sexta-feira, 31 de março de 2017

Reflexões de um homem sem fé

Por Adelson Vidal Alves



Minha visão de mundo é pessimista. Para mim, a vida é um acidente cósmico que nos legou uma terrível maldição: a consciência de nossa finitude. Isso é terrível. Além do mais, sofremos com nossos medos e solidão. Temos medo da morte, de doenças incuráveis, de um filho que possa nascer com deficiência, de perder o emprego, de não ser correspondido pela pessoa amada. No entanto, reagimos, criamos Deus e as religiões, de alguma forma eles conseguem driblar uma sentença tão cruel como a sentença da morte.

Deus, é assim, fruto de nossa construção como seres racionais. Se foi de forma consciente ou não, difícil saber, mas de alguma forma, o consolo de uma força amorosa suprema que cuida de todos nós foi bem recebido.

Mas o Deus ocidental é coisa das nossas vontades. Se não me engano foi o empirista David Hume que disse que não foi Deus que nos fez a sua imagem e semelhança, mas nós que projetamos nele o nosso ser. E o fizemos com seletividade, dando-lhe os atributos mais belos, o que sobrou de ruim ficou com o pobre do diabo. E assim, o cristianismo explica o mundo por esse maniqueísmo, uma eterna luta entre o poderoso velhinho de barbas brancas e o tinhoso chifrudo e fedorento.

O que escrevi, porém, é a humilde opinião de um agnóstico. Essas pessoas que não creem em Deus, mas porque não podem prova-lo. Até admitem que podem estar errados, mas aqui, na nossa pobre existência terrena, jamais saberemos. Por isso, apostamos em um mundo sem Deus, uma preocupação a menos para a nossa já atarefada existência.

O agnóstico, e também o ateu, diante de um mundo predominantemente teísta, sofre. Arrisco a dizer que gays e negros sofrem menos preconceitos que criaturas que não tem fé. Em nós, é rotulada a figura do pobre coitado, carente da verdade, o condenado ao castigo eterno. Para alguns, é o próprio demônio que ali habita.

Só que a falta de fé não deveria ser um problema dentro de um mundo cheio de ciência e com avanço dos pensamentos influenciados pelo iluminismo. De alguma forma, saímos do cativeiro da superstição e da fé que engolia todas as esferas do conhecimento humano. Deus deveria se recolher ao espaço da vida privada, mas se espalhou em forma de um manual de comportamento social, imposto a todos, por lei, feita por bancadas parlamentares religiosas ou imposta pela cultura.

É difcil entender que ainda haja olhares condenatórios pela fé nos dias de hoje, mas infelizmente há. O inferno segue sendo o melhor lugar para aqueles que não aceitam ou não entendem o silêncio omisso de uma suposta divindade boa e onipotente diante da tragédia mundana. No fim penso: se Deus pode fazer tudo e não quer fazer, é cruel, se quer fazer e não pode, é limitado, se pode e quer fazer, porque não faz? São dilemas da nossa existência, crente ou não.


segunda-feira, 27 de março de 2017

Ineficiência e micos de Samuca fortalecem Neto

Por Adelson Vidal Alves



Falso chanceler, crise de falta d’água, assessores ostentadores, bagunça no trânsito, outdoors mal feitos, mudanças de secretários, derrota em eleição de conselheiros de um clube. É por tudo isso que Samuca vem sendo lembrado em menos de 100 dias de governo, até um apelido bem humorado foi dado ao prefeito: SaMICO.

O despreparo do prefeito, muito mais que jogar sua popularidade lá em embaixo, afastar apoios e trazer desconfiança na população, pode estar produzindo a recuperação da imagem do ex-prefeito Neto, em queda durante o período eleitoral. E aqui Samuca também tem culpa. Isso por que desde que assumiu o Palácio 17 de Julho promove uma perseguição insana e estrategicamente equivocada a seu antecessor. De inicio fez um estardalhaço para anunciar um rombo nas contas da prefeitura, que durante as eleições todos os candidatos avisaram de sua existência, exceto ele, que sempre minimizou a gravidade do assunto defendendo que o que faltava era “gestão”. Também produziu um dossiê e recentemente tentou adentrar no "território inimigo" querendo uma vaga no conselho do clube que o ex-prefeito Neto reina desde sempre. O resultado? Levou uma surra e sequer conseguiu ser eleito.

