Por Adelson Vidal Alves
Chegou a cem o número de
policiais mortos no estado do Rio de Janeiro só no ano de 2017. Uma estatística
escandalosa que revela um quadro de guerra civil, onde toda uma cidade se vê
envolvida em um confronto histórico e aparentemente eterno entre forças do
Estado e a tirania do tráfico. O fracasso das políticas públicas e de segurança
é revelado em meio a sangue, dor e sofrimento de todos os lados, mas que diante
destes números se revela uma vítima nem sempre vista com a devida compaixão da
sociedade: os policiais.
Deve ser objeto de reflexão o
fato que a morte de policiais é estampada em jornais como algo natural, do tipo
“faz parte da profissão”. Não faz. Trabalhamos para ganhar a vida, não a morte.
Esses trabalhadores que foram vítimas de balas disparadas pelo crime devem
receber a atenção devida da mídia, dos órgãos públicos e, principalmente, dos
Direitos humanos.
Aliás, as políticas de direitos
humanos, ainda que injustiçada por críticas à direita de que “só se defendem
bandidos”, tem pecado ao ganhar roupagens ideológicas, do tipo que enxerga o
Estado como um aparelho repressor contra os pobres, e que age sistematicamente
para reprimir favelados e exterminar negros e excluídos. Essa visão distorcida da
realidade faz com que os militantes e responsáveis por políticas dos direitos
humanos acolham as vítimas da truculência policial e ignorem os bons policiais
que morrem na linha de frente defendendo a sociedade.
Tal crítica não vem apenas dos
infelizes que defendem a tese esdrúxula de que “bandido bom é bandido
morto”. Mesmo intelectuais ligados a
esquerda já estão abertamente percebendo a incapacidade de muitos em tratar os
direitos humanos como algo universal. O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro
da Educação do governo Dilma, disse: “Por
que a esquerda aceitou que os direitos humanos fossem confinados a algo que
beneficia uma parte bem pequena da população? (...) A violência policial é
brutal (...) mas houve um erro em termos políticos. Esse erro político foi não salientar o caráter
universal dos direitos humanos” [1]
A crítica de esquerda à política de direitos humanos no Brasil não se dá ao fato dela priorizar segmentos mais vulneráveis da
sociedade, é óbvio que se deve condenar as execuções extrajudiciais da PM, a
prática da tortura, a violação de direitos por parte policiais em suas
incursões nas favelas, a forma desumana do nosso sistema prisional. Mas é
preciso que esta prioridade não se transforme em exclusividade, a ponto de que
policiais queimados vivos por traficantes virem apenas objetos de uma nota de
pesar.
É preciso que a esquerda
incorpore o valor da humanidade como um aspecto universal, é o ser humano o portador destes direitos, sem
exceção. Enquanto a direita combate os direitos humanos com termos pejorativos
e de desqualificação, ignorando o direito à dignidade, inata ao ser humano, a
esquerda deve reafirmar tais direitos, contra a seletividade ideológica e a
favor da universalidade.
[1] Entrevista concedida para o livro “A crise das esquerdas” Ed. Civilização
Brasileira
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