Por Adelson Vidal Alves
Os pobres são de direita?
Segundo o colunista do Diário do Vale,
Paulo Moreira, a resposta é sim. Para Paulo, pobre aprova a redução da maioridade
penal, a pena de morte e é contra a intervenção estatal na economia e o
desarmamento da população civil. Suas afirmações não vêm acompanhadas de
nenhuma pesquisa ou dado estatístico que as comprovem, a não ser pelo resultado
do plebiscito do desarmamento realizado no Brasil em 2005. Mesmo aqui, o autor
do artigo comete um erro grave: o de desconsiderar o pluralismo da esquerda.
Não podemos falar de “esquerda”,
mas de “esquerdas”. No citado plebiscito, partidos e movimentos de esquerda se
posicionaram contra a proibição do comércio de armas e muitos da direita
apoiaram a restrição. O PSTU se posicionou afirmando que a consulta popular era
uma forma de desarmar o proletariado em período de crise revolucionária.
Organizações e intelectuais de direita também não foram homogêneos em suas
posições, direitistas afirmavam que arma na mão de gente ignorante poderia
significar o aumento de assaltos e incentivaria a bandidagem. O fato é que não
podemos ser superficiais quanto ao debate esquerda x direita, devemos saber que
ambas mantém variantes dentro de si. Podemos falar de extrema-esquerda,
esquerda democrática, esquerda revolucionária ou reformista; da mesma forma
vamos enxergar uma direita democrática, moderada, assim como fascista e
autoritária.
A fim de evitarmos mais
confusão, trataremos aqui desta distinção aos moldes de Norberto Bobbio, isto
é, a direita naturaliza a desigualdade e a esquerda entende que as desigualdades
são produto de um sistema social injusto, no qual a política poderia interferir
para amenizar.
A partir disso, vamos constatar
simplesmente que não existe um lugar natural do pobre no campo ideológico.
Pobres assumem decisões de acordo com o que interpretam no momento, ou quando
assumem para si consciência de classe. Basta entendermos o que explica o
marxismo nos conceitos de “classe em si” e “classe para si”. O primeiro
representa o momento no qual a classe existe empiricamente, como realidade
concreta de um determinado modelo econômico, já a “classe para si” se encontra
em um momento evoluído onde se reconhece dentro de um determinado modelo de
produção; entende os prejuízos e vai para a luta. No capitalismo, seria muito difícil
entender um trabalhador que reconhece sua pobreza e resolve defender a direita,
seria uma tomada avessa de consciência. Neste estágio de conscientização, é
impossível um pobre ser de direita.
Sem compreender estas questões
básicas, o autor parte para o ataque contra a esquerda. Ele a vê como o lugar
de intelectuais que gostam de trabalhar pouco no serviço público - os “pequenos
burgueses”- ou simplesmente professores
que seriam contra a meritocracia na educação. Paulo Moreira revela aqui que
quem é de direita não são os pobres, mas sim ele. Uma cabeça que se ponha contra
as desigualdades entenderia a crítica que se faz á meritocracia. Colocar
estudantes de níveis sociais e cognitivos diferentes em disputas que partem do
mesmo ponto é de uma injustiça cruel. Não considera que o Joãozinho filho de
desempregados e que trabalha durante o dia vendendo bala no metrô não pode
concorrer de igual para igual com o playboyzinho da Zona sul. E para se chegar
a essa conclusão nem precisamos recorrer aos teóricos revolucionários do
marxismo e da esquerda, basta uma lida rápida em John Rawls, um liberal
confesso.
Marx certa vez viu uma real
possibilidade revolucionária no sufrágio universal. O filósofo imaginava que
sendo os pobres a maioria logo conseguiria tomar o poder, o que obrigaria a
burguesia a recorrer à repressão. Mas Marx estava enganado, o capitalismo se
desenvolveu e criou camadas médias, concedeu ganhos econômicos aos trabalhadores,
e o Estado moderno conseguiu suprir necessidades emergenciais dos grupos mais
excluídos. As eleições e a luta de classes, então, passaram de uma leitura
meramente economicista para uma preocupação no campo das ideias, dos
sentimentos, da cultura. A batalha pela hegemonia, nos termos gramscianos, é
exatamente isso, a disputa para construir novos consensos, e assim moldar uma
sociedade mais justa. Não é que o pobre “é de direita”, ele pode “estar de
direita”, mecanismos de persuasão como a escola, os partidos e a família podem
ser decisivos na hora de sabermos se ele irá de Bolsonaro ou de Zé Maria, de
Heloisa Helena ou João Dória, de MST ou UDR, de CUT ou Fiesp. Generalizar um
grupo social com um único e imóvel viés
ideológico é um erro panfletário que Paulo Moreira Leite cometeu.
PS: Caro Paulinho, o professor
é contra elaborar provas não porque tem preguiça de corrigir, mas porque essas
avaliações não tem sentido algum, assim como todo o sistema escolar atual.
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