sábado, 22 de abril de 2017

Marina e REDE não são mais alternativas

Por Adelson Vidal Alves



Marina é uma mulher de integridade ética e história respeitável no campo das lutas sociais. É inteligente e sensível ao sofrimento dos mais pobres. Qualidades louváveis que até hoje me fizeram achar nela o nome ideal para assumir a presidência do Brasil. Infelizmente, ela se perdeu, e se perdeu junto com seu partido, a pequena Rede Sustentabilidade, de quem já fui presidente municipal.

Para se governar não é necessário apenas boa vontade. É preciso habilidade política, clareza de pensamento, projeto de país e uma capacidade mínima para construir consensos de governo. Marina, até agora, fracassou nestes quesitos. Ela combina ambiguidade ideológica e fragilidade discursiva. Ou seja, até hoje não mostrou sua visão de país e não consegue firmar sua imagem de forma convincente. O resultado é que as últimas pesquisas mostram sua queda nas intenções de votos, com provável migração para a candidatura de Lula. Além de perder a oportunidade, esse encolhimento de Marina abre caminho para o crescimento de candidatos reacionários e conservadores, como Jair Bolsonaro e João Dória.

Outro aspecto a se destacar é o fracasso de seu partido, a já citada Rede Sustentabilidade. A ambição da ex-senadora girava em torno de conseguir criar não só uma candidatura forte à presidência da república, mas também fundar uma nova agremiação partidária, renovada e conectada com as ruas que se manifestaram em Junho de 2013. Por isso, seu movimento agregou varias forças políticas que se propunham formar um Partido plural e de funcionamento horizontalizado, onde as principais bandeiras seriam “Sustentabilidade” e “Nova política”.

Acontece que as intenções positivas sozinhas não imunizam um partido político de ser desmontado pela presença de oportunistas. Aconteceu isso com a Rede, que num prazo curto de tempo se deixou penetrar por forças estranhas, cedendo às tentações mais sórdidas da velha política. Na Rede há coronéis, no mesmo molde dos partidos tradicionais, e Marina é o maior deles. No Rio de Janeiro, meu estado, os “enredados” estão sob o domínio de um petista enrustido, o deputado Alessandro Molon. Aqui é ele quem dá as ordens, e seu grupo massacra e impede a construção de qualquer movimentação alternativa aos seus domínios coronelísticos.

A nível nacional, a Rede levou um surra eleitoral no pleito municipal de 2016 e esfacelou-se com crises internas, que se formaram na medida em que o partido não conseguia um projeto político coeso e coerente. Eram propostas soltas e bandeiras comuns, nenhuma direção clara e grandiosa que empolgasse a militância democrática do partido.  No geral, o partido ficou menor e sem graça.

Com a aparente queda de Marina no gosto eleitoral, abre-se um vácuo político. Perdemos uma liderança que poderia organizar uma frente reformista e de centro-esquerda, capaz de superar a polarização tucano-petista e levar o Brasil a uma saída moderna e responsável. Com o fracasso de Marina, o cenário eleitoral de 2018 ficou ainda mais pobre.



segunda-feira, 17 de abril de 2017

A surpreendente popularidade de Samuca

Por Adelson Vidal Alves



A imprensa voltarredondense noticiou nesta segunda-feira uma suposta popularidade alta do prefeito Samuca Silva. A boa avaliação do governo foi apontada por uma pesquisa realizada pelo Instituto Orbital. Os números, no entanto, foram apresentados de várias formas pela mídia local. O radialista Dario de Paula falou em 76% de aprovação e o Diario do Vale em 62%. Já o Jornal LIVRE, bem mais cuidadoso, mostrou que 53% da população acha o governo Samuca bom ou ótimo.

Os dados divergem devido a interpretações diferentes da pesquisa. Dario de Paula pegou a avaliação seca sobre o que os entrevistados responderam sobre viver em Volta Redonda. 76% responderam ótimo e 10% disseram bom, o que seria 86% e não 76%. Mas morar em VR não se reduz ao governo Samuca, ao contrário, fala mais pelos 20 anos da era Neto do que sobre o atual governo.

