Por Adelson Vidal Alves
Como todos sabem, sou
materialista. O materialismo, de origem grega, é o pensamento que reduz a vida,
a sociedade, os planetas e os seres humanos num simples aglomerado de átomos.
Nesta perspectiva, a morte é tão somente a interrupção da consciência, a
entrada no silêncio eterno e no vazio. Tudo isso é bem diferente da metafísica.
Esta, como sugere a etimologia, crê num mundo além da matéria. A religião (parte da
metafísica) geralmente crê num Deus que criou o mundo, que tem inteligência
suprema e um plano para todos nós. Materialistas pensam a vida como um simples
acidente cósmico, os religiosos, um cálculo ordeiro de uma inteligência
celestial.
Ser materialista não é fácil. É
dose saber de nossa finitude, que não temos nenhuma força superior para
recorrer quando a morte se aproxima, quando perdemos o emprego, contraímos uma
doença grave. E depois de tudo isso, nem um céu pra nos confortar no
além-túmulo nós temos. A maioria das pessoas religiosas prefere não fazer
grandes questionamentos sobre o sentido da vida. Ele está na mão de uma energia
cósmica que promete no futuro coisa melhor que esse mundo furreca nos oferece.
Sim, porque nem mesmo os
cristãos consideram nossa vivência um paraíso, ele ficou no Éden, e pelo vacilo
de Eva, estamos aqui quebrando a cara. Pessimistas e religiosos sabem que o
mundo oferta desespero, medo, tormento, angústia e tristeza, o tempo todo. Não
a toa, Franscisco de Assis coloca em sua oração que a morte não é um desastre,
é a abertura do portão para um mundo plenamente feliz. E quem aqui nunca disse
a um ente querido que morreu: “descanse em paz”. Descansar do que? Da
felicidade e dos prazeres? Não. Da dor que é a existência humana.
Dito tudo isso, materialistas e
cristãos se rivalizam quanto ao fato de encontrar o sentido da vida.
Materialistas sabem que ela é fruto de um acaso, não há ordem ou direção.
Vivemos, morremos e pronto. Os religiosos vão falar em karmas, paraísos
celestiais, missões divinas etc. Estes estão resolvidos.
Os materialistas, contudo,
também precisam de algum sentido, senão estariam em hospícios ou pendurados
numa forca de suicídio. Pensa-se nos prazeres, nos amigos, nas causas
humanitárias, nas ideologias utópicas, no amor, no sonho de deixar um filho. Para
quem não espera nada do outro lado, aqui passa a ser o céu e o inferno.
O materialismo é um ato
corajoso e conformista. Nos dá a missão de encarar a pior das possibilidades
humanas: não há Deus e nem uma vida futura perfeita. A postura de aceitar a
finitude humana é conformação, mas também a coragem de viver com suas forças, e
não jogar para nenhum deus o que a natureza caótica nos condenou como espécie.
O seu interior te diz o contrário do que o materialismo afirma. O vácuo tem uma voz que te diz:
ResponderExcluir-Eu te criei e estou me revelando a ti!