Por Adelson Vidal Alves
Houve tempo em que vivemos
imaginando ser o Planeta Terra o centro do universo e que o sol girava em torno
dele. O ser humano seria um ser especial, dotado de um plano cósmico
carinhosamente preparado por um criador cuidadoso e perfeito. Com o advento da
ciência moderna, descobrimos pasmos que a Terra gira em torno do sol, que na
imensidão do universo nosso planetinha é uma poeira cósmica insignificante, e
que o ser humano é apenas parte de uma cadeia evolutiva que envolve igualmente
toda a vida que encontramos por aqui. Um golpe quase mortal na religião.
Diante da nova realidade,
muitos aceitaram as descobertas científicas e readaptaram seus
pensamentos, ou simplesmente ignoraram a ciência, afinal, a religião tem o
papel de nos dar direção moral e apontar caminhos de salvação eterna, não para
explicar porque ficamos gripados ou morremos, deixem isso para os cientistas.
No entanto, há quem batesse e bata o pé recusando a acolher a teoria da
evolução, o Big Bang, a datação da Terra em 4,5 bilhões de anos. Para essas pessoas,
a espécie humana sempre foi exatamente como é hoje, o Planeta Terra tem no
máximo 10 mil anos e o Big Bang tão somente o momento da criação narrada com
detalhes na bíblia. O pior, fazem tais declarações jurando estarem em acordo
com o conhecimento científico.
Os criacionistas ou fixistas, como
ficaram conhecidos os grupos que fazem tais colocações, tentaram reunir falhas
na teoria da evolução, e demonstrar que o conhecimento científico construido
até hoje está lá nas páginas do Gênese, o primeiro livro da bíblia que narra a
lenda de Adão e Eva. O esforço foi tão ridículo que até entre os setores
religiosos o chamado “criacionismo científico” perdeu respeito, era apenas o forçar
de barra de pseudo-cientistas como o cômico físico brasileiro Adauto Lourenço,
que jura ter provas que a arca de Noé existiu e que o Homo Sapiens conviveu com
os dinossauros.
O contra-ataque criacionista,
todavia, apareceu recentemente, e responde pelo nome Design Inteligente
(Desenho Inteligente), com uma proposta aparentemente mais sofisticada e que
goza do apoio de cientistas renomados, como o bioquímico norte-americano Mchael
Behe, autor de “A Caixa Preta de Darwin”. Segundo esta “teoria”, o planeta, o cosmos e a
vida apresentariam uma ordem e complexidade que só poderia ter sido desenhada
por uma mente inteligente. Não é preciso ter um grande Curriculum Lattes em
ciência para saber que não passa de um truque fajuto do criacionismo, bem longe
do conhecimento científico.
O método científico inicia-se
com um objeto de pesquisa, depois se colhem informações, dados, provas,
observa-se e então elabora-se hipóteses, testadas por várias vezes até uma
conclusão razoável, sempre provisória, pois na ciência, ao contrário da
religião, o aparecimento de novas evidências vai obrigar cientistas a reverem
tudo que até então tinham como certos.
O Design Inteligente faz o
caminho inverso. Ele já parte da constatação da existência de um criador
inteligente, caberia à ciência apenas revelar a grandiosidade de sua criação.
Para isso, reúnem-se dados matemáticos, físicos, genéticos e científicos que
deixariam claro o quanto o mundo e a vida são complexos e ordenados, algo que
não poderia vir do acaso, mas sim de um planejador consciente.
A farsa do DI, obviamente, não
tem respaldo na Academia. Um pesquisador que se arrisca a apoiar tal hipótese
colocará sua carreira em jogo. Mas eles seguem existindo, sobrevivendo em
faculdades confessionais, como a Mackenzie, em publicações “científicas” de
Universidades americanas e afins, gozando até de espaço generoso na mídia.
Para a ciência séria, a
evolução é o único modelo explicativo da vida e do universo, e não se prestará
a competir com nenhuma outra teoria que não goze de alguma credibilidade
científica. Pode ser que apareça, mas por enquanto, ir contra o evolucionismo é
ir contra a boa ciência. O DI é a farsa do criacionismo num disfarce mequetrefe
e patético.