quarta-feira, 6 de julho de 2016

O surto da intelectualidade petista

Por Adelson Vidal Alves



O PT sempre se serviu bem de intelectuais. Florestam Fernandes, Francisco Weffort, Denis Rosenfield, Carlos Nelson Coutinho, Ricardo Antunes, Leandro Konder, Francisco de Oliveira são alguns nomes de peso que compuseram o núcleo de construção do pensamento original petista, este que na verdade jamais se formou com clareza, isto é, sem apresentar de fato que tipo de socialismo ou de sociedade igualitária desejava-se para o Brasil. Ainda sim, do PT, partiram grandes reflexões teóricas, sobretudo, nos períodos de oposição do partido.

Mas a chegada de Lula ao poder central da República brasileira criou uma grande cisão nesta intelectualidade. Parte dela ficou insatisfeita com o programa moderado apresentado pelo novo governo, que praticamente repetia, principalmente na economia, tudo que se criticara nos governos anteriores. A política de alianças também foi ponto importante para que acadêmicos então petistas rompessem com a gestão de Lula e migrassem para variadas partes da política brasileira, de extrema-esquerda, centro-esquerda, centro e até mesmo conservador. A intelligentsia petista se fragilizou, e o que sobrou no seu seio intelectual foi convertido a ideólogos desprovidos de críticas, militantes de uma causa partidária, e não de um sonho, que teria movido milhões de brasileiros no decorrer da década de 1980.

Emir Sader foi um dos que ficaram. O sociólogo, um dos mais empolgados lulistas que se tem conhecimento, escreveu com otimismo “a vingança da história”, logo após a vitória do ex-operário para presidência da república. Literalmente convocado para formular uma teoria da era lulo-petista, protagonizou episódios bizarros, quando foi demitido sem ter sido nomeado a  responsável pela Casa Rui Barbosa. Ele chamou a então ministra da cultura Ana de Hollanda de autista. Foi demitido sem ter sentido o gosto do poder, que sempre desejou com o sonho de um dia assumir o Minc. Nos seus piores momentos chamou manifestantes do MTST de vira-latas, foi machista com a mulher de Michel Temer e xingou o Juiz Sérgio Moro.

Uma segunda figura intelectual do neo-petismo é a filósofa Marilena Chauí. Depois de anunciar silêncio frente ao escândalo do mensalão, que atingiu em cheio a cúpula petista, ela voltou a cena em um evento público destilando ódio contra a classe média, a quem atacou com adjetivos dos mais fortes, num tom de delírio odiento. Seu comportamento trouxe perplexidade até mesmo aos seus antigos colegas da esquerda petista. No entanto, nada se compara ao papel que hoje ela se propõe a cumprir.

Em vídeo recente, Chauí acusou a Lava-Jato de ser na verdade um trama obscuro para roubar o pré-sal do Brasil. A prova? Nas palavras inacreditáveis da filósofa uspiana estaria no fato de que o Juiz Sergio Moro, responsável pela operação que desmontou um mega-esquema de corrupção na Petrobrás, teria sido treinado pela CIA. Na mesma linha, em uma prova cabal de discurso orquestrado, veio o teólogo Leonardo Boff, que acusou Moro de tentar alinhar o Brasil aos interesses geopolíticos do nosso vizinho do Norte.

Percebe-se que a reflexão crítica da intelectualidade petista se converteu em serviço ideológico e midiático, onde a defesa de um partido se sobrepõe aos princípios programáticos, aos interesses nacionais e aos valores mais caros a quem um dia se propôs a ser força de mudança num país injusto para um país mais democrático e solidário. O fim destes intelectuais não podia ser pior. Surtaram!



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