Por Adelson Vidal Alves
Janio Quadros foi eleito
presidente da República do Brasil em Outubro de 1960. Foi o primeiro a tomar
posse na nova capital, Brasília. O país carregou a esperança na dupla Jan-Jan
(Jânio Quadros-Jango), e foi surpreendido com a renúncia do presidente, 7 meses
depois de tomar posse. Jânio teve problemas para governar no Congresso, hegemonizado
pela dupla PSD/PTB, e se meteu em assuntos pequenos, como a proibição do uso de
biquíni e a prática de briga de galos. Encurralado por sua ingovernabilidade, anunciou
renuncia acreditando que o país lhe daria mais poderes, um cálculo errado que
lhe custou o mandato e a posse de Jango.
De Brasíla da década de 60 para
a Volta Redonda do século XXI. O prefeito da cidade está bem longe de um
experiente e histórico Jânio Quadros, mas também vê seus poderes se dissolverem
na conjuntura política. Samuca já tem seu nome envolvido em especulações sobre
sua renúncia, pelo menos são os boatos que correm nos corredores do poder. Mesmo
que tal hipótese jamais tenha passado na cabeça do prefeito, o fato é que a
situação preocupa e muito. Há quem garanta que o jovem “gestor” eleito não
suportará as pressões que vem da política e da delicada situação econômica do município
e da prefeitura. É publicamente admitido que não há dinheiro nos cofres
públicos para dar aumento aos servidores e ao mesmo tempo manter os serviços
públicos em bom funcionamento. Pior, ele sabe que não conseguirá pagar a folha
salarial em dia até o fim do ano. A confiança que trouxe consigo na base do
marketing e da fama de outsider
evaporou-se na sua própria ineficiência e pouca habilidade política.
Jânio Quadros renunciou com 7
meses de mandato, por que Samuca não poderia fazer o mesmo?
Pode, e há quem defenda isso,
dentro e fora do governo. Mas é improvável que isso aconteça, seja pela teimosia
do prefeito, seja pela vaidade que tem. Fato importante também é a maioria
parlamentar que adquiriu recentemente, a custa da velha negociata dos balcões
de negócios da política, e também por deter significativa influência na mídia,
o que lhe dá certa reserva de governo, que só será abalada caso a realidade
econômica não melhore.
Mas caso a situação piore e
empurre Samuca para uma renúncia, Volta Redonda pelo menos voltará a uma
normalidade política, descontaminada da “pós-verdade” do período eleitoral e
dos primeiros meses de governo. Ao contrário do caso Jânio, contudo, está o
problema da sucessão. Bem diferente de um João Goulart, o que esperaria a
cidade do aço seria o ambicioso empresário Maycon Abrantes, que não tem
qualquer talento político e muito menos ligações com alguma base popular. Um
futuro governo Maycon seria a consagração da “República dos empresários” já em
gestação com Samuca, mas de forma desastrada. O fato inconteste do momento é
que aos poucos o governo municipal perde apoio popular e se enrola na sua pouca
capacidade administrativa.
Dificilmente Samuca encerrará
seu mandato, lhe faltará governabilidade, e ai então teremos que conviver, ou
com algum dispositivo de destituição legal, como impeachment, ou com uma
provável renuncia. Nenhum dos dois quadros são animadores, Volta Redonda
seguirá nas mãos do amadorismo inescrupuloso, é o preço de se votar com pura
paixão e sem consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário