terça-feira, 8 de agosto de 2017

Seminário em Barra Mansa expõe desinformação e racismo de palestrantes

Por Adelson Vidal Alves


A prefeitura de Barra Mansa realizou nesta terça-feira, 8 de Agosto, um seminário para professores da rede municipal de Educação sobre o ensino de relações étnico-raciais nas escolas. Os palestrantes foram convidados da Gerência de promoção da Igualdade Racial, órgão ligado ao governo do município.

A mesa de palestras foi composta exclusivamente de pesquisadores militantes do movimento negro e defensores abertos de políticas racialistas. As falas se configuraram como um espetáculo de bizarrice, desinformação histórica e racismo.

A primeira pesquisadora a se pronunciar fez a afirmação de que o impeachment de Dilma foi “um Golpe de Estado”, uma propaganda fora do lugar de uma tese delirante que se arrasta pelo país através das guerrilhas virtuais petistas. Seguindo as trilhas da militância, transmitiu a informação de que 55% dos brasileiros se autodeclaram negros, o que é falso. Segundo pesquisas do PNAD e do Censo do IBGE, cerca de 45% da população se autodeclaram pardos, enquanto menos de 10% dos pesquisados se afirmam como pretos. Questionada, ela se resumiu a dizer que no Brasil pardos são automaticamente negros, ignorando a autonomia da declaração da identidade individual das pessoas. O fato, aqui, é que ao contrário dos EUA, o Brasil jamais promoveu uma política de anti-miscigenação. Ao contrário, nosso país é indiscutivelmente um país mestiço, algo incômodo para os militantes do movimento negro.

Mas o circo de horrores ficou para o fim, na fala de uma pesquisadora que se autodeclarava doutora e ativista social. Ao estilo de um Stand up, fez piadas com as pessoas de pele branca, que segunda ela, seriam “encardidas”, numa expressão clara de racismo às avessas. Chegou ao ponto de insinuar que o demônio “teria olhos azuis”. O espetáculo patético não parou por ai, a palestrante pediu a construção de políticas de saúde exclusivas para pessoas de pele negra, afirmando haver “doenças raciais”, em uma prova de total ignorância quanto aos resultados das novas pesquisas da genética.

Já é sabido desde a segunda metade do século XX que raças humanas não existem na natureza, e que as diferenças biológicas entre grupos de cor de pele diferente são mínimas, imprevisíveis e impossíveis de serem classificadas racialmente. Mesmo assim, ela insistiu em afirmar que doenças como hipertensão e anemia falciforme seriam “doenças de negros”, uma estupidez insustentável.

Sobre o assunto, foi feliz o sociólogo Demétrio Magnoli, autor de “Uma Gota de Sangue Única: história do pensamento racial” um dos trabalhos mais completos sobre a questão racial já publicado no Brasil. Disse ele: “A Anemia falciforme, que ocupa o lugar estratégico de principal “doença de negros” no discurso racialista, é uma doença com larga variabilidade clínica (...) o portador do traço falciforme não é um doente (...) Doenças genéticas não são doenças raciais”. A farsa da “doença de negros”, sem ter apoio nas ciências médicas, só sobrevive como discurso ideológico. O antropólogo Peter Fry captou muito bem isso quando escreveu: “ A anemia falciforme tornou-se, muito mais que que uma doença a ser detectada e tratada , um poderoso elemento na naturalização da "raça negra”.

Para fechar o show de baboseiras, a palestrante soltou a pérola final. Os primeiros humanos, segundo ela, seriam negros, pois Deus fez os homens do barro, e o barro é negro.

Pode parecer inacreditável, mas um seminário de educadores foi recheado de todos esses absurdos, sob aplausos e risadas de alguns da plateia. Pior que todas as asneiras ditas sob o rotulo de pesquisa, foi a constatação do racismo às avessas, cometido sem qualquer acanhamento, distribuído sob forma de anedota. Para eles, os palestrantes, o racismo de alguns justifica o revanchismo racial odiento, que qualquer cabeça lúcida e inteligente vai entender que só serve para agravar o preconceito de raça.


Referenciais bibliográficos

MAGNOLI, Demétrio Uma gota de sangue única: História do pensamento racial”. São Paulo; Contexto; 2009

FRY, Peter, “A persistência da Raça”. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005



4 comentários:

  1. http://www.ipea.gov.br/retrato/
    O conhecimento se constrói num processo de interação e dialético. Ha conceitos semânticos, filosóficos, empiricos... Os textos trazem alem da metalinguagem...os contextos social, histórico...do ponto de vista da direita ...do colonizador indígenas e negros não tinham os mesmos direitos dos brancos. Se ha mudanças hoje neste contexto....quais as causas ...qual proorçao se deu a nível da
    ...
    ...educaçao...violencia...

    ResponderExcluir
  2. "O fato, aqui, é que ao contrário dos EUA, o Brasil jamais promoveu uma política de anti-miscigenação".

    Acho que você poderia dar uma revisada nessa tese, a menos que você nunca tenha ouvido falar sobre a política de embranquecimento social!".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Brasil não produziu leis que impediram a mistura racial. Nos EUA as leis Jim Crow, por exemplo, separam negros em escolas, bebedouros e transportes coletivos. Relações interraciais eram proibidas até 1975. Por aqui, a miscigenação aconteceu a todo vapor, e é característica de nossa história.

      Adelson Vidal Alves, Editor do Blog.

      Excluir
    2. Corrigindo: o ano foi 1967, apesar do estado do Alabama ter estendido até 2000.

      Excluir