segunda-feira, 15 de maio de 2017

VR: crianças estudam em situação de risco e servidores podem ficar sem salário

Reproduzo o desabafo da educadora Ana Paula de Souza Rodrigues, que denuncia o descaso do governo Samuca com a educação. Nele é citado um caso grave, no qual qual crianças em uma escola do bairro Santo Agostinho estariam sob risco de se machucarem, e até mesmo de perderem a vida. No relato, também é abordado um ponto preocupante: os servidores do municipio de Volta Redonda podem ficar sem salários já no mês de agosto. O texto abaixo pode também ser lido nos veículos de comunicação oficiais do SEPE/VR.



Amanhã vai ser maior.

Devido ao episódio na quarta-feira (10/05) em que um ventilador quase caiu na cabeça das crianças, da professora (eu) e da auxiliar de educação da turma do maternal III B na creche tempo de criança, a comunidade do bairro Santo Agostinho convocou uma manifestação para o dia 13/05 (sexta-feira) com o objetivo de denunciar tamanho descaso com a escola pública e com a vida das nossas crianças e profissionais.
Convocamos a mídia local, mas a única que nos procurou na escola e fez contato depois foi “A Voz da Cidade”, através da jornalista Tânia. A matéria foi manchete no jornal dessa manhã e pode ser acessada no link:
http://flip.siteseguro.ws/pub/vozdacidade/…
Numa tentativa de boicotar nossa manifestação a secretaria municipal de educação, representada pela professora Rita, marcou uma reunião APENAS COM A MINHA TURMA no mesmo horário do ato denúncia. Ou seja: passaram por cima de uma manifestação popular e da vontade do povo!
Se não bastasse isso, quando chegamos na escola haviam 3 carros e uma moto da Guarda Municipal estacionados na frente da unidade para AMEDRONTAR a população. Uma situação paradoxal: somos negados do direito à educação, não temos a mínima segurança na escola e ainda somos tratados como questão de polícia.
Não houve confronto, muito pelo contrário: levamos arte pra porta da escola, joguei malabares, meus amigues Marcos (estudante de psicologia da UFF VR) e Lianto Segreto (professor de Filosofia) colaram os cartazes da manifestação na grade da creche junto com uma senhora da comunidade, os responsáveis das crianças deixaram seu apoio e as pessoas do bairro demonstraram sua insatisfação. Foi construída ali uma política de afetos!
Após alguns minutos de intervenção na porta da escola, decidimos nos dirigir ao interior da mesma para participar da reunião. Participaram do debate 14 representantes da comunidade, eu (Paulinha), a equipe da SME e a equipe diretiva da escola supracitada.
Foi um show de horrores: a equipe da SME, que contou até com um guarda Municipal por alguns instantes da reunião, não deixava a comunidade falar. Tentaram por diversas vezes me silenciar (a secretária olhava tudo com desdém e o procurador geral Augusto, numa tentativa de me interromper e desqualificar o que eu falava acabou sendo chamado de machista).
A comunidade exclamou: chega de promessa queremos solução! Nossas crianças não podem continuar nessa condição. No entanto, nada ficou acertado na reunião. Nada se fincou. Ficou prevista apenas a formação de uma comissão para conversar com Samuca (um canal de diálogo direto proposto por mim) e o fortalecimento do CCE já previsto em lei (proposto pela SME).
A situação continua a mesma. Alguns ventiladores foram retirados, mas a grande maioria continua nas salas apresentando risco às crianças, o teto está com infiltrações e rachaduras, paredes descascadas e com os azulejos soltando, os bancos dos refeitórios estão em precárias condições, o depósito dos materiais de limpeza é na verdade um depósito de sujeira, brinquedos velhos e quebrados, leia-se: perigosos, contrastam com o verde do gramado aos fundos da creche, onde a nossa horta será revitalizada. O muro da escola está quebrado e abandonado aguardando por concerto há quase um ano, falta profissionais, falta material pedagógico, não temos sala dos professores (Temos um depósito pedagógico cheio de poeira, mofo e ácaros. Um espaço pequeno, abafado, fétido e inóspito, onde os parcos materiais da unidade disputam espaço com uma mesa e um micro-ondas que quase nunca conseguimos usar, devido a falta de tempo). Soma-se a isso o quadro de precarização do trabalho: Não temos plano de carreira, temos um péssimo salário, as auxiliares de educação trabalham demasiadamente e recebem uma salário de miséria, falta profissionais de limpeza e na cozinha (essas profissionais são muitas vezes terceirizadas e também tem um salário irrisório), as salas estão super lotadas e não temos sequer horário de lanche ou de descanso. E só pra lembrar: Já estamos em meados de Maio e os uniformes até agora não chegaram! Surreal!
