Por Adelson Vidal Alves
Durante 20 anos a política
cultural de Volta Redonda foi apenas financiamento de entretenimento popular. O
projeto no qual a prefeitura tanto se vangloriou consistia em trazer artistas
para se apresentarem em troca de caixinhas de leite. O “Cultura para todos”
colocava centenas de pessoas nas filas de terça-feira no Cine 9 de Abril na esperança de ver um
grande espetáculo pagando pouco.
Os artistas, corretamente,
denunciaram a estreiteza desta política. Mais do que isso, o movimento cultural
da cidade ocupou espaço no debate de ideias e obrigou o prefeito Neto a não
nomear para a Secretaria de Cultura um de seus mais antigos colaboradores, o
caricato Moacir de Carvalho, o Moa.
Porém, veio da
paupérrima cultura neopentecostal o nome substituto de Moa, e que misteriosamente calou os artistas.
A secretária Rosane Gonçalves teve uma gestão em paz, sem gritos ou protestos
que tanto atingiram seu antecessor, isso sem ter mudado uma virgula do que
entendia o governo como sendo política cultural, ao contrário, ganhou em
reuniões secretas parte da classe artística mais barulhenta.
Mas o governo acabou. Samuca,
eleito, logo resolveu nomear para pasta um nome do meio, Marcia Fernandes, do
Instituto Dagaz. A expectativa era que enfim teríamos a roda cultural andando
pra frente. Parece que não. Apesar do tempo curto, a Secretaria de Cultura
resolveu chamar a cidade de “linda”, pintar bancos de praça ao invés de fazer
uma verdadeira política cultural. Marcia é uma mulher do terceiro setor,
gestora e de ampla capacidade articuladora. Mas como “pessoal do Estado” (termo
usado por Nicos Poulantzas) parece se atrapalhar nos mesmos erros daqueles que
a precederam.
A secretaria foi aparelhada “pela
amizade”, sem a tão sonhada democratização e o pluralismo que a pasta merece. O
olhar segue sendo vanguardista, ações por cima, pretensamente setoriais, o que
reforça o corporativismo. Pensar política cultural de verdade é pensar ações
universais, desvinculadas do economicismo e em conexão com o todo social. Exige
dinâmica, ideário coeso, personalidade. Coisa que parecia sobrar em Marcia,
impressão desfeita já no carnaval deste ano, quando a principal festa popular
do país foi “privatizada” no modo mais sórdido, visto nem mesmo na obscura
gestão Moacir de Carvalho.
São quase 100 dias de governo Samuca,
e mesmo as melhores apostas parecem escorregar no burocratismo desastrado da
gestão do prefeito eleito. Ta tudo parado, apático, pobre e nas mesmas
diretrizes autoritárias da era Neto.
Sobre a política de Cultura, a
constatação provisória é que não há muito o que se esperar. A reforma
administrativa de Samuca deve vir no segundo semestre deste ano, e parece que
nenhum setor do governo irá escapar. Esperamos.
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