segunda-feira, 5 de junho de 2017

Design Inteligente, a farsa do criacionismo

Por Adelson Vidal Alves



Houve tempo em que vivemos imaginando ser o Planeta Terra o centro do universo e que o sol girava em torno dele. O ser humano seria um ser especial, dotado de um plano cósmico carinhosamente preparado por um criador cuidadoso e perfeito. Com o advento da ciência moderna, descobrimos pasmos que a Terra gira em torno do sol, que na imensidão do universo nosso planetinha é uma poeira cósmica insignificante, e que o ser humano é apenas parte de uma cadeia evolutiva que envolve igualmente toda a vida que encontramos por aqui. Um golpe quase mortal na religião.

Diante da nova realidade, muitos aceitaram as descobertas científicas e readaptaram seus pensamentos, ou simplesmente ignoraram a ciência, afinal, a religião tem o papel de nos dar direção moral e apontar caminhos de salvação eterna, não para explicar porque ficamos gripados ou morremos, deixem isso para os cientistas. No entanto, há quem batesse e bata o pé recusando a acolher a teoria da evolução, o Big Bang, a datação da Terra em 4,5 bilhões de anos. Para essas pessoas, a espécie humana sempre foi exatamente como é hoje, o Planeta Terra tem no máximo 10 mil anos e o Big Bang tão somente o momento da criação narrada com detalhes na bíblia. O pior, fazem tais declarações jurando estarem em acordo com o conhecimento científico.

Os criacionistas ou fixistas, como ficaram conhecidos os grupos que fazem tais colocações, tentaram reunir falhas na teoria da evolução, e demonstrar que o conhecimento científico construido até hoje está lá nas páginas do Gênese, o primeiro livro da bíblia que narra a lenda de Adão e Eva. O esforço foi tão ridículo que até entre os setores religiosos o chamado “criacionismo científico” perdeu respeito, era apenas o forçar de barra de pseudo-cientistas como o cômico físico brasileiro Adauto Lourenço, que jura ter provas que a arca de Noé existiu e que o Homo Sapiens conviveu com os dinossauros.

O contra-ataque criacionista, todavia, apareceu recentemente, e responde pelo nome Design Inteligente (Desenho Inteligente), com uma proposta aparentemente mais sofisticada e que goza do apoio de cientistas renomados, como o bioquímico norte-americano Mchael Behe, autor de “A Caixa Preta de Darwin”.  Segundo esta “teoria”, o planeta, o cosmos e a vida apresentariam uma ordem e complexidade que só poderia ter sido desenhada por uma mente inteligente. Não é preciso ter um grande Curriculum Lattes em ciência para saber que não passa de um truque fajuto do criacionismo, bem longe do conhecimento científico.

O método científico inicia-se com um objeto de pesquisa, depois se colhem informações, dados, provas, observa-se e então elabora-se hipóteses, testadas por várias vezes até uma conclusão razoável, sempre provisória, pois na ciência, ao contrário da religião, o aparecimento de novas evidências vai obrigar cientistas a reverem tudo que até então tinham como certos.

O Design Inteligente faz o caminho inverso. Ele já parte da constatação da existência de um criador inteligente, caberia à ciência apenas revelar a grandiosidade de sua criação. Para isso, reúnem-se dados matemáticos, físicos, genéticos e científicos que deixariam claro o quanto o mundo e a vida são complexos e ordenados, algo que não poderia vir do acaso, mas sim de um planejador consciente.

A farsa do DI, obviamente, não tem respaldo na Academia. Um pesquisador que se arrisca a apoiar tal hipótese colocará sua carreira em jogo. Mas eles seguem existindo, sobrevivendo em faculdades confessionais, como a Mackenzie, em publicações “científicas” de Universidades americanas e afins, gozando até de espaço generoso na mídia.

Para a ciência séria, a evolução é o único modelo explicativo da vida e do universo, e não se prestará a competir com nenhuma outra teoria que não goze de alguma credibilidade científica. Pode ser que apareça, mas por enquanto, ir contra o evolucionismo é ir contra a boa ciência. O DI é a farsa do criacionismo num disfarce mequetrefe e patético.  


2 comentários:

  1. Boa análise Adelson!
    Parabéns pela paciência de descrever o que é uma pseudo teoria. Eu não tive a mesma complacência com os muros que me perguntaram sobre o DI, eu apenas disse que é risível e que deveríamos mudar para um assunto mais sério.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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