Volta Redonda é uma cidade que sofreu o sufoco da política durante 20 anos. A era Neto cooptou a imprensa, os partidos, os movimentos sociais e as associações de moradores. Pouca movimentação política somada a uma oposição raivosa e sem projeto perpetuou a figura de Neto, que vinha se esgotando, mas sem ter uma candidatura de oposição que, de fato, conseguisse unir a cidade por uma saida democraticamente saudável e responsável. O que restou foi o triunfo de um aventureiro, que surfou na onda do “apolítico gestor” e arrebanhou uma multidão de desesperados esperançosos confiantes no triunfo de um líder messiânico, limpo da sordidez que prevaleceria na política tradicional.

Mas este “messias” (no caso, Samuca) não reuniu as condições necessárias para suprir essa esperança no governo, atender este vácuo político que apareceu. Ao contrário. Nomeou um secretariado apático, assessores atrapalhados e não conseguiu apresentar uma agenda de reformas administrativas e fiscais capazes de sinalizarem para o empresariado, os movimentos sociais e o povo voltarredondense uma governabilidade eficiente.

Tudo isso ressuscitou o ex-prefeito Neto, que do seu anonimato temporário vê sua figura avançar e ganhar forças num vazio político que teima em não ser ocupado. Nenhuma força política se projeta para assumir uma posição que vá além de Neto e do aventureirismo oportunista de Samuca. Para as pessoas comuns, o fracasso de Samuca significa imediatamente a necessidade do retorno de Neto “nos braços do povo”.


Ainda é cedo, mas se o prefeito seguir assim, sem projeto e liderança, verá a imagem do seu antecessor crescer e retomar a consciência popular. Estará reaberto o espaço de poder. Ou se organiza um novo bloco político, novo e equilibrado, que supere a dicotomia Samuca x Neto, ou o ex-prefeito poderá, de forma prematura, assumir o papel do messias que um dia foi de Samuca. 

domingo, 26 de março de 2017

Volta, FHC

Por Adelson Vidal Alves



Xico Graziano, em artigo recente na Folha de São Paulo, pediu o retorno de FHC. Seu texto foi publicado em Novembro de 2016. Aqui, repito o titulo do seu artigo e reforço seu pedido: Volta, FHC. Mais do que nunca precisamos de um homem do porte do ex-presidente.

O momento em que vivemos é um dos mais graves de nossa história republicana. Após o correto impeachment de Dilma, clamou-se por um governo que fosse capaz de reconciliar a nação, aplicar reformas que equilibrassem as contas públicas com o menor prejuízo possível para o povo brasileiro. Temer, apesar do esforço respeitável em sua política econômica, carece de liderança e legitimidade para fazer os ajustes que o Brasil precisa. Enfrenta impopularidade, e demonstra pouca habilidade para convencer os brasileiros da necessidade de se reformar o Estado. Ao contrário, as mudanças que vem propondo na previdência, na educação e no regime das contas do governo são reprovadas de forma maciça por quase todos os setores de nossa sociedade. O presidente não consegue pactuar o país e estabelecer consensos.

Na sombra de Temer, a possibilidade de sua saída por uma cassação da chapa que o elegeu vice-presidente de Dilma. Caso caia, é o congresso nacional quem decidirá o mandatário maior da nação até as eleições de 2018. Aqui entraria FHC.

De forma indireta, ou direta, o retorno de Fernando Henrique Cardoso à presidência seria o alento que nossa república precisa. Ele tem respaldo nos setores pensantes do país, respeito internacional e confiança do grande empresariado e também do sistema financeiro. Assim como foi importante na vitória sobre a inflação e a consolidação de nossa democracia, FHC chegaria mais uma vez para reorganizar o Brasil indo além desta crise que o PT nos meteu.

Com ele poderíamos encaminhar soluções conjuntas num grande pacto entre nação e o Estado com suas instituições. Um reformismo aos moldes que fez nos seus 8 anos de governo irá recuperar a economia, colocar a política no seu lugar democrático e sarar as chagas produzidas pela polarização estúpida alimentada pelo PT e o seu próprio partido.


É FHC o nome ideal para chamar o povo para uma conversa nacional, arrumar a bagunça da corrupção, solidificar o país economicamente. Uma saída social-democrata, com um Estado no tamanho certo, intervindo democraticamente no mercado, incentivando o crescimento nacional em diálogo com o mundo globalizado. Ninguém melhor que FHC para tomar essa missão nas mãos. 

segunda-feira, 20 de março de 2017

PPS: 25 anos construindo a esquerda democrática

Por Adelson Vidal Alves



O PPS (Partido Popular Socialista) é herdeiro democrático da tradição comunista do antigo PCB (Partido Comunista do Brasil). No X Congresso do partido, realizado em São Paulo, foi feita a transição do nome, representando uma mudança de rumos na vida partidária, que refletia as transformações mundiais vindas da queda do muro de Berlim e o esgotamento do “socialismo real”. A maior parte dos filiados entendeu a necessidade de repensar as diretrizes programáticas e superar dogmas, vencendo o grupo minoritário conservador.

A vida política do PPS tem sido um esforço valoroso de construir no Brasil um campo político de caráter reformista, no qual a democracia é tida como valor inegociável da vida social. A Constituição é o principal programa, centro jurídico de uma conquista histórica de liberdades e direitos cidadãos jamais vistos em nossa história.

O partido interviu lucidamente em momentos decisivos de nossa história, quando, por exemplo, apoiou o governo de Itamar Franco logo após o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Esteve ao lado da maior parte das forças políticas do país, tendo como exceções apenas o PT e o PDT, que desde cedo ocuparam o campo da oposição ao governo de centro-esquerda que se iniciava.

A vocação democrática popular socialista se confirmou em documentos onde o partido rejeitava toda e qualquer iniciativa golpista, como as incentivadas pelo PT, que pretendia interromper governos eleitos democraticamente com impeachment sem crime.

Este PT, no entanto, recebeu o apoio do partido em várias ocasiões, como em 2002. O PPS via em Lula o melhor caminho para um projeto que atendesse o povo brasileiro. Com os desvios do governo petista eleito, o PPS foi corretamente para a oposição, e desde então denuncia os caminhos tortos de um projeto de poder criminoso, que teve fim pela aprovação de um impedimento da presidente Dilma em 2016.

Hoje, o PPS da sustentação ao governo de Temer, que substitui Dilma. A decisão do apoio recebe críticas de simpatizantes, e joga a legenda em situações difíceis, como a de ter que referendar reformas polêmicas, que para alguns, significa retirada de direitos. No governo Temer, o PPS é representado no Ministério da defesa e no MINC, com Roberto Freire, sua principal liderança.

O partido que completa 25 anos comemora seus anos de prestação de serviço na construção da democracia brasileira, de uma persistente defesa do Estado de direito e a Constituição cidadã de 1988. Sua intervenção na vida pública nacional é orientada por sua inabalável convicção de que o Brasil precisa avançar, mas sem jamais comprometer a institucionalidade que sustenta nossa República.

O PPS quer uma esquerda democrática, capaz de ser referência na criação de um bloco de poder que mude o Brasil democraticamente, trabalhando no consenso e em respeito com o sistema representativo que caracteriza a vida institucional do país. Aos 25 anos do PPS, meus parabéns. Vida longa a democracia brasileira!


sábado, 18 de março de 2017

Sabe o que falta no governo Samuca? Projeto de cidade

Por Adelson Vidal Alves



Não completamos sequer 100 dias de governo Samuca e ele já está completamente perdido. Seu começo foi caricato, o prefeito resolveu dar provas de sua “humildade” indo de ônibus e bicicleta para o trabalho. Pegou mal. A população logo identificou que o que ele queria mesmo era aparecer, não sinalizar para uma governança popular. A estratégia de marketing pessoal, que deu certo com muitos governantes, não funcionou com Samuca, falta a ele liderança, carisma e uma capacidade de comunicação com o povo.

Passado o tempo, vieram os primeiros problemas mais graves. Volta Redonda enfrentou (e enfrenta) uma crise de abastecimento de água jamais vista em sua história, falta água quase todo dia. Sem medo de se mostrar ridículo, o governo resolveu inventar a tese de uma suposta sabotagem na autarquia de abastecimento de água, o SAAE. Aqui também a narrativa não funcionou, e seu discurso de gestor foi questionado. Então, foi levantada por Samuca a possibilidade nefasta de privatizar a autarquia. Ele anunciou um seminário que discutirá esta possibilidade. A medida é impopular e o prefeito voltou atrás para dizer que nunca falou em privatização.

Porém, o mais cômico ainda estava por vir. Um chanceler “fake” apareceu em Volta Redonda e Samuca acolheu o mentiroso com honrarias de Estado. O prefeito acreditou que do Qatar poderia vir os recursos que nossa cidade precisa. Santa Paciência! É preocupante que um chefe de governo tome decisões sem ter o mínimo de cuidado de consultar fontes. Um descuido primário de quem abre a porta para estranhos.

Mas porque em tão pouco tempo Samuca acumulou tantos vexames e desencontros? A resposta é simples: falta projeto de cidade.

