sábado, 6 de maio de 2017

Culto a Lula revela escassez de ideias na esquerda brasileira

Por Adelson Vidal Alves


O Brasil vive uma crise ética, política e econômica, sabemos disso. Mas na esquerda brasileira, ou ao menos parte dela, aquela que há pouco dirigia o Brasil, há uma crise ainda mais grave: a crise de ideias.

Os intelectuais e a militância, antes responsáveis pela construção de projetos de país, transferiram tal função para o departamento de marketing, de onde sai a orientação para um discurso fabricado a ser divulgado de forma homogênea. É  assim que muitos divulgam, sem constrangimentos, a narrativa bizarra e delirante de que a Lava Jato é a responsável pela crise econômica, o PT perseguido pela mídia golpista, o impeachment um golpe e Lula uma vítima de perseguição de procuradores inescrupulosos e anti-petistas. Tudo muito tosco, mas que é a essência de quem hoje carrega na cabeça a ideia de que é Lula a maior esperança da esquerda brasileira. O que revela, a meu ver, uma escassez de ideias.

Os grandes debates foram engolidos pela dinâmica pobre do cotidiano parlamentar. Gramsci diria que se trata da hegemonia da pequena política, aquela que não coloca em xeque as estruturas. Hoje, não falamos de reformas estruturais, de reorganização de um novo projeto político democratizante, da construção de blocos políticos capazes de elaborarem ações contra nossas mazelas sociais. Entre os petistas e os satélites do PT, a grande atenção está no depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro. Aqui não reside uma preocupação crítica quanto o que realmente Lula tem a ver com o mega esquema criminoso dentro de nossa maior estatal. O depoimento, na verdade, no que depender de Lula, vai virar propaganda eleitoral para que seus cabos eleitorais delirem com a vitória do “pai dos pobres” sobre o “juiz marionete da burguesia”.

O mais triste disso tudo, muito mais que o fanatismo estúpido de uma seita política criminosa, é o envenenamento que ela causou em parte significativa da esquerda brasileira, antes rica, plural e dinâmica, e hoje presa à figura de um líder personalista, autoritário e réu. Réu de um esquema de corrupção que pode ser o maior de nossa história republicana.
Ao que tudo indica, a paixão militante e o fanatismo político vão empobrecer o debate publico eleitoral de 2018. Temos tudo para ter uma polarização raivosa aos moldes de 2014, onde um lado já temos como certo: os lulistas odientos, que falam hoje por uma esquerda sem ideias.

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