Por Adelson Vidal Alves
Algumas pesquisas recentes
revelam que 97% dos brasileiros negam ter preconceito de cor, mas admitem
conhecer alguma pessoa racista. Ou seja, “o racismo no Brasil existe, mas eu
não sou racista”.
Tal comportamento revela um
país ciente que ainda pena a desgraça do racismo - mas ao contrário de outras
nações que chegaram a se orgulhar do seu racismo – o Brasil sente vergonha por
essa mácula, e não aceita ninguém que se comporte com esse sentimento na esfera
pública, com pena de ser esmagado e destruído na sua vida social e
profissional. Este foi o caso do jornalista William Waack, com a diferença que
o seu limbo foi preparado a partir da filmagem de uma conversa privada, e
guardada durante um ano, sabe se lá porque, até acender o fogo da inquisição virtual
e o sacrifício expiatório de um dos maiores jornalistas brasileiros.
Condenamos as palavras de Waack
com toda a razão. Foi horrendo, bárbaro, nojento, monstruoso. O racismo é
monstruoso. Mas Waack seria racista?
A trajetória política e
profissional de Waack jamais apresentou algo que nos faça imaginar que ele seja
racista. Só por questão de explicação, ser racista implica o comportamento
sistemático que parte da crença que raças humanas existem e são hierárquicas. O
âncora global, ao contrário, sempre se apresentou como homem politicamente
moderado, inteligente e advogado da tolerância, em vários episódios ele foi voz
lúcida no clamor por diálogo, respeito e equilíbrio. Mas nesse momento isso
parece não importar para aqueles que desejam o sacrifício de Waack em praça
pública.
Alguns agem assim porque querem
que ele expie nossos próprios pecados raciais, pecados que são frutos de uma
história que penalizou seres humanos a três séculos de escravidão perversa. Essa
mancha vergonhosa de nossa história impôs em nossa consciência o sentimento de
racismo, combatido dia-dia, e com relativo sucesso, pelo Estado e a sociedade brasileira.
Isso quer dizer, porém, que nenhum de nós
está absolutamente livre de proferir algum preconceito na vida. Estamos
contaminados, e isso é preocupante, mas deve ser diferenciado da prática
racista militante e voluntária.
No Brasil persistem grupelhos
organizados que se orgulham da supremacia branca, estão na internet, divulgando
ideias que propagam a superioridade da raça ariana. Esses devem nos preocupar,
mas nem de longe representam a realidade brasileira, que é de um racismo
acuado, cultural e de consequências particulares de nossa história.
Ao expormos nossa indignação
com a fala de Waack, estamos de certa forma nos absolvendo, faz bem para nossas
consciências. No entanto, o sacrificio
solitário de um profissional errante servirá muito mais para a política
daqueles que sempre se incomodaram com suas ideias do que para verdadeiramente
vencer o racismo.
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