Por Adelson Vidal Alves
A prefeitura de Barra Mansa
realizou nesta terça-feira, 8 de Agosto, um seminário para professores da rede
municipal de Educação sobre o ensino de relações étnico-raciais nas escolas. Os
palestrantes foram convidados da Gerência de promoção da Igualdade Racial,
órgão ligado ao governo do município.
A mesa de palestras foi
composta exclusivamente de pesquisadores militantes do movimento negro e
defensores abertos de políticas racialistas. As falas se configuraram como um
espetáculo de bizarrice, desinformação histórica e racismo.
A primeira pesquisadora a se
pronunciar fez a afirmação de que o impeachment de Dilma foi “um Golpe de Estado”,
uma propaganda fora do lugar de uma tese delirante que se arrasta pelo país
através das guerrilhas virtuais petistas. Seguindo as trilhas da militância,
transmitiu a informação de que 55% dos brasileiros se autodeclaram negros, o
que é falso. Segundo pesquisas do PNAD e do Censo do IBGE, cerca de 45% da
população se autodeclaram pardos, enquanto menos de 10% dos pesquisados se
afirmam como pretos. Questionada, ela se resumiu a dizer que no Brasil pardos
são automaticamente negros, ignorando a autonomia da declaração da identidade
individual das pessoas. O fato, aqui, é que ao contrário dos EUA, o Brasil
jamais promoveu uma política de anti-miscigenação. Ao contrário, nosso país é
indiscutivelmente um país mestiço, algo incômodo para os militantes do
movimento negro.
Mas o circo de horrores ficou
para o fim, na fala de uma pesquisadora que se autodeclarava doutora e ativista
social. Ao estilo de um Stand up, fez piadas com as pessoas de pele branca, que
segunda ela, seriam “encardidas”, numa expressão clara de racismo às avessas. Chegou
ao ponto de insinuar que o demônio “teria olhos azuis”. O espetáculo patético
não parou por ai, a palestrante pediu a construção de políticas de saúde
exclusivas para pessoas de pele negra, afirmando haver “doenças raciais”, em
uma prova de total ignorância quanto aos resultados das novas pesquisas da
genética.
Já é sabido desde a segunda
metade do século XX que raças humanas não existem na natureza, e que as
diferenças biológicas entre grupos de cor de pele diferente são mínimas, imprevisíveis
e impossíveis de serem classificadas racialmente. Mesmo assim, ela insistiu em
afirmar que doenças como hipertensão e anemia falciforme seriam “doenças de
negros”, uma estupidez insustentável.
Sobre o assunto, foi feliz o
sociólogo Demétrio Magnoli, autor de “Uma
Gota de Sangue Única: história do pensamento racial” um dos trabalhos mais
completos sobre a questão racial já publicado no Brasil. Disse ele: “A Anemia
falciforme, que ocupa o lugar estratégico de principal “doença de negros” no
discurso racialista, é uma doença com larga variabilidade clínica (...) o
portador do traço falciforme não é um doente (...) Doenças genéticas não são
doenças raciais”. A farsa da “doença de negros”, sem ter apoio nas ciências
médicas, só sobrevive como discurso ideológico. O antropólogo Peter Fry captou
muito bem isso quando escreveu: “ A anemia falciforme tornou-se, muito
mais que que uma doença a ser detectada e tratada , um poderoso elemento na
naturalização da "raça negra”.
Para fechar o show de
baboseiras, a palestrante soltou a pérola final. Os primeiros humanos, segundo
ela, seriam negros, pois Deus fez os homens do barro, e o barro é negro.
Pode parecer inacreditável, mas
um seminário de educadores foi recheado de todos esses absurdos, sob aplausos e
risadas de alguns da plateia. Pior que todas as asneiras ditas sob o rotulo de
pesquisa, foi a constatação do racismo às avessas, cometido sem qualquer
acanhamento, distribuído sob forma de anedota. Para eles, os palestrantes, o
racismo de alguns justifica o revanchismo racial odiento, que qualquer cabeça
lúcida e inteligente vai entender que só serve para agravar o preconceito de
raça.
Referenciais bibliográficos
MAGNOLI, Demétrio “Uma gota de sangue única: História do pensamento racial”. São
Paulo; Contexto; 2009
FRY, Peter, “A persistência da
Raça”. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005
http://www.ipea.gov.br/retrato/
ResponderExcluirO conhecimento se constrói num processo de interação e dialético. Ha conceitos semânticos, filosóficos, empiricos... Os textos trazem alem da metalinguagem...os contextos social, histórico...do ponto de vista da direita ...do colonizador indígenas e negros não tinham os mesmos direitos dos brancos. Se ha mudanças hoje neste contexto....quais as causas ...qual proorçao se deu a nível da
...
...educaçao...violencia...
"O fato, aqui, é que ao contrário dos EUA, o Brasil jamais promoveu uma política de anti-miscigenação".
ResponderExcluirAcho que você poderia dar uma revisada nessa tese, a menos que você nunca tenha ouvido falar sobre a política de embranquecimento social!".
O Brasil não produziu leis que impediram a mistura racial. Nos EUA as leis Jim Crow, por exemplo, separam negros em escolas, bebedouros e transportes coletivos. Relações interraciais eram proibidas até 1975. Por aqui, a miscigenação aconteceu a todo vapor, e é característica de nossa história.
ExcluirAdelson Vidal Alves, Editor do Blog.
Corrigindo: o ano foi 1967, apesar do estado do Alabama ter estendido até 2000.
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