Por Adelson Vidal Alves
Santo Agostinho costumava dizer
que o homem não tem razão para filosofar se não para buscar a felicidade. Encontrar
o supremo sentimento do prazer foi e é uma busca constante não só da filosofia,
mas também da religião. Para isso foram escritos tratados filosóficos,
doutrinas religiosas e até manuais de autoajuda, tudo para que o homem possa
driblar sua tragédia existencial e se encontrar na plenitude de ser feliz.
No entanto, a solução final
ainda não foi encontrada. De Epícuro a Mario Sérgio Cortela, surgiram apenas
dicas com funcionamentos pontuais, especulações imaginárias que agradam a uns e
não a outros. Mas afinal, poderemos um dia gozar da felicidade plena e
irrestrita?
Não podemos, ainda, dar essa
resposta. A boa notícia é que nos últimos anos essa nossa busca ganhou uma
poderosa aliada: a ciência. Sim, talvez a resolução dessa nossa encruzilhada
venha dos laboratórios e não de comportamentos direcionados.
É sabido que cada vez mais
avançam pesquisas no campo farmacológico capazes de aliviar sofrimentos e
transtornos psíquicos. Depressão, ansiedade, tristezas profundas são combatidas
em pequenos frascos, e com muito sucesso. Terapias, psicanalise e tratamentos
espirituais são cada vez menos procurados, xamãs psicólogos e gurus estão perdendo
espaço para Clonezapans e outros semelhantes.
Aqui a questão é simples: felicidade
não é um sentimento espiritual. Estar plenamente alegre tem a ver com o
funcionamento bioquímico do nosso corpo, por isso a esperança que da manipulação
médica possa vir poções quase mágicas de prazeres duradouros. É possível que em
breve possamos vencer a tristeza cotidiana com o uso simples de comprimidos.
Só que há quem ache que
possamos ir além da extensão dos momentos alegres, poderíamos ser, como nos
romances, felizes para sempre.
É o caso do historiador israelense
Yuval Harari, autor de “Homo Deus”, que acredita que avanços tecnológicos e
mudanças em nossa espécie poderão nos trazer atributos divinos, como o de
oferecer imortalidade e felicidade.
A engenharia genética e outras
áreas da ciência um dia poderão alterar o funcionamento genético do nosso corpo
e nos blindar da tristeza. Estaríamos todos embutidos de um código de
felicidade eterna, simplesmente porque nos reprogramamos, desta vez, para não
ficarmos mais tristes.
Sonho? Delirio? Ousadia? O fato
é que, em tese, não podemos eliminar essa possibilidade. Já vivemos tempos onde
o Rivotril tem muito mais crédito do que conselhos filosóficos, mas quem sabe
um dia não possamos ser literalmente vacinados contra a tristeza?