sexta-feira, 7 de abril de 2017

Por que Volta Redonda segue sem política cultural

Por Adelson Vidal Alves



Durante 20 anos a política cultural de Volta Redonda foi apenas financiamento de entretenimento popular. O projeto no qual a prefeitura tanto se vangloriou consistia em trazer artistas para se apresentarem em troca de caixinhas de leite. O “Cultura para todos” colocava centenas de pessoas nas filas de terça-feira  no Cine 9 de Abril na esperança de ver um grande espetáculo pagando pouco.

Os artistas, corretamente, denunciaram a estreiteza desta política. Mais do que isso, o movimento cultural da cidade ocupou espaço no debate de ideias e obrigou o prefeito Neto a não nomear para a Secretaria de Cultura um de seus mais antigos colaboradores, o caricato Moacir de Carvalho, o Moa.

Porém, veio da paupérrima cultura neopentecostal o nome substituto de Moa, e que misteriosamente calou os artistas. A secretária Rosane Gonçalves teve uma gestão em paz, sem gritos ou protestos que tanto atingiram seu antecessor, isso sem ter mudado uma virgula do que entendia o governo como sendo política cultural, ao contrário, ganhou em reuniões secretas parte da classe artística mais barulhenta.

Mas o governo acabou. Samuca, eleito, logo resolveu nomear para pasta um nome do meio, Marcia Fernandes, do Instituto Dagaz. A expectativa era que enfim teríamos a roda cultural andando pra frente. Parece que não. Apesar do tempo curto, a Secretaria de Cultura resolveu chamar a cidade de “linda”, pintar bancos de praça ao invés de fazer uma verdadeira política cultural. Marcia é uma mulher do terceiro setor, gestora e de ampla capacidade articuladora. Mas como “pessoal do Estado” (termo usado por Nicos Poulantzas) parece se atrapalhar nos mesmos erros daqueles que a precederam.

A secretaria foi aparelhada “pela amizade”, sem a tão sonhada democratização e o pluralismo que a pasta merece. O olhar segue sendo vanguardista, ações por cima, pretensamente setoriais, o que reforça o corporativismo. Pensar política cultural de verdade é pensar ações universais, desvinculadas do economicismo e em conexão com o todo social. Exige dinâmica, ideário coeso, personalidade. Coisa que parecia sobrar em Marcia, impressão desfeita já no carnaval deste ano, quando a principal festa popular do país foi “privatizada” no modo mais sórdido, visto nem mesmo na obscura gestão Moacir de Carvalho.

São quase 100 dias de governo Samuca, e mesmo as melhores apostas parecem escorregar no burocratismo desastrado da gestão do prefeito eleito. Ta tudo parado, apático, pobre e nas mesmas diretrizes autoritárias da era Neto.

Sobre a política de Cultura, a constatação provisória é que não há muito o que se esperar. A reforma administrativa de Samuca deve vir no segundo semestre deste ano, e parece que nenhum setor do governo irá escapar. Esperamos.


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