segunda-feira, 25 de abril de 2016

A carta dos artistas de Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves



Uma carta de artistas de Volta Redonda e região contra o impeachment, publicada no último dia 16 de Abril em um jornal de circulação diária no Sul Fluminense, recebeu várias críticas, mas também adesões. O documento acusava um “golpe do Judiciário” contra Dilma, e pedia união de todos pela democracia.

O texto é recheado de contradições e equívocos. A começar pela acusação de “Golpe do Judiciário”, quando o impeachment é prerrogativa constitucional do Congresso Nacional, e o STF apenas fez por estabelecer o rito do julgamento, não tendo poder para reverter a decisão que será sacramentada no Senado. Fala-se ainda em julgamento de exceção, quando todo o caminho processual respeitou as determinações do STF e da Carta Magna, com direito a ampla defesa.  

De forma bisonha, ainda, falam que direitos estão ameaçados, como o de expressão e organização. Mas de onde raios tiraram isso?  E pior, alardeiam a perda de direitos sociais em um eventual governo Temer. O que dizem tais artistas sobre o retrocesso que o governo Dilma aplicou no seguro desemprego, no seguro defeso e na pensão das viúvas? O que dizem sobre a redução de investimentos nas universidades, muitas delas a beira de fecharem as portas? O que dizem eles sobre a inflação, o desemprego e a falta de reformas estruturais? Os direitos que eles reclamam já estão sob risco em todos os governos petistas, todos eles parceiros de banqueiros, latifundiários e grandes empresários.

O mais absurdo, no entanto, é quando pede-se fim da corrupção e acusa-se o juiz Sérgio Moro de “marionete da burguesia nacional”. Patético. Só cegos e cínicos não enxergam a importância da Operação Lava Jato no Brasil, que colocou na cadeia dezenas de criminosos de colarinho branco, e que promete reformular a relação das instituições do país, a exemplo da Operação mãos limpas na Italia. Mas o objetivo da carta não é defender democracia, mas um governo e um partido, por isso o ódio a Moro.

A tristeza é saber que homens e mulheres que deveriam prezar pelo bom debate se prestam ao ridículo de apresentarem um documento tão raso politicamente, cheio de erros grosseiros que põe a nu a total ignorância no assunto, mais parecendo um panfleto rascunhado com informações da Wikipédia.


Para mim, fica claro mais um dos tantos danos petistas a política nacional: a cooptação de setores inteiros da sociedade para dentro do status quo, transformando-os em soldados de uma fantasia esdrúxula convertida em narrativa política. Os artistas de Volta Redonda se prestaram a esse papel. 

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