domingo, 12 de novembro de 2017

Waack é o sacrifício expiatório do nosso racismo

Por Adelson Vidal Alves



Algumas pesquisas recentes revelam que 97% dos brasileiros negam ter preconceito de cor, mas admitem conhecer alguma pessoa racista. Ou seja, “o racismo no Brasil existe, mas eu não sou racista”.

Tal comportamento revela um país ciente que ainda pena a desgraça do racismo - mas ao contrário de outras nações que chegaram a se orgulhar do seu racismo – o Brasil sente vergonha por essa mácula, e não aceita ninguém que se comporte com esse sentimento na esfera pública, com pena de ser esmagado e destruído na sua vida social e profissional. Este foi o caso do jornalista William Waack, com a diferença que o seu limbo foi preparado a partir da filmagem de uma conversa privada, e guardada durante um ano, sabe se lá porque, até acender o fogo da inquisição virtual e o sacrifício expiatório de um dos maiores jornalistas brasileiros.

Condenamos as palavras de Waack com toda a razão. Foi horrendo, bárbaro, nojento, monstruoso. O racismo é monstruoso. Mas Waack seria racista?

A trajetória política e profissional de Waack jamais apresentou algo que nos faça imaginar que ele seja racista. Só por questão de explicação, ser racista implica o comportamento sistemático que parte da crença que raças humanas existem e são hierárquicas. O âncora global, ao contrário, sempre se apresentou como homem politicamente moderado, inteligente e advogado da tolerância, em vários episódios ele foi voz lúcida no clamor por diálogo, respeito e equilíbrio. Mas nesse momento isso parece não importar para aqueles que desejam o sacrifício de Waack em praça pública.

Alguns agem assim porque querem que ele expie nossos próprios pecados raciais, pecados que são frutos de uma história que penalizou seres humanos a três séculos de escravidão perversa. Essa mancha vergonhosa de nossa história impôs em nossa consciência o sentimento de racismo, combatido dia-dia, e com relativo sucesso, pelo Estado e a sociedade brasileira. Isso quer dizer, porém,  que nenhum de nós está absolutamente livre de proferir algum preconceito na vida. Estamos contaminados, e isso é preocupante, mas deve ser diferenciado da prática racista militante e voluntária.

No Brasil persistem grupelhos organizados que se orgulham da supremacia branca, estão na internet, divulgando ideias que propagam a superioridade da raça ariana. Esses devem nos preocupar, mas nem de longe representam a realidade brasileira, que é de um racismo acuado, cultural e de consequências particulares de nossa história.


Ao expormos nossa indignação com a fala de Waack, estamos de certa forma nos absolvendo, faz bem para nossas consciências.  No entanto, o sacrificio solitário de um profissional errante servirá muito mais para a política daqueles que sempre se incomodaram com suas ideias do que para verdadeiramente vencer o racismo. 

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