segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Por que estou deixando a REDE Sustentabilidade

Por Adelson Vidal Alves



No ano de 2013 me juntei a um grupo de pessoas para recolher assinaturas na fundação de um novo partido: a REDE Sustentabilidade. A nova legenda nascia em torno da ex-senadora Marina Silva. As eleições de 2014 interromperam esse processo, já que a REDE não conseguiu registro no TSE a tempo de disputar as eleições presidenciais. Marina acabou se abrigando temporariamente no PSB.

Em 2015 o partido é reconhecido pela Justiça eleitoral. Eu e meus companheiros do grupo de assinaturas nos reunimos para tentar organizar o partido na cidade de Volta Redonda. Fomos aconselhados a procurar os grupos que também tinham interesse em construir a REDE. Os interessados aceitaram trabalhar na formação de uma direção provisória plural, sendo orientados diretamente pelo diretório estadual. A poucos dias do final do prazo de filiação para a disputa do pleito municipal formamos nossa executiva, onde fui escolhido porta voz (presidente na linguagem jurídica do TSE). Nossa direção provisória resistiu a uma investida oportunista de pessoas que tentaram assaltar o partido para fim de interesses pessoais, saímos inteiros e obtivemos relativo sucesso com nosso único candidato a vereador. Tudo isso, no entanto, foi extremamente desgastante, me fazendo conhecer desilusões e desalentos frente a realidade do partido, a quem hoje comunico meu desligamento. As razões são de ordem pessoal e política.

De inicio admito o quanto é trabalhoso formar um partido, ainda mais com a proposta que a REDE tinha. O movimento foi aberto, acolheu variados setores da sociedade, a ideia era ser plural. Com o tempo, percebi que esse pluralismo virou sinônimo de falta de identidade, já que nunca nos posicionamos no espectro ideológico, nunca nos afirmamos como centro, esquerda ou direita, a REDE quer abraçar o mundo, de certa forma, adotando o discurso pós-moderno que proclama o fim das grandes narrativas ideológicas. O partido não é social-democrata, liberal , comunista, ou é tudo ao mesmo tempo. No centro, o discurso comum da sustentabilidade e da nova política, essa última que jamais foi devidamente conceituada, apenas de forma genérica. Convivi ao lado de neopentecostais homofóbicos, anti-comunistas, ultraliberais, gente de direita mesmo, aceita naturalmente pelo partido.

Com mais de um ano de existência, a organização partidária é precária. A disputa política é fratricida. No estado do Rio, no momento atual, assistimos a uma luta interna que mal conhecemos suas dimensões. O interior do estado sofre. As informações não chegavam a nós, mal conseguíamos nos comunicar com nossos dirigentes. A realidade interna do partido corre sem nossa ciência. Nosso deputado Molon vem a Volta Redonda fazer uma palestra, sequer uma ligação recebemos. Passei pelo constrangimento de saber do evento por um de nossos adversários políticos. Em tempos de redes sociais e comunicação rápida, nada explica tal situação, a não ser o descaso.

A REDE segue sendo uma alternativa, do qual sigo confiando que influenciará positivamente a democracia brasileira. Para isso, terá que criar um rosto, apresentar um programa coeso, equalizar suas diferenças e botar pra fora os corpos estranhos que frequentam o partido. Não há nenhum sinal de reforma significativa nesse sentido. Ao contrário, sequer conseguimos agir unificados pelo impeachment, o próprio deputado Molon nos chamou de golpistas.

Marina Silva, essa grande mulher, é o sol no qual os militantes da REDE giram em torno, virou uma santa intocável. Menos por culpa dela, mais pela passividade dos filiados. A grande maioria deles pessoas honestas e sinceras que verdadeiramente se preocupam com um mundo melhor.

Não vou ficar para ajudar nessa mudança que tantos precisamos. Falta-me força, tempo e empolgação. Seguirei, provavelmente, como um torcedor pelas transformações partidárias, mas não doarei mais meu tempo às instâncias de direção. Saio desejando sorte aos guerreiros e guerreiras que ficam e seguem acreditando no potencial do partido. Eu, aqui, despeço-me dos meus companheiros. Força a todos e muita Coragem.


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