“A gente quer inteiro e não pela metade!”
E a resposta é sempre a mesma: vocês precisam esperar, pois não temos dinheiro. A prefeitura está em dívida e talvez não tenha nem dinheiro para pagar o funcionário a partir do mês de agosto desse ano, informou Augusto. #VaiTerGrevis
Mas que dívida é essa? Eu continuo pagando um dos impostos mais caros do mundo pra me dizerem que não tem dinheiro? Cadê o dinheiro da educação pública gente?! Estão nos fazendo de trouxas mais uma vez e isso não pode passar batido.
Alguns responsáveis que estavam na reunião ainda questionaram: “Por que existem creches melhores que as outras? Tem creche com ar condicionado e por que a nossa está abandonada?” Cri, cri, cri..
Sem reposta. Aliás, a justificativa dos representantes do governo foi: “vamos rever o apoio/contribuição da comunidade e vamos voltar com o projeto amigos na escola para ter a ajuda de empresários.” Grosso modo: Vamos enfiar a iniciativa privada dentro da escola, porque ai a gente desvia o dinheiro público e deixa os empresários comandarem a educação pública.
Mas a verdade é que não há interesse do governo em investir numa escola de periferia onde a maioria da população atendida é negra, pobre e trabalhadora. Os melhores recursos estão nas creches centrais, onde a população é majoritariamente branca e com condições financeiras melhores.
É por isso que eles incentivam iniciativas como o AMIGOS DA ESCOLA, que é um projeto criado pela Rede Globo (TV Globo e emissoras afiliadas) com o objetivo de promover a educação básica nas escolas públicas, onde professores, pais, alunos e a comunidade em geral são convidados a participar de forma CARIDOSA (informações retiradas do site: http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo…).
Que vergonha! Essa gente não nos representa!
Queremos ampliação e reforma da creche, melhores condições de trabalho, climatização da sala, materiais pedagógicos mais atualizados, formação continuada de qualidade, contratação de profissionais, salários melhores, a implementação do plano de carreira e da lei que estabelece 1/3 da carga horária para planejamento. Queremos já! E isso não se faz com caridade, com filantropia. É preciso vontade política e investimento público na educação.
Pra finalizar esse desabafo, quero lembrar a todos que no início desse ano (no dia 03/02/17, no mesmo dia em que foi encaminhado pela diretora Cristiane Mulano um documento à SME solicitando o concerto dos ventiladores da creche) uma criança de 3 anos morreu na Escola Municipal Amazonas em Campo Grande/RJ por conta de um portão que caiu em cima dela. Em outras palavras: por conta da negligência da prefeitura, que conforme a matéria já vinha sendo notificada há algum tempo. Segue o link:
https://www.google.com.br/…/crianca-morre-atingida-por-port…
Precisamos dar um basta nisso! Vidas estão sendo ceifadas! Os profissionais de educação estão adoecendo! O planeta tá morrendo! A vida está murchando!

Ana Paula de Souza Rodrigues - bacharela em Serviço Social e educadora na comunidade do Santo Agostinho.

Um comentário:

  1. Vamos aprender a escrever, Educadora com Ensino Superior não pode solicitar concerto de ventiladores, pois não são instrumentos musicais. Infelizmente, a culpa não é do Samuca, muito menos da SME. Quem foi Diretora da creche antes da atual? Onde estava o CCE para atuar mais energicamente? Será que era realmente necessário fazer tanto estardalhaço? A atual direção não poderia ter resolvido?
    Precisamos prestar mais atenção nas atitudes, e não passar por cima da hierarquia.
    Cada um com suas convicções, mas é necessário haver coerência nas reclamações.

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