Para se governar seriamente é necessário uma visão coesa e coerente de governo. Ter planejamento, estratégias, caminhos de viabilização e, principalmente, a construção de uma base de governo. Nada disso aconteceu. Volta Redonda é governada sem rumo, parece que o prefeito sai ouvindo todo mundo, toma medidas que se chocam no caminho. Falta direção. 

Quem pensa a cidade sabe que é necessário um reformismo urgente, que altere a estrutura de funcionamento da máquina pública. É preciso enxugar a folha de pagamento, fundir secretarias, cortar gastos, equilibrar as contas públicas. Mas para que isso aconteça é necessário um governo, com sustentação na sociedade, no parlamento e de clara proposta programática. Samuca não tem isso. Falta hoje credibilidade e força para que medidas impopulares e necessárias sejam tomadas, no primeiro grito Samuca recua.

Um projeto de cidade deveria ter vindo das eleições, mas sabemos que não veio. Então é necessário que ele seja construído agora, com inteligência, abertura e diálogo, mas, sobretudo, com a convicção governamental de um caminho a ser trilhado. A desorganização, até agora evidente, no entanto, mostra que a cada dia Samuca pensa por uma cabeça. O timão, pelo jeito, não está com ele. O preço dessa falta de liderança ele já começa a pagar.


sexta-feira, 10 de março de 2017

Carta aberta ao prefeito Samuca Silva



Ilustríssimo senhor prefeito de Volta Redonda Samuca Silva,


Não nos conhecemos, a não ser por um dia em que papeamos rapidamente na porta de uma faculdade, o senhor panfletava, quase que solitário, sua campanha para vereador. Já na época o senhor mostrava ambição, dizia que seria eleito, mas mostrava uma utopia bacana em relação à cidade. Até que era bom de papo. Se não me engano, sua votação ficou bem abaixo da expectativa, teve 464 votos.

Contudo, em 2016, o senhor “lavou a alma”. Foi eleito prefeito com uma votação expressiva, derrotando figuras históricas da política da cidade. Eu votei contra o senhor. Tua candidatura não mostrou projeto de cidade, não compôs um bloco político que falasse por alguma visão política, o senhor se resumiu a dizer que era gestor e que o mundo da política não prestava, que era preciso do “novo”, aquele que governa com técnica e sem acordos políticos. Bem, a maioria dos votos válidos acreditou em você, e o senhor tomou posse no dia 1 de Janeiro levando a esperança de milhares de pessoas de que tudo seria diferente. O “mundo nojento da política” iria ser substituído por uma governança técnica, sem conchavos, sem acordos, sem partidos e sem conluios parlamentares. Aqui residiu sua principal promessa falsa.

Ninguém governa isolado, ninguém governa sem política, ninguém governa sem acordos, ninguém governa só com currículos. É possível e necessário que governos estabeleçam consensos construídos sobre conversas dentro de critérios éticos. O senhor, por enquanto, não vem conseguindo fazer isso.  Quando apresentou sua equipe, teu partido reclamou (com razão) que não tinha sido representado no secretariado. Aliás, na campanha, o senhor falou contra o programa do PV. Lembra?

Além do mais, teu secretariado veio em fórmula de currículo lattes. Os diplomas poderiam governar sozinhos? Até agora, pelo que vejo, a resposta é não.

Reina no Palácio 17 de Julho uma comunicação interna muito ruim. Um de seus assessores divulgou uma página fake na internet que anunciava um concurso público falso da prefeitura de Volta Redonda, não te avisaram que professores recebem férias quando acaba o ano letivo, não te alertaram o ridículo que seria fazer vídeos pessoais do senhor indo de ônibus e bicicleta para o trabalho. E de quem foi a péssima ideia de governar com o retrovisor atacando o ex-prefeito? O senhor chegou agora, para que fazer papel de fiscal de governo anterior? O senhor não é mais controlador geral de um Conselho Federal, é prefeito, chefe do Executivo. Arrumar um inimigo poderoso e inteligente não é a atitude mais acertada de um recém-empossado. Leia Maquiavel e vai ver que tenho razão.

