Por Adelson Vidal Alves
“Professor, você conhece este filósofo?”, perguntou-me um de
meus alunos, com um livro de Olavo de Carvalho na mão. Feliz, propôs a
conversar comigo sobre sua descoberta, o livro era “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. A
principio, fiquei preocupado, mas ele estava lendo, e isso anda raro em nossos
jovens, eu deveria incentivá-lo. Ele segue em seu entusiasmo: “O senhor sabia que
Obama não é americano, que o papa é comunista e que a Pepsi usa fetos abortados
em seus refrigerantes?" Suas colocações sempre giravam em torno das várias
posições polêmicas do “filósofo Olavo”.
Meu aluno não é uma exceção. Olavo de Carvalho tem chegado
com relativo sucesso às mentes dos nossos alunos, sobretudo, os de classe média
em escolas particulares. De alguma forma, ele tem sido bem mais atraente que os
pensadores clássicos. Nossa juventude desconhece Marx, Weber, Foucaut, Sartre...
mas conhece Olavo e vota em Bolsonaro. Sim! Essa é a segunda parte da minha
preocupação.
Assim como o filósofo sem graduação em filosofia, Bolsonaro
vem crescendo entre os nossos jovens. “Bandido bom é bandido morto” “A ditadura
militar não dava mole para bandido e terrorista” “virou gay por falta de
porrada”. Essas são as frases que vem encantando parte de uma geração. Os admiradores
do “Bolsomito” (como Bolsonaro vem sendo conhecido) ainda ostentam que contra o
deputado não há denúncia de corrupção. O cara é honesto! Dizem orgulhosos.
Resta saber, onde erramos para que a então parte rebelde da sociedade se curve
a aberrações como Olavo e Bolsonaro, versões toscas do pensamento reacionário.
Não há uma única resposta. Mas me parece claro que o
discurso esquerdista do movimento estudantil soa pedante, chato, repetitivo e
distante. Como certa vez escreveu Luiz Felipe Pondé, serve pra comer menininha
universitária, mas não para provocar as massas. Mais-valia, imperialismo,
neoliberalismo são coisas que não interessam a juventude de hoje, consumista e
imediatista. Também os professores marxistas erram feio. Não basta falar que
quem vota em Bolsonaro é alienado, “coxinha” e ignorante. Isso é simplismo. São
tão arrogantes que não reconhecem que estão fracassando como intelectuais, na
pedagogia de construir hegemonia para a esquerda, fomentando a crítica.
As consequências desses fenômenos são graves, pois a
extrema-direita avança, o irracionalismo vira sinônimo de eficiência, o debate
crítico desaparece. Tudo isso enquanto a mesma direita faz uma denúncia
verdadeira: o marxismo domina as universidades. Mas o que eles não sabem é que
o marxismo fica do muro pra dentro. Nas escolas e na vida, a “doutrinação
marxista” fracassou.
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