terça-feira, 19 de julho de 2016

Sobre educação, Paulo Freire e o Escola Sem Partido

Por Adelson Vidal Alves



O Escola sem Partido é um movimento liderado pelo advogado Miguel Nagib e que visa esvaziar a sala de aula dos conteúdos ideológicos e políticos. Nagib e seus seguidores acreditam que os alunos das escolas brasileiras estão sendo vítimas de “doutrinação marxista”, aprendendo desde cedo a serem comunistas através de lavagem cerebral via pedagogia Paulo Freire. No site do movimento, os educadores são tratados como “militantes travestidos de professores”.

Na prática, os defensores do projeto querem, por exemplo, que um professor de história não ensine apenas que a ditadura foi um horror contra as liberdades, querem, também, que se coloque do lado dos conteúdos oficiais a tese de que os militares de 64, na verdade, salvaram o Brasil de um golpe comunista.  Dizem que é preciso ouvir os dois lados.

Ora, imaginem vocês se um grupo de ufólogos exigisse que se ensinassem aos alunos que as pirâmides do Egito foram construídas por ETs. Acredito que a grande maioria ia dar risadas. Afinal, que evidência temos de mãos alienígenas na não mais tão misteriosa obra egípcia? Da mesma forma, carecemos de evidências históricas quanto a tese da ditadura como uma “salvação democrática anti-comunista”. Nenhuma historiografia séria, liberal, marxista ou até positivista, concordaria com tamanha aventura. Professores devem partir do conhecimento produzido cientificamente, e não por achismos e paranoias cheias de ideologias.

O ESP, ainda, ataca Paulo Freire, como sendo ele a referência metodológica para a tal doutrinação escolar. O grande educador brasileiro de fato propôs (leiam que escrevi “propôs”) uma escola libertadora, que pudesse despertar o senso crítico nos alunos, algo bem distante de se doutrinar. Aliás, qualquer professor lúcido sabe que nossas escolas doutrinam desde sempre, não para uma revolução comunista, mas para serem “vitoriosos” na vida, passarem nos vestibulares, consumirem conteúdos e depois vomitarem em exames externos. A serem obedientes, a cultivar a família tradicional etc. Fosse a tal "doutrinação marxista" um sucesso cabe perguntar: onde estão os mini-comunistas? Montando vanguardas infantis revolucionárias? Não, estão pelas salas de aula robotizados em celulares e redes sociais.

A escola atual segue fracassada, não por que comunistas malvados estão ensinando criancinhas a odiarem burgueses e a propriedade privada, mas por ser ultrapassada, conteudista, sem preocupação em se criar homens e mulheres autônomos. O ESP quer abolir ideologias usando de ideologia, dizem lutar pela liberdade de expressão querendo anular a liberdade de expressão dos professores. O pior, é que tamanha insanidade encontra apoio em mentes incautas, e todo esse absurdo acaba por ameaçar conquistas importantes da concepção democrática de escola. Cabe a nós, defensores do pluralismo pedagógico democrático, enfrentar esse monstro.


Um comentário:

  1. Link para votar contra o Escola Sem Partido. https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=125666

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