domingo, 25 de junho de 2017

E se Samuca repetisse Jânio Quadros?

Por Adelson Vidal Alves



Janio Quadros foi eleito presidente da República do Brasil em Outubro de 1960. Foi o primeiro a tomar posse na nova capital, Brasília. O país carregou a esperança na dupla Jan-Jan (Jânio Quadros-Jango), e foi surpreendido com a renúncia do presidente, 7 meses depois de tomar posse. Jânio teve problemas para governar no Congresso, hegemonizado pela dupla PSD/PTB, e se meteu em assuntos pequenos, como a proibição do uso de biquíni e a prática de briga de galos. Encurralado por sua ingovernabilidade, anunciou renuncia acreditando que o país lhe daria mais poderes, um cálculo errado que lhe custou o mandato e a posse de Jango.

De Brasíla da década de 60 para a Volta Redonda do século XXI. O prefeito da cidade está bem longe de um experiente e histórico Jânio Quadros, mas também vê seus poderes se dissolverem na conjuntura política. Samuca já tem seu nome envolvido em especulações sobre sua renúncia, pelo menos são os boatos que correm nos corredores do poder. Mesmo que tal hipótese jamais tenha passado na cabeça do prefeito, o fato é que a situação preocupa e muito. Há quem garanta que o jovem “gestor” eleito não suportará as pressões que vem da política e da delicada situação econômica do município e da prefeitura. É publicamente admitido que não há dinheiro nos cofres públicos para dar aumento aos servidores e ao mesmo tempo manter os serviços públicos em bom funcionamento. Pior, ele sabe que não conseguirá pagar a folha salarial em dia até o fim do ano. A confiança que trouxe consigo na base do marketing e da fama de outsider evaporou-se na sua própria ineficiência e pouca habilidade política.

Jânio Quadros renunciou com 7 meses de mandato, por que Samuca não poderia fazer o mesmo?

Pode, e há quem defenda isso, dentro e fora do governo. Mas é improvável que isso aconteça, seja pela teimosia do prefeito, seja pela vaidade que tem. Fato importante também é a maioria parlamentar que adquiriu recentemente, a custa da velha negociata dos balcões de negócios da política, e também por deter significativa influência na mídia, o que lhe dá certa reserva de governo, que só será abalada caso a realidade econômica não melhore.

Mas caso a situação piore e empurre Samuca para uma renúncia, Volta Redonda pelo menos voltará a uma normalidade política, descontaminada da “pós-verdade” do período eleitoral e dos primeiros meses de governo. Ao contrário do caso Jânio, contudo, está o problema da sucessão. Bem diferente de um João Goulart, o que esperaria a cidade do aço seria o ambicioso empresário Maycon Abrantes, que não tem qualquer talento político e muito menos ligações com alguma base popular. Um futuro governo Maycon seria a consagração da “República dos empresários” já em gestação com Samuca, mas de forma desastrada. O fato inconteste do momento é que aos poucos o governo municipal perde apoio popular e se enrola na sua pouca capacidade administrativa.

Dificilmente Samuca encerrará seu mandato, lhe faltará governabilidade, e ai então teremos que conviver, ou com algum dispositivo de destituição legal, como impeachment, ou com uma provável renuncia. Nenhum dos dois quadros são animadores, Volta Redonda seguirá nas mãos do amadorismo inescrupuloso, é o preço de se votar com pura paixão e sem consciência. 

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