O Diário do Vale interpretou como aprovação a resposta positiva para a pergunta que envolve a forma de governar, o que na população soa como a atitude do prefeito frente ao governo, ou seja, pode ter influenciado os vídeos do prefeito, a prática constante de chamar setores sociais para o diálogo etc. Mas o que vale, de fato, em termos de popularidade, é a pergunta sobre se o governo é bom ou ruim, que implica, na cabeça da população, o resultado direto da administração em suas vidas. Neste aspecto, o LIVRE, corretamente, noticiou a aprovação de 57,3% como o número grosso da popularidade do governo.

Mas ainda sim Samuca está com aprovação alta, superando, inclusive, João Dória em São Paulo.

Muitos podem dizer que é uma realidade parcial, afinal, é uma pesquisa de amostragem, e não se trata de uma verdade absoluta. Porém, pelos números, o povo de Volta Redonda olha com otimismo a gestão de Samuca nesses 100 dias, mesmo com as turbulências que o prefeito vem enfrentando nesse tempo.

Escrevi no blog um artigo em Janeiro (Veja em: Samuca terá uma longa lua de mel com Volta Redonda) no qual defendia que Samuca teria relativa estabilidade de governo no seu primeiro ano de mandato. Ainda que tenha sido exposto de forma negativa com gafes e pouca habilidade política, parece haver uma gordurinha ainda a ser queimada em sua imagem, construída, já dito aqui, em cima de emoções e euforias, e não na racionalidade política.

Samuca, ainda, tem rejeição de apenas 17%, o que indica que, de alguma forma, ele ainda não sofre uma oposição da opinião pública. Em parte, explicada pela ausência de uma oposição formalizada e atuante a seu governo.


Uma pesquisa está longe de determinar a complexidade de uma realidade, serve para apontar nortes a serem seguidos. Pelos números divulgados hoje, pelo menos, Samuca poderá ter alguns momentos de tranquilidade, algo em falta na vida do prefeito depois dos tantos tropeços que cometeu nesses primeiros 1oo dias de governo 

terça-feira, 11 de abril de 2017

Os idiotas elegeram Samuca?

Por Adelson Vidal Alves



O filósofo Platão (427 a.C. - 347 a.C.) defendia que a classe governante deveria ser composta pelos filósofos, porque o povo é movido pela paixão e não sabe tomar as melhores decisões. O liberal Stuart Mill (1806 - 1873) - que defendeu bandeiras progressistas em sua época, como o voto feminino - propôs que o voto individual tivesse pesos diferentes, de acordo com a inteligência do eleitor. Já o escritor conservador brasileiro Nelson Rodrigues (1912 - 1980) escreveu: “A maior desgraça da democracia, é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”.  

Pensando em tempos distintos, os autores citados estavam de acordo com o fato de que um governo deve ser constituído pelo bom uso da razão e da inteligência. Algo que parece estar cada vez mais raro em tempos de “pós-verdade”, isto é, quando a realidade objetiva é substituída por discursos que são acolhidos pela crença pessoal de cada um. Os fatos cedem espaço a narrativas falsas que por algum motivo convencem pessoas que aceitam mentiras como algo real.

O Jornalista Eugenio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, comentando sobre o termo, disse:

"A ideia contida aí é relativamente simples: a política teria rompido definitivamente com a verdade factual e passa a se valer de outros recursos para amalgamar os seguidores de suas correntes. É como se a política tivesse sucumbido ao discurso do tipo religioso e se conformado com isso”.  

Já o filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, descreveu exemplos do quão trágico pode ser o triunfo da “pós-verdade”:

 "A campanha de Donald Trump foi o maior exemplo de pós-verdade, com desdenho total pela veracidade dos fatos mencionados. A campanha do Brexit também foi assim. Podemos dizer que outro exemplo foi a vitória do 'não' no referendo colombiano sobre o acordo de paz com as Farc, que poderia encerrar uma guerra de mais de 50 anos".

No ano passado, na cidade de Volta Redonda, tivemos um exemplo tosco, mas não menos grave, do resultado trágico que pode trazer a pós-verdade. Na disputa pela prefeitura da cidade, as baixarias e mentiras deram tom da campanha nos dois turnos, mas com destaque para o segundo.

Os candidatos eram Paulo Cesar Baltazar (PRB) e Samuca Silva (PV). O primeiro, ex-prefeito, reuniu apoio de quase todos os campos políticos organizados da cidade. Já o segundo, não passava de um recém-postulante a vereador que mal atingiu 500 votos, e se viu, neste momento, com a possibilidade de ocupar o Palácio 17 de Julho.

