segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ciência e felicidade

Por Adelson Vidal Alves



Santo Agostinho costumava dizer que o homem não tem razão para filosofar se não para buscar a felicidade. Encontrar o supremo sentimento do prazer foi e é uma busca constante não só da filosofia, mas também da religião. Para isso foram escritos tratados filosóficos, doutrinas religiosas e até manuais de autoajuda, tudo para que o homem possa driblar sua tragédia existencial e se encontrar na plenitude de ser feliz.

No entanto, a solução final ainda não foi encontrada. De Epícuro a Mario Sérgio Cortela, surgiram apenas dicas com funcionamentos pontuais, especulações imaginárias que agradam a uns e não a outros. Mas afinal, poderemos um dia gozar da felicidade plena e irrestrita?

Não podemos, ainda, dar essa resposta. A boa notícia é que nos últimos anos essa nossa busca ganhou uma poderosa aliada: a ciência. Sim, talvez a resolução dessa nossa encruzilhada venha dos laboratórios e não de comportamentos direcionados.

É sabido que cada vez mais avançam pesquisas no campo farmacológico capazes de aliviar sofrimentos e transtornos psíquicos. Depressão, ansiedade, tristezas profundas são combatidas em pequenos frascos, e com muito sucesso. Terapias, psicanalise e tratamentos espirituais são cada vez menos procurados, xamãs psicólogos e gurus estão perdendo espaço para Clonezapans e outros semelhantes.

Aqui a questão é simples: felicidade não é um sentimento espiritual. Estar plenamente alegre tem a ver com o funcionamento bioquímico do nosso corpo, por isso a esperança que da manipulação médica possa vir poções quase mágicas de prazeres duradouros. É possível que em breve possamos vencer a tristeza cotidiana com o uso simples de comprimidos.

Só que há quem ache que possamos ir além da extensão dos momentos alegres, poderíamos ser, como nos romances, felizes para sempre.

É o caso do historiador israelense Yuval Harari, autor de “Homo Deus”, que acredita que avanços tecnológicos e mudanças em nossa espécie poderão nos trazer atributos divinos, como o de oferecer imortalidade e felicidade.

A engenharia genética e outras áreas da ciência um dia poderão alterar o funcionamento genético do nosso corpo e nos blindar da tristeza. Estaríamos todos embutidos de um código de felicidade eterna, simplesmente porque nos reprogramamos, desta vez, para não ficarmos mais tristes.

Sonho? Delirio? Ousadia? O fato é que, em tese, não podemos eliminar essa possibilidade. Já vivemos tempos onde o Rivotril tem muito mais crédito do que conselhos filosóficos, mas quem sabe um dia não possamos ser literalmente vacinados contra a tristeza?  


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