segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Uma crítica de esquerda às políticas de direitos humanos no Brasil

Por Adelson Vidal Alves



Chegou a cem o número de policiais mortos no estado do Rio de Janeiro só no ano de 2017. Uma estatística escandalosa que revela um quadro de guerra civil, onde toda uma cidade se vê envolvida em um confronto histórico e aparentemente eterno entre forças do Estado e a tirania do tráfico. O fracasso das políticas públicas e de segurança é revelado em meio a sangue, dor e sofrimento de todos os lados, mas que diante destes números se revela uma vítima nem sempre vista com a devida compaixão da sociedade: os policiais.

Deve ser objeto de reflexão o fato que a morte de policiais é estampada em jornais como algo natural, do tipo “faz parte da profissão”. Não faz. Trabalhamos para ganhar a vida, não a morte. Esses trabalhadores que foram vítimas de balas disparadas pelo crime devem receber a atenção devida da mídia, dos órgãos públicos e, principalmente, dos Direitos humanos.

Aliás, as políticas de direitos humanos, ainda que injustiçada por críticas à direita de que “só se defendem bandidos”, tem pecado ao ganhar roupagens ideológicas, do tipo que enxerga o Estado como um aparelho repressor contra os pobres, e que age sistematicamente para reprimir favelados e exterminar negros e excluídos. Essa visão distorcida da realidade faz com que os militantes e responsáveis por políticas dos direitos humanos acolham as vítimas da truculência policial e ignorem os bons policiais que morrem na linha de frente defendendo a sociedade.

Tal crítica não vem apenas dos infelizes que defendem a tese esdrúxula de que “bandido bom é bandido morto”. Mesmo intelectuais ligados a esquerda já estão abertamente percebendo a incapacidade de muitos em tratar os direitos humanos como algo universal. O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo Dilma, disse: “Por que a esquerda aceitou que os direitos humanos fossem confinados a algo que beneficia uma parte bem pequena da população? (...) A violência policial é brutal (...) mas houve um erro em termos políticos.  Esse erro político foi não salientar o caráter universal dos direitos humanos” [1]

A crítica de esquerda à política de direitos humanos no Brasil não se dá ao fato dela priorizar segmentos mais vulneráveis da sociedade, é óbvio que se deve condenar as execuções extrajudiciais da PM, a prática da tortura, a violação de direitos por parte policiais em suas incursões nas favelas, a forma desumana do nosso sistema prisional. Mas é preciso que esta prioridade não se transforme em exclusividade, a ponto de que policiais queimados vivos por traficantes virem apenas objetos de uma nota de pesar.

É preciso que a esquerda incorpore o valor da humanidade como um aspecto universal, é o ser humano o portador destes direitos, sem exceção. Enquanto a direita combate os direitos humanos com termos pejorativos e de desqualificação, ignorando o direito à dignidade, inata ao ser humano, a esquerda deve reafirmar tais direitos, contra a seletividade ideológica e a favor da universalidade.


 [1] Entrevista concedida para o livro “A crise das esquerdas” Ed. Civilização Brasileira

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