sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Meus alunos estão lendo Olavo e votando em Bolsonaro. O que deu errado?

Por Adelson Vidal Alves



“Professor, você conhece este filósofo?”, perguntou-me um de meus alunos, com um livro de Olavo de Carvalho na mão. Feliz, propôs a conversar comigo sobre sua descoberta, o livro era “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. A principio, fiquei preocupado, mas ele estava lendo, e isso anda raro em nossos jovens, eu deveria incentivá-lo. Ele segue em seu entusiasmo: “O senhor sabia que Obama não é americano, que o papa é comunista e que a Pepsi usa fetos abortados em seus refrigerantes?" Suas colocações sempre giravam em torno das várias posições polêmicas do “filósofo Olavo”.

Meu aluno não é uma exceção. Olavo de Carvalho tem chegado com relativo sucesso às mentes dos nossos alunos, sobretudo, os de classe média em escolas particulares. De alguma forma, ele tem sido bem mais atraente que os pensadores clássicos. Nossa juventude desconhece Marx, Weber, Foucaut, Sartre... mas conhece Olavo e vota em Bolsonaro. Sim! Essa é a segunda parte da minha preocupação.

Assim como o filósofo sem graduação em filosofia, Bolsonaro vem crescendo entre os nossos jovens. “Bandido bom é bandido morto” “A ditadura militar não dava mole para bandido e terrorista” “virou gay por falta de porrada”. Essas são as frases que vem encantando parte de uma geração. Os admiradores do “Bolsomito” (como Bolsonaro vem sendo conhecido) ainda ostentam que contra o deputado não há denúncia de corrupção. O cara é honesto! Dizem orgulhosos. Resta saber, onde erramos para que a então parte rebelde da sociedade se curve a aberrações como Olavo e Bolsonaro, versões toscas do pensamento reacionário.

Não há uma única resposta. Mas me parece claro que o discurso esquerdista do movimento estudantil soa pedante, chato, repetitivo e distante. Como certa vez escreveu Luiz Felipe Pondé, serve pra comer menininha universitária, mas não para provocar as massas. Mais-valia, imperialismo, neoliberalismo são coisas que não interessam a juventude de hoje, consumista e imediatista. Também os professores marxistas erram feio. Não basta falar que quem vota em Bolsonaro é alienado, “coxinha” e ignorante. Isso é simplismo. São tão arrogantes que não reconhecem que estão fracassando como intelectuais, na pedagogia de construir hegemonia para a esquerda, fomentando a crítica.


As consequências desses fenômenos são graves, pois a extrema-direita avança, o irracionalismo vira sinônimo de eficiência, o debate crítico desaparece. Tudo isso enquanto a mesma direita faz uma denúncia verdadeira: o marxismo domina as universidades. Mas o que eles não sabem é que o marxismo fica do muro pra dentro. Nas escolas e na vida, a “doutrinação marxista” fracassou. 

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