Baltazar apostou numa campanha focada na política, na necessidade de uma coalizão ampla de forças para governar a cidade em grande dificuldade econômica. É verdade que muitos de seus apoiadores também abusaram das redes sociais para baixar o nível da campanha, caso do vídeo produzido pela jornalista Kika Monteiro. Mas em geral, o ex-prefeito teve que se esquivar de acusações caluniosas sobre processos que supostamente respondia, orquestradas por uma multidão fanatizada de apoio a Samuca. Este, que propôs à população tão somente “gestão”.

Desconstruindo os fatos aos moldes da pós-verdade, Samuca e seus fiéis desenharam um paraíso municipal gerido por homens competentes, técnicos, distantes dos “acordos espúrios” que prevaleceriam na política tradicional, “a generalização da desgraça e da corrupção”.

Por algum motivo, a maioria da população caiu nessa conversa, e mesmo que houvesse mais 10 anos de campanha, seria impossível virar os votos consolidados do candidato verde.

Prevaleceu o irracional. Como religiosos, os eleitores de Samuca recusaram até mesmo lerem seu programa de governo. Bastava o “novo”, o “gestor”, para que um novo mundo decolasse na cidade do aço.

Mas e ai? Os votos no 43 foram de gente suficientemente idiota para acreditar em mentiras tão estúpidas e ufanistas? Por que a paixão prevaleceu sobre a razão, o debate e a dialética qualificada de um genuíno regime democrático?

O que sabemos é que em 100 dias de governo, Samuca foi a tragédia anunciada por muitos durante a campanha. Previsões que não exigiam mais que um pouco de atenção e racionalidade. As promessas do candidato do PV eram tão bizarras e bestas, que muitos de nós poderia se perguntar o que levou tanta gente a entrar de cabeça numa aventura tão ridicula e perigosa. Estará Nelson Rodrigues com a razão? Como democrata, espero que não.


sexta-feira, 7 de abril de 2017

Por que Volta Redonda segue sem política cultural

Por Adelson Vidal Alves



Durante 20 anos a política cultural de Volta Redonda foi apenas financiamento de entretenimento popular. O projeto no qual a prefeitura tanto se vangloriou consistia em trazer artistas para se apresentarem em troca de caixinhas de leite. O “Cultura para todos” colocava centenas de pessoas nas filas de terça-feira  no Cine 9 de Abril na esperança de ver um grande espetáculo pagando pouco.

Os artistas, corretamente, denunciaram a estreiteza desta política. Mais do que isso, o movimento cultural da cidade ocupou espaço no debate de ideias e obrigou o prefeito Neto a não nomear para a Secretaria de Cultura um de seus mais antigos colaboradores, o caricato Moacir de Carvalho, o Moa.

Porém, veio da paupérrima cultura neopentecostal o nome substituto de Moa, e que misteriosamente calou os artistas. A secretária Rosane Gonçalves teve uma gestão em paz, sem gritos ou protestos que tanto atingiram seu antecessor, isso sem ter mudado uma virgula do que entendia o governo como sendo política cultural, ao contrário, ganhou em reuniões secretas parte da classe artística mais barulhenta.

Mas o governo acabou. Samuca, eleito, logo resolveu nomear para pasta um nome do meio, Marcia Fernandes, do Instituto Dagaz. A expectativa era que enfim teríamos a roda cultural andando pra frente. Parece que não. Apesar do tempo curto, a Secretaria de Cultura resolveu chamar a cidade de “linda”, pintar bancos de praça ao invés de fazer uma verdadeira política cultural. Marcia é uma mulher do terceiro setor, gestora e de ampla capacidade articuladora. Mas como “pessoal do Estado” (termo usado por Nicos Poulantzas) parece se atrapalhar nos mesmos erros daqueles que a precederam.

A secretaria foi aparelhada “pela amizade”, sem a tão sonhada democratização e o pluralismo que a pasta merece. O olhar segue sendo vanguardista, ações por cima, pretensamente setoriais, o que reforça o corporativismo. Pensar política cultural de verdade é pensar ações universais, desvinculadas do economicismo e em conexão com o todo social. Exige dinâmica, ideário coeso, personalidade. Coisa que parecia sobrar em Marcia, impressão desfeita já no carnaval deste ano, quando a principal festa popular do país foi “privatizada” no modo mais sórdido, visto nem mesmo na obscura gestão Moacir de Carvalho.

