Por Adelson Vidal Alves
O Brasil vive uma crise ética,
política e econômica, sabemos disso. Mas na esquerda brasileira, ou ao menos
parte dela, aquela que há pouco dirigia o Brasil, há uma crise ainda mais
grave: a crise de ideias.
Os intelectuais e a militância,
antes responsáveis pela construção de projetos de país, transferiram tal função
para o departamento de marketing, de onde sai a orientação para um discurso
fabricado a ser divulgado de forma homogênea. É assim que muitos divulgam, sem
constrangimentos, a narrativa bizarra e delirante de que a Lava Jato é a
responsável pela crise econômica, o PT perseguido pela mídia golpista, o
impeachment um golpe e Lula uma vítima de perseguição de procuradores inescrupulosos
e anti-petistas. Tudo muito tosco, mas que é a essência de quem hoje carrega na
cabeça a ideia de que é Lula a maior esperança da esquerda brasileira. O que
revela, a meu ver, uma escassez de ideias.
Os grandes debates foram
engolidos pela dinâmica pobre do cotidiano parlamentar. Gramsci diria que se
trata da hegemonia da pequena política, aquela que não coloca em xeque as
estruturas. Hoje, não falamos de reformas estruturais, de reorganização de um
novo projeto político democratizante, da construção de blocos políticos capazes
de elaborarem ações contra nossas mazelas sociais. Entre os petistas e os
satélites do PT, a grande atenção está no depoimento de Lula ao juiz Sérgio
Moro. Aqui não reside uma preocupação crítica quanto o que realmente Lula tem a
ver com o mega esquema criminoso dentro de nossa maior estatal. O depoimento,
na verdade, no que depender de Lula, vai virar propaganda eleitoral para que
seus cabos eleitorais delirem com a vitória do “pai dos pobres” sobre o “juiz
marionete da burguesia”.
O mais triste disso tudo, muito
mais que o fanatismo estúpido de uma seita política criminosa, é o
envenenamento que ela causou em parte significativa da esquerda brasileira,
antes rica, plural e dinâmica, e hoje presa à figura de um líder personalista,
autoritário e réu. Réu de um esquema de corrupção que pode ser o maior de nossa
história republicana.
Ao que tudo indica, a paixão
militante e o fanatismo político vão empobrecer o debate publico eleitoral de
2018. Temos tudo para ter uma polarização raivosa aos moldes de 2014, onde um
lado já temos como certo: os lulistas odientos, que falam hoje por uma esquerda
sem ideias.
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