Por Adelson Vidal Alves
Em “A Força do querer”, a personagem Ivana (Carol Duarte) é um
transgênero com inclinações homossexuais (ela nasce biologicamente mulher, mas
com o gênero masculino, porém, sente atração por homens). Seu drama percorre
toda a novela como sendo a dor de um individuo que não se entende, odeia seu
corpo e não se reconhece dentro do seu sexo biológico. Não é apenas a brilhante
interpretação da jovem Carol que chama a atenção na trama de Glória Perez, mas,
principalmente, o fato que grande parte do público não tinha a mínima ideia da
existência desta questão, que é real e faz muita gente sofrer.
Muitos brasileiros podem
afirmar: “mal conseguimos engolir a homossexualidade, e já vem gente querendo
dizer que é possível fazer nascer barba em mulheres, mutilar seios e pênis,
fazer um homem virar menina e vice versa, isso aqui está uma bagunça”. Este
tipo de raciocínio é comum no Brasil, um país moralmente conservador e com
forte influência cristã. É que na cabeça das pessoas, a natureza produziu seres
humanos perfeitamente ajustados, programados para a heterossexualidade, a
orientação sexual que Deus criou. De repente, descobrimos que não é nada disso.
Há gente que sente atração pelo mesmo sexo, pelos dois sexos, que não gosta do
seu corpo e se modifica para se adequar melhor ao seu “Eu”. Nada disso é doença
e nem pode ser "curado", nem por Deus e nem pela ciência.
Hoje, podemos pensar a
sexualidade sociologicamente, interpretando pelo menos três momentos na
sexualidade humana: o sexo biológico, a orientação sexual e o gênero. O
primeiro tem a ver com as características físicas do nascimento biológico, isto
é, os genitais, seios, pênis etc. A orientação sexual tem a ver com afeto,
atração e desejo, já o gênero é uma construção histórica e cultural de
comportamentos e representações. É perfeitamente natural (pois está na
natureza) e não há nada de perversão ou doença nisso, desde 1990 a Organização
Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de
doença. Até então, o homossexual era
tratado como caso de saúde pública.
Aguardamos ansiosamente o dia
em que a ciência conseguir explicar os genes que determinam tais realidades,
que desmistifique de vez a falsa ideia de que escolhemos nossa sexualidade. Não
existe opção sexual, ninguém acorda um belo dia e diz “quero ser gay”. Em meio
a um mundo heteronormativo, a construção sexual é algo que pode ser penoso, e
não raro produz depressão, tentativas de suicídio, rupturas familiares e o pior,
o preconceito da sociedade, que pode matar.
Até conseguirmos entender
completamente o mecanismo genético que produz nossa vivência sexual, teremos
apenas que respeitar, aceitar, e conhecer a diversidade sexual humana, e nesse
sentido, Ivana tem nos ensinado muito. Obrigado, Ivana.
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