Por Adelson Vidal Alves
Segundo números recentes do
IBGE, os protestantes vem tendo crescimento significativo no Brasil. Mas não
são as igrejas históricas, como a Batista, a presbiteriana, luterana ou
metodista. Tratam-se de novas formas de ser igreja, centrada num culto mais
espetaculoso, barulhento, com ênfase na emoção, na sensibilidade das pessoas. A
teologia é pobre. Uma espécie de manipulação dos textos bíblicos para atender
doutrinas bizarras e perigosas. Promete-se a cura de uma unha encravada até o
casamento reatado. Em troca, a obediência cega ao líder, a dedicação rigorosa
aos compromissos financeiros com a igreja, que recebe atenção especial nas
reuniões. O pagamento de dízimos e ofertas são precedidos de longas leituras
bíblicas, testemunhos sensacionalistas, tudo para convencer o fiel que sua
contribuição econômica pode melhorar sua vida, te dar aquele carrão, aquela
casa ou te arrumar um belo emprego. Por fim, a presença constante do demônio como
personalização do mal nos seus discursos.
Os neopentecostais avançam cada
vez mais. Não apenas no campo religioso, ao perceberem seu tamanho e sua
influência, resolveram transformar sua força de fé em poder. A mais poderosa
igreja neopentecostal - a Igreja Universal- tem partido político e televisão. PRB e
Record. Dominam hoje as bancadas religiosas, e o voto de seus fieis quase
sempre acompanham o apoio das lideranças. Falamos aqui de uma força coesa,
homogênea, obediente e orquestrada, por isso é perigosa.
O interessante nisso tudo, do
ponto de vista da política, é seu avanço nos setores mais pobres, onde a
esquerda, por coerência histórica, deveria ter mais força. Ao contrário, o
neopentacostalismo, de direita, reacionário e até homofóbico, domina os grotões
de miséria, como testemunhou o recente segundo turno do Rio de Janeiro. Mas
porque isso acontece?
Os motivos são vários, mas é
fato que a esquerda brasileira não consegue entender a cultura própria desse
setor social. Oferecem um futuro longínquo de igualdade, através da luta, da
organização, enquanto o que eles querem é a prosperidade burguesa, a quem a
esquerda trata como inimiga de classe. A
linguagem com que se direciona tal proposta vem cheia de “ismos”, “socialismo”,
“neoliberalismo”, “imperialismo” e por ai vai. Termos distantes da vida de quem
mal teve condições de frequentar uma escola pública. Os neopentecostais
prometem resoluções rápidas, milagrosas, com uma conversa serena em redes de
proteção emocional, com a comunidade religiosa abraçando, dando carinho e
atenção aos desprotegidos. Os empobrecidos não são privados apenas de ação
direta do Estado, mas de atenção, eles querem ser ouvidos.
Outra coisa é a presença no
cotidiano. A esquerda abandonou o trabalho de base, não tem mais partidos ou
núcleos de trabalho popular. A igreja está diariamente nos pontos mais
marginalizados da cidade, com aconselhamentos, cuidados assistenciais e
culturais. A quem essa população vai ouvir? Militantes universitários e
intelectuais da zona sul ou pastores que falam diretamente a língua deles?
O desafio da esquerda consiste
em entender melhor os pobres, e se propor a viver com eles, organizando e
politizando com eles. Por enquanto ela age com vanguardismo, achando que sua
ida a favela é uma missão civilizatória. Eis a razão de seu fracasso.
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