Por Adelson Vidal Alves
A década de 1990 foi
emblemática no sentido que interrompeu a experiência histórica do chamado “socialismo
realmente existente”, junto com a ela veio uma espécie de demonização do
Estado, como sendo um aparelho pesado, obstáculo para o desenvolvimento
econômico aos moldes da liberdade de mercado. Nesse sentido, triunfou o
neoliberalismo, a receita do Consenso de Washington, desregulamentação, redução
do papel do Estado e até flexibilização em direitos trabalhistas. Primeiro no
Chile, depois na Inglaterra, o neoliberalismo fez da América Latina o seu
continente. O Brasil de Collor e FHC, ainda que em moldes mais “lights” que os
de Thatcher e Reagan, também se seduziu pela mão invisível do mercado.
O esgotamento do neoliberalismo
no Brasil trouxe ao poder a variante social-democrata brasileira ligada ao
sindicalismo. O PT de Lula chegou ao poder proclamando a construção de um
desenvolvimento nacional tendo o Estado como indutor, a construção de uma rede
de proteção social, a distribuição de renda e geração de emprego. A outra
social-democracia se organizou na oposição, e fez um duelo desde então com seu
irmão social-democrata na luta pelo poder central. Recentemente o
nacional-desenvolvimentismo dos governos petistas perdeu força, e o grande erro
do governo petista foi insistir em se manter fiel, na economia, a uma cópia rigorosa
dos anos 50. Sem a capacidade de modernização na gestão, o Brasil ficou frágil
em seu modelo econômico, vulnerável a crise, que atingiu em cheio o PT, em que
o já citado modelo econômico ao lado da crise ética foram os principais motivos
que interromperam o ciclo do partido no poder e seu brutal enxugamento nestas
eleições de 2016, perdendo quase todas as prefeituras de grande porte que
disputou.
A vitória eleitoral deste ano
destacou o crescimento de dois partidos de perfil social-democrata: o PSDB e o
PPS. O primeiro, aliado do atual governo federal, precisa de uma refundação.
Nos últimos anos se inclinou para a direita, absorveu em suas administrações o
liberalismo econômico. Caso se reafirme ideologicamente, pode liderar um bloco
que seja porta voz desta social-democracia nos nossos tempos, com um projeto
reformista, capaz de sustentar um Estado no tamanho ideal para promover o
desenvolvimento, diminuir as desigualdades, e democratizar a sociedade
brasileira em todas as esferas; econômica, social e cultural.
O PPS – herdeiro democrático do
partidão- já em 1991 abandonou perspectivas revolucionárias e se adequou ao
reformismo democrático. Mas como bem observou o sociólogo José de Souza Martins,
é hoje o mais autêntico social-democrata entre todos os partidos. Também se
espera dele uma clareza maior nesta questão, para que decisivamente se
credencie como força neste campo da esquerda democrática.
Enfim, as urnas rejeitaram a
esquerda histórica, radical e presa a dogmas revolucionaristas, ainda que esta
tenha conseguido um crescimento aqui ou lá, mas permanecem pequenos. Nossa
tradição histórica social-democrata, cravada na carta de 1988, volta a ganhar
força, inclusive para reorientar o governo Temer contra os excessos de ajustes
que desconstroem conquistas sociais consagradas na carta cidadã. A
social-democracia mais uma vez se mostra o caminho mais desejado pelo povo
brasileiro.
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