sábado, 2 de setembro de 2017

Obrigado, Ivana

Por Adelson Vidal Alves



Em “A Força do querer”, a personagem Ivana (Carol Duarte) é um transgênero com inclinações homossexuais (ela nasce biologicamente mulher, mas com o gênero masculino, porém, sente atração por homens). Seu drama percorre toda a novela como sendo a dor de um individuo que não se entende, odeia seu corpo e não se reconhece dentro do seu sexo biológico. Não é apenas a brilhante interpretação da jovem Carol que chama a atenção na trama de Glória Perez, mas, principalmente, o fato que grande parte do público não tinha a mínima ideia da existência desta questão, que é real e faz muita gente sofrer.

Muitos brasileiros podem afirmar: “mal conseguimos engolir a homossexualidade, e já vem gente querendo dizer que é possível fazer nascer barba em mulheres, mutilar seios e pênis, fazer um homem virar menina e vice versa, isso aqui está uma bagunça”. Este tipo de raciocínio é comum no Brasil, um país moralmente conservador e com forte influência cristã. É que na cabeça das pessoas, a natureza produziu seres humanos perfeitamente ajustados, programados para a heterossexualidade, a orientação sexual que Deus criou. De repente, descobrimos que não é nada disso. Há gente que sente atração pelo mesmo sexo, pelos dois sexos, que não gosta do seu corpo e se modifica para se adequar melhor ao seu “Eu”. Nada disso é doença e nem pode ser "curado", nem por Deus e nem pela ciência.

Hoje, podemos pensar a sexualidade sociologicamente, interpretando pelo menos três momentos na sexualidade humana: o sexo biológico, a orientação sexual e o gênero. O primeiro tem a ver com as características físicas do nascimento biológico, isto é, os genitais, seios, pênis etc. A orientação sexual tem a ver com afeto, atração e desejo, já o gênero é uma construção histórica e cultural de comportamentos e representações. É perfeitamente natural (pois está na natureza) e não há nada de perversão ou doença nisso, desde 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doença.  Até então, o homossexual era tratado como caso de saúde pública.

Aguardamos ansiosamente o dia em que a ciência conseguir explicar os genes que determinam tais realidades, que desmistifique de vez a falsa ideia de que escolhemos nossa sexualidade. Não existe opção sexual, ninguém acorda um belo dia e diz “quero ser gay”. Em meio a um mundo heteronormativo, a construção sexual é algo que pode ser penoso, e não raro produz depressão, tentativas de suicídio, rupturas familiares e o pior, o preconceito da sociedade, que pode matar.


Até conseguirmos entender completamente o mecanismo genético que produz nossa vivência sexual, teremos apenas que respeitar, aceitar, e conhecer a diversidade sexual humana, e nesse sentido, Ivana tem nos ensinado muito. Obrigado, Ivana. 

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