segunda-feira, 12 de junho de 2017

A PM tem que acabar e todo mundo sabe disso

Por Adelson Vidal Alves



Pesquisa recente intitulada “Modernização da Segurança Pública", realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV DIREITO SP) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), apontou que mais de 70% dos policiais apoiam a desmilitarização da Polícia. O fim da PM, que está incluída em uma PEC que tramita no senado, é vista pela sociedade como algo que poderia harmonizar as ações da Polícia junto ao anseio da população por segurança pública, dentro dos limites e valores que emanam de um sistema democrático e republicano.

A Polícia Militar brasileira ganhou ares institucionais no período mais intenso de repressão dentro do regime militar. De forma lamentável, sua existência foi mantida pela carta constitucional de 1988, figurando uma das mais tristes heranças da ditadura que permaneceram na nossa Constituição. Na prática, isso significa que em nossa estrutura de segurança pública segue existindo um órgão policial de cultura militarista, isto é, agindo na sociedade com espírito de guerra, pronta para tombar o inimigo. Na “tropa de elite” desta PM, vigora um treinamento nos quais policiais celebram a missão da instituição: “Subir favela e deixar corpo no chão”, a exaltação do crime de execução extrajudicial.

Além disso, a PM brasileira age sob uma lógica preconceituosa, de cor e de classe. As principais vítimas letais do órgão são negros e pobres, dentro de uma estatística que escandaliza pelo número de mortes que nasce do cano do revolver de um policial, e também contra policiais. A lógica da guerra faz a Policia matar e morrer.

Outro aspecto a ser levado em conta na defesa do fim da PM tem a ver com o próprio funcionamento policial como um todo. Hoje, temos dentro da PM duas polícias, os chamados “praças” e os chamados “oficiais”. Os primeiros penam uma hierarquização anacrônica que promove humilhação, e faz da patente uma fonte de legitimação para esculhambações perversas e cruéis ao subordinado.

Falemos também do trabalho policial fragmentado. Temos hoje a PM que sobe favelas para enfrentar o tráfico, enfrentar turbulências sociais, enquanto a Policia Civil investiga. Por que não centralizar em uma única polícia o trabalho ostensivo e investigativo? É preciso, também, criar mais núcleos especializados. Um PM que separa briga de casal ou reprime um bêbado que incomoda transeuntes pode ser o mesmo que no dia seguinte enfrentará traficantes armados. Como fica a cabeça desse policial?


É preciso reformar, unificar e desmilitarizar a Policia. Modernizar a ação policial, tornando-a mais eficiente e em acordo com os direitos humanos e os parâmetros democráticos. Ganha a sociedade, as pessoas e, principalmente, os policiais. 

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