Adelson Vidal Alves
Em 2014, como resposta as
declarações homofóbicas do então candidato a presidente da República Levy
Fidelix, a comunidade LGBT promoveu uma série de “beijaços gay” em todo o país.
Em um desses atos, chamou atenção o cartaz de um manifestante, onde se lia “A
homofobia só será vencida quando derrubarmos o capitalismo”. A ideia central era relacionar o sistema do
capital a todos às formas de opressão, incluindo a sexual.
No entanto, a dominação
econômica de uma classe sobre outra, não necessariamente inclui repressões de
orientação moral. Pode, sim, ser a gênese de opressões com caráter de gênero. É
o caso da mulher, que dentro da família tradicional burguesa, sofre a
exploração do homem dentro do seu lar famíliar.
Mas no que tange questões
sexuais, o capitalismo pode conviver muito bem com a cada vez mais presente
liberdade sexual. O historiador Eric Hobsbawn certa vez lembrou bem em um dos
seus artigos que o sistema escravocrata não impôs aos escravos nenhum tipo de
obrigação quanto a comportamentos sexuais, demonstrando claramente que a
dominação econômica pode permitir aos oprimidos formas de vivência sexual que
não alteram as relações de dominação classista. No capitalismo, é nítido que o
número de parceiros sexuais de uma mulher, as surubas, ménages e beijaços homossexuais em nada afetam a
estrutura capitalista, ao contrário, em alguns casos pode servir como um
divertimento alienador e até mesmo fonte de lucro. Hoje é cada vez maior o
investimento em sex shop e produtos de exclusividade ao público LGBT.
A fonte, então, para o uso do
preconceito contra práticas sexuais livres, está na cultura, que ao contrário
do que pensa os marxistas ortodoxos, não é reprodução automática da
infraestrutura econômica, mas construção da disputa que se dá na batalha das
ideias, que tem relativa autonomia em relação as bases materiais que sustentam
um determinado modo de produção.
Nesse aspecto, há de se atentar
para a história cultural de cada país, no qual, em grande parte dos casos,
destaca-se o elemento religioso. No Brasil, por exemplo, é forte a presença do
catolicismo romano em nossa história, e sua influência moral atinge milhões de
brasileiros. O protestantismo militante também ganhou força nos últimos anos, e
se constituíram, ambos, como núcleo de resistência a aceitação legal de novas
formas de união e relacionamento sexual.
Em nossa persistente luta
para formarmos nossa república, é de grande importância insistirmos na
caracterização laica da sociedade e do Estado brasileiro. Aqui está o
verdadeiro campo de batalha para que às liberdades individuais, pilar
indispensável em um sistema democrático republicano, seja respeitado também na
esfera sexual. Essa luta, então, não passa necessariamente em derrubar o
capitalismo, até por que, em muitos regimes “socialistas” o comportamento
sexual foi severamente controlado. Até os anarquistas defendiam certos códigos
morais, como o de não beber e edificar relações monogâmicas ainda que sem
casamento. A grande questão é a cultura, e nesse aspecto, o capitalismo está
parcialmente absolvido.