mais técnica e menos política passou a ter espaço numa parte significativa da sociedade brasileira.

O candidato do PV, no entanto, e agora falando de segundo turno, vai ter que fazer escolhas. Sua vitória passa pela composição de novas forças. Irá Samuca acolher apoio, por exemplo, de um Antônio Francisco Neto ou uma América Tereza e seu PMDB? Irá procurar os vereadores eleitos e os candidatos a prefeito derrotados? Caso faça isso, estaria ele jogando por terra sua imagem de homem neutro? São perguntas que o próprio terá que responder, em jogo estará sua ambição de chegar a prefeitura.