quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Qual o sentido da vida?

Por Adelson Vidal Alves



Como todos sabem, sou materialista. O materialismo, de origem grega, é o pensamento que reduz a vida, a sociedade, os planetas e os seres humanos num simples aglomerado de átomos. Nesta perspectiva, a morte é tão somente a interrupção da consciência, a entrada no silêncio eterno e no vazio. Tudo isso é bem diferente da metafísica. Esta, como sugere a etimologia, crê num mundo além da matéria. A religião (parte da metafísica) geralmente crê num Deus que criou o mundo, que tem inteligência suprema e um plano para todos nós. Materialistas pensam a vida como um simples acidente cósmico, os religiosos, um cálculo ordeiro de uma inteligência celestial.

Ser materialista não é fácil. É dose saber de nossa finitude, que não temos nenhuma força superior para recorrer quando a morte se aproxima, quando perdemos o emprego, contraímos uma doença grave. E depois de tudo isso, nem um céu pra nos confortar no além-túmulo nós temos. A maioria das pessoas religiosas prefere não fazer grandes questionamentos sobre o sentido da vida. Ele está na mão de uma energia cósmica que promete no futuro coisa melhor que esse mundo furreca nos oferece.

Sim, porque nem mesmo os cristãos consideram nossa vivência um paraíso, ele ficou no Éden, e pelo vacilo de Eva, estamos aqui quebrando a cara. Pessimistas e religiosos sabem que o mundo oferta desespero, medo, tormento, angústia e tristeza, o tempo todo. Não a toa, Franscisco de Assis coloca em sua oração que a morte não é um desastre, é a abertura do portão para um mundo plenamente feliz. E quem aqui nunca disse a um ente querido que morreu: “descanse em paz”. Descansar do que? Da felicidade e dos prazeres? Não. Da dor que é a existência humana.

Dito tudo isso, materialistas e cristãos se rivalizam quanto ao fato de encontrar o sentido da vida. Materialistas sabem que ela é fruto de um acaso, não há ordem ou direção. Vivemos, morremos e pronto. Os religiosos vão falar em karmas, paraísos celestiais, missões divinas etc. Estes estão resolvidos.

Os materialistas, contudo, também precisam de algum sentido, senão estariam em hospícios ou pendurados numa forca de suicídio. Pensa-se nos prazeres, nos amigos, nas causas humanitárias, nas ideologias utópicas, no amor, no sonho de deixar um filho. Para quem não espera nada do outro lado, aqui passa a ser o céu e o inferno.

O materialismo é um ato corajoso e conformista. Nos dá a missão de encarar a pior das possibilidades humanas: não há Deus e nem uma vida futura perfeita. A postura de aceitar a finitude humana é conformação, mas também a coragem de viver com suas forças, e não jogar para nenhum deus o que a natureza caótica nos condenou como espécie.


Um comentário:

  1. O seu interior te diz o contrário do que o materialismo afirma. O vácuo tem uma voz que te diz:
    -Eu te criei e estou me revelando a ti!

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