segunda-feira, 6 de novembro de 2017

“Ideologia de Gênero” e as crianças

Por Adelson Vidal Alves



 A sexualidade de nossa espécie é complexa e contraria o senso comum, que no ocidente sempre repousou na mitologia judaico-cristã, segundo o qual a natureza humana “normal” seria macho ou fêmea, naturalmente ajustada no corpo e na identidade individual, como sugere o mito de Adão e Eva. Tal pensamento só pode se sustentar em uma visão míope, fundamentalista e preconceituosa, alimentada por dogmas religiosos para lá de atrasados. Entender a realidade exige muito mais que crendices medievais.

De inicio, devemos entender a diferença entre sexo biológico, orientação sexual e gênero. O primeiro tem a ver com combinações biológicas, que basicamente formam homem e mulher; a segunda está ligada a atração sexual, não “opção sexual”. É orientação porque a história de cada um vai revelar afetividades múltiplas nos indivíduos; que não são escolhas, nascem com as pessoas. Por fim, falamos de gênero, algo complexo que está ligado aos símbolos, comportamentos e representações sociais construídos no tempo e no espaço. Daqui, surge a proposta de entendermos que o corpo não revela necessariamente a identidade de gênero, que é diversa, e para alguns, inclassificável. Compreender esta situação resulta na interpretação do mundo não como um lugar meticulosamente planejado e ajustado do ponto de vista sexual, mas uma complexidade ainda a ser compreendida totalmente.

Diante desta constatação, óbvia para qualquer mente minimamente atenta, a sociedade, os governos, os educadores e os pesquisadores vem propondo um debate dentro das escolas, com nossas crianças, que tem o direito de conhecer o mundo que vivem, sendo orientadas a se comportar conforme os paradigmas dos direitos humanos.

No entanto, do mundo conservador e retrógrado aparecem gritarias das mais bizarras, que se dizem defensoras das crianças. Ora, a escola é o espaço por excelência do conhecimento, da discussão e do debate. Cercear o direito de professores falarem às crianças sobre diversidade sexual e a necessidade da tolerância é uma violação à liberdade de expressão e uma condenação prévia da criança a ser privada de conhecimentos importantes sobre o mundo em qual vivem e se desenvolvem.

Qual o medo dessa gente? Que professores transformem seus filhos em homossexuais? Ou quem sabe alunos sejam incentivados a transarem com o coleguinha da carteira da frente? Quanta bobagem!

O objetivo do debate sobre gênero e sexualidade nas escolas é tão somente adicionar informações novas no universo escolar, nada disso desautoriza a família na educação das crianças, não desrespeita a religiosidade e nem doutrina cabeças inocentes a se tornarem “devassas”.

O combate boçal dos reacionários contra uma proposta tão simples e progressista reflete um mundo ainda em marcha à ré moral. O resultado é sempre prejudicial à construção de uma sociedade mais cívica, justa e fraterna.



Nenhum comentário:

Postar um comentário