Por Adelson Vidal Alves
Marina é uma mulher de
integridade ética e história respeitável no campo das lutas sociais. É
inteligente e sensível ao sofrimento dos mais pobres. Qualidades louváveis que até
hoje me fizeram achar nela o nome ideal para assumir a presidência do Brasil.
Infelizmente, ela se perdeu, e se perdeu junto com seu partido, a pequena Rede
Sustentabilidade, de quem já fui presidente municipal.
Para se governar não é necessário
apenas boa vontade. É preciso habilidade política, clareza de pensamento,
projeto de país e uma capacidade mínima para construir consensos de governo.
Marina, até agora, fracassou nestes quesitos. Ela combina ambiguidade
ideológica e fragilidade discursiva. Ou seja, até hoje não mostrou sua visão de
país e não consegue firmar sua imagem de forma convincente. O resultado é que
as últimas pesquisas mostram sua queda nas intenções de votos, com provável
migração para a candidatura de Lula. Além de perder a oportunidade, esse
encolhimento de Marina abre caminho para o crescimento de candidatos
reacionários e conservadores, como Jair Bolsonaro e João Dória.
Outro aspecto a se destacar é o
fracasso de seu partido, a já citada Rede Sustentabilidade. A ambição da
ex-senadora girava em torno de conseguir criar não só uma candidatura forte à
presidência da república, mas também fundar uma nova agremiação partidária,
renovada e conectada com as ruas que se manifestaram em Junho de 2013. Por isso,
seu movimento agregou varias forças políticas que se propunham formar um
Partido plural e de funcionamento horizontalizado, onde as principais bandeiras
seriam “Sustentabilidade” e “Nova política”.
Acontece que as intenções
positivas sozinhas não imunizam um partido político de ser desmontado pela
presença de oportunistas. Aconteceu isso com a Rede, que num prazo curto de
tempo se deixou penetrar por forças estranhas, cedendo às tentações mais
sórdidas da velha política. Na Rede há coronéis, no mesmo molde dos partidos
tradicionais, e Marina é o maior deles. No Rio de Janeiro, meu estado, os “enredados”
estão sob o domínio de um petista enrustido, o deputado Alessandro Molon. Aqui
é ele quem dá as ordens, e seu grupo massacra e impede a construção de qualquer
movimentação alternativa aos seus domínios coronelísticos.
A nível nacional, a Rede levou
um surra eleitoral no pleito municipal de 2016 e esfacelou-se com crises
internas, que se formaram na medida em que o partido não conseguia um projeto
político coeso e coerente. Eram propostas soltas e bandeiras comuns, nenhuma
direção clara e grandiosa que empolgasse a militância democrática do
partido. No geral, o partido ficou menor
e sem graça.
Com a aparente queda de Marina
no gosto eleitoral, abre-se um vácuo político. Perdemos uma liderança que
poderia organizar uma frente reformista e de centro-esquerda, capaz de superar
a polarização tucano-petista e levar o Brasil a uma saída moderna e
responsável. Com o fracasso de Marina, o cenário eleitoral de 2018 ficou ainda
mais pobre.