quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sebastianismo eleitoral, bonapartismo de poder

Por Adelson Vidal Alves



D. Sebastião, rei de Portugal, morreu  durante a batalha de Alcácer-Quibir, no ano de 1578. Como não possuía herdeiros, o trono ficou sob o poder do rei Filipe II, da Espanha. Sob estas condições, surgiu um movimento de caráter místico-messiânico que se espalhou entre o povo, que esperava o retorno de D. Sebastião como salvador daquela situação, muitos, inclusive, chegavam a dizer que o rei na verdade não tinha morrido, apenas aguardava o momento para o regresso triunfal. Esse movimento recebeu o nome de sebastianismo, e influenciou até mesmo aqui no Brasil, em Canudos, com Antonio Conselheiro, que aguardava a volta do salvador para restaurar a monarquia.

O Bonapartismo é o termo político que se dá a governos que buscam a governabilidade fortalecendo o executivo e enfraquecendo o legislativo. Inspirado no jeito Napoleão Bonaparte de governar, o bonapartismo visa a consolidação de uma ditadura, através de um líder carismático capaz de negociar a conciliação de classes e grupos sociais. No Brasil, nosso maior exemplo foi Collor, e em menor medida, Lula.

Os dois casos acima tem algo a dizer ao segundo turno eleitoral em Volta Redonda, particularmente, sobre o candidato Samuca Silva. O sebastianismo já se faz presente no processo eleitoral. Quem vota no candidato do PV geralmente o faz com esperança de que se trata de um herói que libertará a cidade do jugo dos políticos corruptos que até então dominaram o poder. Como um messias que desce das nuvens, ele mudará tudo, sem necessidade de propostas, diálogos legislativos ou partidários. É a mágica do novo, do jovem gestor, da mudança, elementos suficientes para a glória final da cidade nas mãos do sebastianismo Samuca.

Caso triunfe, e se recuse a voltar os olhos para a governabilidade democrática, Samuca terá que apelar ao bonapartismo. Ele já tem 18 vereadores contra ele, apenas 3 o apoiam, exatamente os mais próximos do atual prefeito Neto. Collor sofreu a mesma dificuldade, e tentou governar por decretos, congelando ações do Judiciário e reeditando Medidas provisórias já rejeitadas pelo congresso. Tentou impor suas reformas econômicas, já que não tinha base de governo suficiente para negociação. Terminou renunciando, sob a mira de um processo de impeachment.


No momento é difícil prever o novo prefeito de Volta Redonda, a “onda verde” perdeu força, mas ainda se sustenta em meio ao clima de sebastianismo, onde o fanatismo e a fé impedem diálogos propositivos, fanáticos não se convencem com o uso da razão. Seja como for, Samuca já introduz dois elementos na campanha eleitoral de 2016 na cidade do aço que afrontam diretamente os valores da democracia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário