Por Adelson Vidal Alves
Hoje quase todo mundo se diz
defensor da democracia. É impensável imaginar que nos nossos dias alguma força
política vá abertamente defender a supressão de liberdades ou condenar o
sufrágio universal. Mesmo o deputado Jair Bolsonaro, admirador confesso da ditadura
militar, prefere disfarçar seu apreço pelo autoritarismo dizendo que o Golpe
civil-militar de 1964 foi na verdade a salvação do Brasil de viver um regime
comunista, exatamente o mesmo discurso dos golpistas da época. Além disso,
busca evitar o termo “Ditadura militar”, colocando em seu lugar “Regime
militar”, e costuma dizer que os militares defenderam a democracia, assim como
ele defende.
Mas o deputado não está sozinho
neste uso cretino da palavra democracia. Na esquerda há também quem pose de
democrata só quando os seus interesses são atendidos ou pretendem ser atendidos.
Para estes, foi necessário defender Dilma do impeachment, não para defender a
ex-presidente, mas para “proteger a democracia brasileira”. Os mesmos defendem
hoje a Assembleia Constituinte golpista de Maduro, dizendo que a burguesia
venezuelana estaria dando um golpe, quando está claro que a abolição do
sufrágio universal e as manobras para redigir uma nova Constituição são visivelmente
manobras golpistas do governo chavista.
Democracia para esta gente não
é o sistema político das liberdades, da participação popular no exercício do
poder, da resolução pacífica dos conflitos sociais e a socialização da vida econômica,
cultural e política. Para eles, a democracia só é democracia quando se atende
interesses exclusivos de um grupo, classe ou partido. Quando tais interesses
são contrariados, vale quebrar a regra do jogo e ainda classificar tal ruptura
como defesa da democracia.
Só que o sistema democrático
pensado nos termos da teoria do Estado democrático de direito é uma conquista
de civilização, modelo de sociedade no qual as liberdades são respeitadas e o
pluralismo uma lei que atende a realidade complexa do mundo contemporâneo. Não
se aceita a supremacia de um grupo pelo uso da força.
Viver democraticamente é
reconhecer que a sociedade humana tem diferenças, é aceitar fazer concessões em
nome de um bem comum, é construir consensos cada vez mais universalistas, é
respeitar a diversidade de ideias e ao mesmo tempo lutar para que caminhemos
cada vez mais para uma solução comum nas nossas grandes questões.
A democracia é um valor
universal, não um instrumento a ser utilizado e depois descartado quando
objetivos particulares são atendidos. É dentro dela, com ela e por ela que as
sociedades devem amadurecer e aperfeiçoar a convivência em direção a um mundo
pacífico e justo.
É nestas condições que a
palavra democracia deve ser usada, e não no tom cretino que esquerda e direita
resolveram usá-la para seus fins próprios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário