Por Adelson Vidal Alves
A sexualidade de nossa espécie é complexa e
contraria o senso comum, que no ocidente sempre repousou na mitologia judaico-cristã,
segundo o qual a natureza humana “normal” seria macho ou fêmea, naturalmente ajustada
no corpo e na identidade individual, como sugere o mito de Adão e Eva. Tal
pensamento só pode se sustentar em uma visão míope, fundamentalista e
preconceituosa, alimentada por dogmas religiosos para lá de atrasados. Entender
a realidade exige muito mais que crendices medievais.
De inicio, devemos entender a
diferença entre sexo biológico, orientação sexual e gênero. O primeiro tem a
ver com combinações biológicas, que basicamente formam homem e mulher; a segunda
está ligada a atração sexual, não “opção sexual”. É orientação porque a
história de cada um vai revelar afetividades múltiplas nos indivíduos; que não
são escolhas, nascem com as pessoas. Por fim, falamos de gênero, algo complexo
que está ligado aos símbolos, comportamentos e representações sociais construídos
no tempo e no espaço. Daqui, surge a proposta de entendermos que o corpo não
revela necessariamente a identidade de gênero, que é diversa, e para alguns,
inclassificável. Compreender esta situação resulta na interpretação do mundo
não como um lugar meticulosamente planejado e ajustado do ponto de vista
sexual, mas uma complexidade ainda a ser compreendida totalmente.
Diante desta constatação, óbvia
para qualquer mente minimamente atenta, a sociedade, os governos, os educadores
e os pesquisadores vem propondo um debate dentro das escolas, com nossas
crianças, que tem o direito de conhecer o mundo que vivem, sendo orientadas a
se comportar conforme os paradigmas dos direitos humanos.
No entanto, do mundo
conservador e retrógrado aparecem gritarias das mais bizarras, que se dizem
defensoras das crianças. Ora, a escola é o espaço por excelência do
conhecimento, da discussão e do debate. Cercear o direito de professores
falarem às crianças sobre diversidade sexual e a necessidade da tolerância é
uma violação à liberdade de expressão e uma condenação prévia da criança a ser
privada de conhecimentos importantes sobre o mundo em qual vivem e se
desenvolvem.
Qual o medo dessa gente? Que
professores transformem seus filhos em homossexuais? Ou quem sabe alunos sejam
incentivados a transarem com o coleguinha da carteira da frente? Quanta bobagem!
O objetivo do debate sobre
gênero e sexualidade nas escolas é tão somente adicionar informações novas no
universo escolar, nada disso desautoriza a família na educação das crianças,
não desrespeita a religiosidade e nem doutrina cabeças inocentes a se tornarem “devassas”.
O combate boçal dos
reacionários contra uma proposta tão simples e progressista reflete um mundo
ainda em marcha à ré moral. O resultado é sempre prejudicial à construção de
uma sociedade mais cívica, justa e fraterna.
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