Por Adelson Vidal Alves
O Escola sem Partido é um
movimento liderado pelo advogado Miguel Nagib e que visa esvaziar a sala de
aula dos conteúdos ideológicos e políticos. Nagib e seus seguidores acreditam
que os alunos das escolas brasileiras estão sendo vítimas de “doutrinação marxista”,
aprendendo desde cedo a serem comunistas através de lavagem cerebral via pedagogia
Paulo Freire. No site do movimento, os educadores são tratados como “militantes
travestidos de professores”.
Na prática, os defensores do
projeto querem, por exemplo, que um professor de história não ensine apenas que
a ditadura foi um horror contra as liberdades, querem, também, que se coloque
do lado dos conteúdos oficiais a tese de que os militares de 64, na verdade,
salvaram o Brasil de um golpe comunista. Dizem que é preciso ouvir os dois lados.
Ora, imaginem vocês se um grupo
de ufólogos exigisse que se ensinassem aos alunos que as pirâmides do Egito
foram construídas por ETs. Acredito que a grande maioria ia dar risadas.
Afinal, que evidência temos de mãos alienígenas na não mais tão misteriosa obra
egípcia? Da mesma forma, carecemos de evidências históricas quanto a tese da
ditadura como uma “salvação democrática anti-comunista”. Nenhuma historiografia
séria, liberal, marxista ou até positivista, concordaria com tamanha aventura. Professores
devem partir do conhecimento produzido cientificamente, e não por achismos e paranoias
cheias de ideologias.
O ESP, ainda, ataca Paulo
Freire, como sendo ele a referência metodológica para a tal doutrinação
escolar. O grande educador brasileiro de fato propôs (leiam que escrevi “propôs”)
uma escola libertadora, que pudesse despertar o senso crítico nos alunos, algo
bem distante de se doutrinar. Aliás, qualquer professor lúcido sabe que nossas
escolas doutrinam desde sempre, não para uma revolução comunista, mas para
serem “vitoriosos” na vida, passarem nos vestibulares, consumirem conteúdos e
depois vomitarem em exames externos. A serem obedientes, a cultivar a família tradicional
etc. Fosse a tal "doutrinação marxista" um sucesso cabe perguntar: onde estão os mini-comunistas? Montando
vanguardas infantis revolucionárias? Não, estão pelas salas de aula robotizados
em celulares e redes sociais.
A escola atual segue
fracassada, não por que comunistas malvados estão ensinando criancinhas a
odiarem burgueses e a propriedade privada, mas por ser ultrapassada, conteudista,
sem preocupação em se criar homens e mulheres autônomos. O ESP quer abolir ideologias usando de ideologia, dizem lutar pela liberdade de expressão
querendo anular a liberdade de expressão dos professores. O pior, é que tamanha
insanidade encontra apoio em mentes incautas, e todo esse absurdo acaba por
ameaçar conquistas importantes da concepção democrática de escola. Cabe a nós, defensores
do pluralismo pedagógico democrático, enfrentar esse monstro.
Link para votar contra o Escola Sem Partido. https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=125666
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