Por Adelson Vidal Alves
Se há uma coisa que me irrita
são professores que se vitimizam. Comparam o exercício docente à mendicância, ridicularizam
a si mesmo como profissionais. Professores, em geral, ganham relativamente bem,
comparados a outras profissões. A grande questão sempre passou pela valorização
do profissional como valorização da educação, ganhando o que realmente é justo
frente ao papel social que cumpre. É disso que sempre reclamamos.
Sim, nós temos férias de 45
dias, licença prêmio a cada 5 anos, licença para fazer mestrado e doutorado,
jornadas de trabalho menores. Conquistas históricas da categoria, ainda
insuficientes, mas que para alguns soam como privilégios. É o caso do colunista
da revista Veja Claudio de Moura Castro, que em recente artigo, intitulado “Professores
ganham mal?” reclamou desses direitos mínimos que desfrutam os professores.
Para o economista, professores
ganham mais do que produzem. Em sua visão, o rendimento salarial deveria ser
compatível com a produtividade do alunado. Iguala-se escola a uma fábrica, que
no caso, funcionaria muito mal, já que os professores seriam em sua maioria
incompetentes. Castro considera absurdo professores terem licença para fazer
mestrado. O próprio chega a dizer que mestres e doutores em nada somam no rendimento
da educação, apesar de ganharem mais. Diz isso sem apresentar nenhuma prova que
corrobore sua afirmação.
O autor do texto, ainda, abusa em fazer contas para mostrar que educadores aposentados passaram mais tempo a
toa do que trabalhando, que a vida laboral docente é pequena devido a subtração
de tempo com o uso dos direitos que usufruem tais profissionais. Sempre sendo substituídos
por gozarem de direitos, seriam todos onerosos para o Estado.
Em tempos onde professores são os
mais atingidos pelos cortes feitos por governos em tempo de crise, onde
burocratas dos judiciários e políticos recebem aumentos astronômicos, Claudio
de Moura Castro resolveu atacar os professores, como se fossem eles os maiores
gastadores do erário público, como se fossem marajás, resmungões privilegiados
que reclamam sem motivo da vida mansa que tem.
Mais que uma opinião, penso que textos como
esse tem objetivos claros de desqualificar as reivindicações legítimas de uma
classe visivelmente desvalorizada. Aqui não é apenas desinformação concretizada
num punhado de asneiras publicadas em um meio de comunicação de circulação
nacional. Aqui há luta de classe.