Mas eu não sou, como alguns de seus subalternos dizem por ai, um recalcado. Reconheço acertos em seu governo, e também bons nomes. Na Saúde, Marcia Cury é um exemplo de profissionalismo, é competente. Ela não tinha sido o seu primeiro nome para a pasta, o destino te ajudou. Também soube de seu interesse pela tecnologia verde e que também deixará o ambientalista Julio Ferreira por conta deste projeto. Excelente escolha. O senhor manteve dois outros bons nomes no governo, que conheço pessoalmente. Lela na elétrica e Jadiel de Barros Teixeira no Zoológico. Este último, aliás, fez um trabalho extraordinário durante o governo Neto, mas nem ele e nem o senhor valorizaram ou valorizam. Aliás, quem manda no seu governo é gente que eu manteria distância.

Por fim, sem querer me estender, devo dizer que, de certa forma, torço por você (ainda que possa estar na oposição). Se a cidade quebrar eu também quebro a cara, dependo deste município para viver.

No entanto, estou pessimista. O senhor me parece perdido, a cidade caminha para um pequeno caos, nenhum bom projeto é apresentado, as contas do município pedem socorro sem que o senhor aplique a austeridade necessária.

Está na hora de deixar o personagem e governar. Chame os partidos, os movimentos, o parlamento. Monte um governo, trace metas, enxugue a máquina pública, afaste-se de quem tem te levado a constrangimentos públicos. Assuma a política, a democracia, dialogue com os adversários, aceite a oposição como força legitima em um regime democrático. Faça cortes na própria carne, arrume a bagunça dos últimos anos, assim, em breve, poderá ostentar para blogueiros chatos os bons números da sua administração. Até agora, o senhor só pode ostentar ineficiência, gafes e constrangimentos. Infelizmente.

Abraços,

Adelson Vidal Alves.




quinta-feira, 2 de março de 2017

Por que Samuca perde popularidade tão cedo?

Por Adelson Vidal Alves



Estive entre aqueles que podia apostar em uma longa lua de mel do prefeito Samuca com a cidade de Volta Redonda. Ele chegou ao poder com o voto avassalador de uma multidão fanática, que mal queria saber quais eram os seus projetos. Tratava-se do “novo”, do “gestor apolítico”, “aquele que não faz acordos” e governa só com suas técnicas administrativas. O discurso certo, ainda que desarticulado, alcançou as massas e fez o jovem verde chegar surpreendentemente ao Palácio 17 de Julho. Mas por que, pouco mais de 60 dias depois de sua posse, ele tem perdido toda aquela carga eufórica de seus apoiadores? Por que anda tão apagado? Por que sua popularidade caiu? Por que seus antigos aliados hoje vão às redes sociais fazerem críticas tão fortes a seu mandato?

Perguntas difíceis de responder, mas me parece claro alguns erros primários de seu inicio de gestão.

Samuca não construiu base de governo institucional. Foi à câmara algumas vezes, mas não formou uma base parlamentar sólida em torno de uma visão de governabilidade. Caso formasse um governo de fato, poderia já ter encaminhado reformas impactantes, como as prometidas reformas administrativa e fiscal. Até agora Samuca segue com a mesma máquina inchada da era Neto e nenhum anuncio de cortes de gastos foi anunciado, ele segue gastando da mesma forma que seu antecessor. Poderia ter fundido secretarias, eliminado cargos comissionados, reduzido custos, mas nada disso foi feito.

Samuca também não escalou um time de peso em seu secretariado. A forma confusa que escolheu seus subordinados já lhe rendeu duas substituições feitas sem explicações claras. E pior, nenhum grande projeto saiu da cabeça de seus “gestores” de currículos longos.

Ao que parece, também, Samuca escolheu mal seu principal adversário. Com a ingenuidade de quem nunca leu Maquiavel, resolveu fazer o ex-prefeito Antonio Francisco Neto seu bode expiatório. Faltou um assessor inteligente para lhe aconselhar que o melhor seria deixar a figura de Neto desaparecer no tempo, não querer peitá-lo de forma tão pirracenta. Teve que aprender com a dor, tanto é que, ao encaminhar à câmara um dossiê sobre a gestão de Neto, fez sem seus conhecidos alardes, nem a imprensa ficou sabendo.

Na vida real, Samuca tem que enfrentar a crise no abastecimento de água, mais de R$ 500 milhões em dívida, um funcionalismo descontente e denúncias constantes envolvendo pessoas próximas a ele.


Já não bastam os vídeos, já não basta o sorrisinho forçado, chegou a hora de governar. Se Samuca for inteligente, começa hoje a mudar sua equipe de governo e anuncia, o mais rápido possível, um pacote de medidas e reformas que sinalizem à população algum sinal de mudança, de modernização dos serviços básicos. Do contrário, terá sua administração abreviada. Depois não diga que esse blogueiro não avisou.