Por Adelson Vidal Alves
Em Julho de 2015 a jornalista
Maria Julia Coutinho, a Maju, foi vitima de racismo na pagina do Jornal
Nacional no facebook. Seus colegas de emissora tomaram suas dores e o povo
brasileiro a acolheu com a hashtag #somostodosMaju. Taís Araujo, em palestra
recente, disse que “a cor do meu filho faz com que pessoas mudem de calçada”. A
atriz generalizou um comportamento de segregação que nos faz lembrar países
como os EUA, onde bebedouros e acentos de ônibus eram diferenciados para
brancos e negros. Marieta Severo, colega global de Taís, também expôs publicamente
sua preocupação com o neto, dizendo que “doi saber que meu neto apanha de
seguranças por ser negro”. Por fim, o casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna
Ewbank teve que ver sua filha adotada ser alvo de um racismo tosco proferido pela
socialite Day Mcarthy, que chamou a menina de “macaca”, em um vídeo
apavorante.
As citações acima fazem parte
de uma justa preocupação nacional com a prática racista, ainda presente no
nosso cotidiano. Mas por aqui, nosso racismo tem características particulares,
fruto de uma história que não foi atravessada por leis raciais
discriminatórias, aos moldes do nosso vizinho do Norte. A escravidão negra que
assolou o Brasil por mais de três séculos encurralou negros em um destino
perverso, mas que se construiu não em torno de uma “opressão racial”, mas sim
por uma lógica econômica nascida do sistema colonial. O racismo, assim, tem raízes
que se deitam em elementos singulares de nossa história e atinge os brasileiros
de forma diferenciada.
Os casos citados acima ganharam
os jornais por conta da exposição das celebridades envolvidas. Ainda que não se
deva aceitar atenuantes para o racismo, é necessário compreender a forma
diversificada que ele age e suas vítimas mais recorrentes.
É verdade que um racista - com a estúpida crença que a cor da pele revela
graus de moralidade e capacidade cognitiva - age contra uma “raça” e não contra uma “classe
social”, mas parece-me claro que as vitimas mais recorrentes dessa prática
horrenda são os pobres que vivem na periferia.
Os filhos dos globais não estão
livres do preconceito racial, mas a chance de serem abordados e agredidos pela
ação policial, quase que restrita às comunidades carentes, é quase zero. O
mesmo se dá na procura de uma vaga de emprego onde se exige foto no currículo. Na
pior das hipóteses, os filhos negros das classes de cima podem acionar
advogados e fazer com que a justiça seja feita em um país onde o acesso do
pobre à Justiça é precário.
Os dados censitários mostram
que entre os grupos socialmente mais vulneráveis estão os pardos, esse grupo racial
que representa nossa história de miscigenação. Os negros, pouco mais de 14% da
população, também são número alarmante aqui na parte debaixo, e assim como os
pardos, são as vitimas preferenciais dos preconceitos que o Estado brasileiro
ainda usa através de suas instituições. Para nos livrarmos disso, somente
investindo em uma cultura de desracialização, persistir na construção de um
ambiente onde a cor da pele seja apenas resultado genético do efeito de
melanina na configuração da pigmentação da pele. É hora de resgatarmos o sonho
de Martim Luther King, onde a cor de uma pessoa não seja base para qualquer
julgamento.