sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Porque os neopentecostais falam aos pobres melhor que a esquerda?

Por Adelson Vidal Alves



Segundo números recentes do IBGE, os protestantes vem tendo crescimento significativo no Brasil. Mas não são as igrejas históricas, como a Batista, a presbiteriana, luterana ou metodista. Tratam-se de novas formas de ser igreja, centrada num culto mais espetaculoso, barulhento, com ênfase na emoção, na sensibilidade das pessoas. A teologia é pobre. Uma espécie de manipulação dos textos bíblicos para atender doutrinas bizarras e perigosas. Promete-se a cura de uma unha encravada até o casamento reatado. Em troca, a obediência cega ao líder, a dedicação rigorosa aos compromissos financeiros com a igreja, que recebe atenção especial nas reuniões. O pagamento de dízimos e ofertas são precedidos de longas leituras bíblicas, testemunhos sensacionalistas, tudo para convencer o fiel que sua contribuição econômica pode melhorar sua vida, te dar aquele carrão, aquela casa ou te arrumar um belo emprego. Por fim, a presença constante do demônio como personalização do mal nos seus discursos.

Os neopentecostais avançam cada vez mais. Não apenas no campo religioso, ao perceberem seu tamanho e sua influência, resolveram transformar sua força de fé em poder. A mais poderosa igreja neopentecostal - a Igreja Universal-  tem partido político e televisão. PRB e Record. Dominam hoje as bancadas religiosas, e o voto de seus fieis quase sempre acompanham o apoio das lideranças. Falamos aqui de uma força coesa, homogênea, obediente e orquestrada, por isso é perigosa.

O interessante nisso tudo, do ponto de vista da política, é seu avanço nos setores mais pobres, onde a esquerda, por coerência histórica, deveria ter mais força. Ao contrário, o neopentacostalismo, de direita, reacionário e até homofóbico, domina os grotões de miséria, como testemunhou o recente segundo turno do Rio de Janeiro. Mas porque isso acontece?

Os motivos são vários, mas é fato que a esquerda brasileira não consegue entender a cultura própria desse setor social. Oferecem um futuro longínquo de igualdade, através da luta, da organização, enquanto o que eles querem é a prosperidade burguesa, a quem a esquerda trata como inimiga de classe.  A linguagem com que se direciona tal proposta vem cheia de “ismos”, “socialismo”, “neoliberalismo”, “imperialismo” e por ai vai. Termos distantes da vida de quem mal teve condições de frequentar uma escola pública. Os neopentecostais prometem resoluções rápidas, milagrosas, com uma conversa serena em redes de proteção emocional, com a comunidade religiosa abraçando, dando carinho e atenção aos desprotegidos. Os empobrecidos não são privados apenas de ação direta do Estado, mas de atenção, eles querem ser ouvidos.

Outra coisa é a presença no cotidiano. A esquerda abandonou o trabalho de base, não tem mais partidos ou núcleos de trabalho popular. A igreja está diariamente nos pontos mais marginalizados da cidade, com aconselhamentos, cuidados assistenciais e culturais. A quem essa população vai ouvir? Militantes universitários e intelectuais da zona sul ou pastores que falam diretamente a língua deles?

O desafio da esquerda consiste em entender melhor os pobres, e se propor a viver com eles, organizando e politizando com eles. Por enquanto ela age com vanguardismo, achando que sua ida a favela é uma missão civilizatória. Eis a razão de seu fracasso.


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