Por Adelson Vidal Alves
Minha visão de mundo é
pessimista. Para mim, a vida é um acidente cósmico que nos legou uma terrível
maldição: a consciência de nossa finitude. Isso é terrível. Além do mais,
sofremos com nossos medos e solidão. Temos medo da morte, de doenças
incuráveis, de um filho que possa nascer com deficiência, de perder o emprego,
de não ser correspondido pela pessoa amada. No entanto, reagimos, criamos Deus
e as religiões, de alguma forma eles conseguem driblar uma sentença tão cruel
como a sentença da morte.
Deus, é assim, fruto de nossa
construção como seres racionais. Se foi de forma consciente ou não, difícil saber,
mas de alguma forma, o consolo de uma força amorosa suprema que cuida de todos
nós foi bem recebido.
Mas o Deus ocidental é coisa
das nossas vontades. Se não me engano foi o empirista David Hume que disse que
não foi Deus que nos fez a sua imagem e semelhança, mas nós que projetamos nele
o nosso ser. E o fizemos com seletividade, dando-lhe os atributos mais belos, o
que sobrou de ruim ficou com o pobre do diabo. E assim, o cristianismo explica
o mundo por esse maniqueísmo, uma eterna luta entre o poderoso velhinho de barbas
brancas e o tinhoso chifrudo e fedorento.
O que escrevi, porém, é a humilde opinião de um agnóstico. Essas pessoas que não creem em Deus, mas porque não
podem prova-lo. Até admitem que podem estar errados, mas aqui, na nossa pobre
existência terrena, jamais saberemos. Por isso, apostamos em um mundo sem Deus,
uma preocupação a menos para a nossa já atarefada existência.
O agnóstico, e também o ateu,
diante de um mundo predominantemente teísta, sofre. Arrisco a dizer que gays e
negros sofrem menos preconceitos que criaturas que não tem fé. Em nós, é rotulada
a figura do pobre coitado, carente da verdade, o condenado ao castigo eterno. Para
alguns, é o próprio demônio que ali habita.
Só que a falta de fé não
deveria ser um problema dentro de um mundo cheio de ciência e com avanço dos
pensamentos influenciados pelo iluminismo. De alguma forma, saímos do cativeiro
da superstição e da fé que engolia todas as esferas do conhecimento humano.
Deus deveria se recolher ao espaço da vida privada, mas se espalhou em forma de
um manual de comportamento social, imposto a todos, por lei, feita por bancadas
parlamentares religiosas ou imposta pela cultura.
É difcil entender que ainda haja
olhares condenatórios pela fé nos dias de hoje, mas infelizmente há. O inferno
segue sendo o melhor lugar para aqueles que não aceitam ou não entendem o
silêncio omisso de uma suposta divindade boa e onipotente diante da tragédia
mundana. No fim penso: se Deus pode fazer tudo e não quer fazer, é cruel, se
quer fazer e não pode, é limitado, se pode e quer fazer, porque não faz? São
dilemas da nossa existência, crente ou não.
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