Por Adelson Vidal Alves
Uma carta de artistas de Volta
Redonda e região contra o impeachment, publicada no último dia 16 de Abril em
um jornal de circulação diária no Sul Fluminense, recebeu várias críticas, mas
também adesões. O documento acusava um “golpe do Judiciário” contra Dilma, e
pedia união de todos pela democracia.
O texto é recheado de
contradições e equívocos. A começar pela acusação de “Golpe do Judiciário”,
quando o impeachment é prerrogativa constitucional do Congresso Nacional, e o
STF apenas fez por estabelecer o rito do julgamento, não tendo poder para
reverter a decisão que será sacramentada no Senado. Fala-se ainda em julgamento
de exceção, quando todo o caminho processual respeitou as determinações do STF
e da Carta Magna, com direito a ampla defesa.
De forma bisonha, ainda, falam
que direitos estão ameaçados, como o de expressão e organização. Mas de onde
raios tiraram isso? E pior, alardeiam a
perda de direitos sociais em um eventual governo Temer. O que dizem tais
artistas sobre o retrocesso que o governo Dilma aplicou no seguro desemprego,
no seguro defeso e na pensão das viúvas? O que dizem sobre a redução de
investimentos nas universidades, muitas delas a beira de fecharem as portas? O que
dizem eles sobre a inflação, o desemprego e a falta de reformas estruturais? Os
direitos que eles reclamam já estão sob risco em todos os governos petistas,
todos eles parceiros de banqueiros, latifundiários e grandes empresários.
O mais absurdo, no entanto, é
quando pede-se fim da corrupção e acusa-se o juiz Sérgio Moro de “marionete da
burguesia nacional”. Patético. Só cegos e cínicos não enxergam a importância da
Operação Lava Jato no Brasil, que colocou na cadeia dezenas de criminosos de
colarinho branco, e que promete reformular a relação das instituições do país,
a exemplo da Operação mãos limpas na Italia. Mas o objetivo da carta não é defender
democracia, mas um governo e um partido, por isso o ódio a Moro.
A tristeza é saber que homens e
mulheres que deveriam prezar pelo bom debate se prestam ao ridículo de
apresentarem um documento tão raso politicamente, cheio de erros grosseiros que
põe a nu a total ignorância no assunto, mais parecendo um panfleto rascunhado
com informações da Wikipédia.
Para mim, fica claro mais um
dos tantos danos petistas a política nacional: a cooptação de setores inteiros
da sociedade para dentro do status quo, transformando-os em soldados de uma
fantasia esdrúxula convertida em narrativa política. Os artistas de Volta
Redonda se prestaram a esse papel.
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