São quase 100 dias de governo Samuca, e mesmo as melhores apostas parecem escorregar no burocratismo desastrado da gestão do prefeito eleito. Ta tudo parado, apático, pobre e nas mesmas diretrizes autoritárias da era Neto.

Sobre a política de Cultura, a constatação provisória é que não há muito o que se esperar. A reforma administrativa de Samuca deve vir no segundo semestre deste ano, e parece que nenhum setor do governo irá escapar. Esperamos.


domingo, 2 de abril de 2017

Cinco lições que Boechat não ensinou a Samuca

Por Adelson Vidal Alves




Sergio Boechat é um dos principais conselheiros do prefeito Samuca. Está entre aqueles que têm como principal responsabilidade orientar o prefeito em sua atividade administrativa. Acontece que em 2009 Boechat publicou um livro intitulado “A arte da governabilidade”, onde propunha ensinar o exercício de se governar um município. No entanto, a maioria de suas lições não parece ser seguida pelo prefeito que assessora. Vamos a elas:

Depois de eleito, o prefeito não é o prefeito de um partido ou de uma coligação, mas o prefeito de todos, não havendo espaço para retaliações, ódios, perseguições, picuinhas ou atitudes que só fazem complicar o seu governo” Pag 29
           
As dicas de Boechat não serviram para Samuca entender que deveria governar olhando para frente. Ao contrário, o prefeito elegeu um inimigo, o ex-prefeito Neto, paranoicamente lembrado na maior parte da gestão do prefeito eleito. Assim como Boechat previu, as “picuinhas e atividades pequenas” estão complicando a vida do governo.

“Um erro bem comum, principalmente dos marinheiros de primeira viagem (...) é querer governar com o partido ou os partidos que ganharam a eleição (...). Com a vitória nas eleições enchem-se de prepotência e acham que podem tudo contra todos e que não precisam do apoio de ninguém” Pag 53

Samuca deu inicio a sua prepotência bem cedo, antes mesmo de ganhar a eleição, rejeitou a governabilidade política com os partidos, iludiu o povo com a conversa de que só gestão bastava. Não basta. Samuca vai precisar de apoio dos partidos e do parlamento para governar. Achar-se um “super-prefeito” foi um dos seus erros mais grosseiros.

“É mais um dos equívocos do prefeito iniciante. Na maioria das vezes ele não conhece a máquina administrativa, não sabe como ela está funcionando, não sabe se ela está sub ou super dimensionada, mas já quer mudar tudo, atendendo às sugestões de sua assessoria. Geralmente essas ideias saem daquelas “cabeças iluminadas” que cercam o prefeiro” Pag 61

A vontade cega de enterrar o governo Neto fez com que Samuca quisesse destruir todo o legado de seu antecessor. Enrolou-se todo, exatamente por ouvir as “cabeças iluminadas” que o cercavam. As mudanças são necessárias, mas feitas de forma pactuada, preservando conquistas anteriores. Ouvindo a Netofobia de seus assessores, Samuca não conseguiu a lucidez necessária para conduzir uma nova forma equilibrada de governabilidade.

“O político tem que ser um homem de partido. Não pode e não deve usar o partido apenas para viabilizar a sua candidatura e depois simplesmente descarta-lo” Pag 85

Samuca descartou o PV. Não consultou sua Executiva ao compor seu governo, tampouco observou seu programa. Já na campanha eleitoral ele havia traído ás intenções programáticas do Partido Verde, cravadas em seu estatuto. Usou da legenda de forma oportunista.

“O melhor que o prefeito pode fazer é pedir para que o secretário de governo receba os “visitantes” e os encaminhe para as áreas competentes, para que os próprios secretários, havendo interesse e sentindo que se tratam de pessoas realmente sérias os agende com o prefeito se for o caso” Pag 51

Se Boechat tivesse alertado o prefeito para ler esta parte do livro, teria evitado o mico do chanceler falso.



BOECHAT, Sérgio. A arte da governabilidade: Administração pessoal. Ed. Multifoco; Rio de Janeiro. 2009