Por Adelson Vidal Alves
O conservador se opõe às
grandes mudanças sociais, econômicas, políticas, morais e sistêmicas. Acredita que há valores, tradições e
instituições que devem se eternizar no tempo. O conservadorismo ganhou
notoriedade diante das revoluções dos séculos XVIII e XIX, ao fazer oposição
aos ideais revolucionários e defender a ordem do Antigo Regime.
O Brasil contemporâneo é
conservador, sobretudo, na moral. Debates importantes como os direitos civis
homossexuais, a descriminalização do aborto e a legalização da maconha são rejeitados
pela grande maioria dos brasileiros. No entanto, nosso conservadorismo não persiste
pelas reflexões laicas de Michael Oakeshott e Edmundo Burke, mas pela religião.
Este último teórico, é verdade, via na religião o grande ordenamento da vida moral, mas
seu pensamento foi além disso.
Os brasileiros de hoje não se
apoiam na razão conservadora, estão submetidos às diretrizes do conservadorismo
graças a uma prática bem mais pobre e perigosa que a dos grandes intelectuais
da época da Revolução francesa. O estranhamento diante da diversidade sexual e
a oposição à necessidade de debatermos a interrupção voluntária da gravidez
nascem da pregação de teologias paupérrimas, que ameaçam consciências com a
reação da ira divina frente a tais “pecados”. É a religião que firma verdades,
que molda a cabeça conservadora do religioso pela certeza de um valor moral que
não nasce da compreensão da vida social, mas de verdades imutáveis supostamente
reveladas em um livro.
Há quem diga que o
conservadorismo brasileiro pode deitar raízes distantes no colonialismo
português, na formação do Estado brasileiro e no perfil próprio de nossa
nacionalidade que teme o novo. Pode ser que haja uma articulação com isso tudo,
porém, a religião moderna parece ser o sustentáculo do conservadorismo moral em
nossos tempos.
O catolicismo que nos formou
contribuiu e contribui muito para o conservadorismo de nossas terras. Ancorado
em uma tradição de fé que condena o divórcio, o protagonismo eclesial feminino
e a homossexualidade, e que obriga castidade pré-nupcial aos leigos e celibato
a seu clero, a religião católica fez o conservadorismo valer em nossa cultura.
E não se trata apenas da
religião do carismático Papa Francisco, ela ganhou o reforço do protestantismo,
seja o histórico e de herança puritana, seja o pentecostal e neopentecostal,
estes que são responsáveis pela difusão do irracionalismo e da intolerância
entres os grupos mais pobres da periferia brasileira.
A conclusão que chegamos é que
o conservadorismo brasileiro, por sua natureza, está relativamente imune à persuasão
laica, afinal, os valores a serem conservados viriam do próprio Deus. Como
convencer alguém das vantagens morais do progressismo quando é a certeza de uma
fé conservadora que convence cabeças? A razão vale pouco para a mente religiosa.
A transformação progressista passa pela necessidade de derrotar a religião, ou pelo menos
preservar apenas as que guardam um mínimo de espaço para o debate racional.
Ampliando a religiosidade, pelo menos essa a que me referi, o Brasil seguirá
sendo conservador, emperrado em preconceitos e na ignorância.