quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Mais uma chance para a social-democracia

Por Adelson Vidal Alves


A década de 1990 foi emblemática no sentido que interrompeu a experiência histórica do chamado “socialismo realmente existente”, junto com a ela veio uma espécie de demonização do Estado, como sendo um aparelho pesado, obstáculo para o desenvolvimento econômico aos moldes da liberdade de mercado. Nesse sentido, triunfou o neoliberalismo, a receita do Consenso de Washington, desregulamentação, redução do papel do Estado e até flexibilização em direitos trabalhistas. Primeiro no Chile, depois na Inglaterra, o neoliberalismo fez da América Latina o seu continente. O Brasil de Collor e FHC, ainda que em moldes mais “lights” que os de Thatcher e Reagan, também se seduziu pela mão invisível do mercado.

O esgotamento do neoliberalismo no Brasil trouxe ao poder a variante social-democrata brasileira ligada ao sindicalismo. O PT de Lula chegou ao poder proclamando a construção de um desenvolvimento nacional tendo o Estado como indutor, a construção de uma rede de proteção social, a distribuição de renda e geração de emprego. A outra social-democracia se organizou na oposição, e fez um duelo desde então com seu irmão social-democrata na luta pelo poder central. Recentemente o nacional-desenvolvimentismo dos governos petistas perdeu força, e o grande erro do governo petista foi insistir em se manter fiel, na economia, a uma cópia rigorosa dos anos 50. Sem a capacidade de modernização na gestão, o Brasil ficou frágil em seu modelo econômico, vulnerável a crise, que atingiu em cheio o PT, em que o já citado modelo econômico ao lado da crise ética foram os principais motivos que interromperam o ciclo do partido no poder e seu brutal enxugamento nestas eleições de 2016, perdendo quase todas as prefeituras de grande porte que disputou.

A vitória eleitoral deste ano destacou o crescimento de dois partidos de perfil social-democrata: o PSDB e o PPS. O primeiro, aliado do atual governo federal, precisa de uma refundação. Nos últimos anos se inclinou para a direita, absorveu em suas administrações o liberalismo econômico. Caso se reafirme ideologicamente, pode liderar um bloco que seja porta voz desta social-democracia nos nossos tempos, com um projeto reformista, capaz de sustentar um Estado no tamanho ideal para promover o desenvolvimento, diminuir as desigualdades, e democratizar a sociedade brasileira em todas as esferas; econômica, social e cultural.

O PPS – herdeiro democrático do partidão- já em 1991 abandonou perspectivas revolucionárias e se adequou ao reformismo democrático. Mas como bem observou o sociólogo José de Souza Martins, é hoje o mais autêntico social-democrata entre todos os partidos. Também se espera dele uma clareza maior nesta questão, para que decisivamente se credencie como força neste campo da esquerda democrática.


Enfim, as urnas rejeitaram a esquerda histórica, radical e presa a dogmas revolucionaristas, ainda que esta tenha conseguido um crescimento aqui ou lá, mas permanecem pequenos. Nossa tradição histórica social-democrata, cravada na carta de 1988, volta a ganhar força, inclusive para reorientar o governo Temer contra os excessos de ajustes que desconstroem conquistas sociais consagradas na carta cidadã. A social-democracia mais uma vez se mostra o caminho mais desejado pelo povo brasileiro. 

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