sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A REDE precisa de um programa claro de sociedade

Por Adelson Vidal Alves


A REDE SUSTENTABILIDADE, partido que sou filiado e porta voz em Volta Redonda, é um esforço honesto e legítimo de brasileiros convictos que a velha política de fisiologismo, clientelismo e patrimonialismo  deve ser superada. A política de balcão de negócios nos coloca historicamente numa ciranda de vícios que nos impedem de superar, como nação, nossos problemas mais graves: o racismo, o machismo, a misoginia, as desigualdades, a violência e a extrema pobreza.

A política, em sua forma democrática, é o único caminho seguro para operarmos transformações sociais que vença esse atraso, através de pactos, construções de consensos, sempre renováveis. Neste desafio os partidos políticos são peças fundamentais, pois são eles os representantes de projetos universais, de Estado e sociedade. Mas a crise partidária também é uma realidade, pois os partidos não foram capazes de se modernizar, não respondem ao anseio popular, e quase sempre se apresentam como abrigos temporários de poder a velhos caciques. É preciso mudar, e a REDE é uma dessas tentativas de mudança. Mas está conseguindo obter sucesso?

A REDE cresceu em torno da figura de Marina Silva, com foco na nova política e na sustentabilidade. Tem a ambição de se organizar horizontalmente, diferente da verticalidade dos partidos tradicionais. Tem nas redes sociais uma esperança para irmos além da democracia institucional, favorecendo a participação popular mais ampla. Mira os exemplos de partidos como o PODEMOS na Espanha, que surgiram após as grandes manifestações globais contra a atual ordem de coisas. É plural, pois aceita em suas fileiras vários grupos ideológicos, que minimamente comungam com as diretrizes de seu manifesto. Aqui mora sua grande virtude e fragilidade.

Virtude pois rejeita um modelo partidário de cunho finalístico, mas sua pluralidade mal equacionada, vem sendo responsável pela falta de rosto do partido, criando bases que vão desde o eurocomunismo até religiosos conservadores. Na verdade, não temos uma base real de sustentação, temos agrupamentos agindo no interior do partido com intenções particulares, sem um eixo central, porque o partido ainda não construiu seu eixo.

A falta de convergência foi clara na votação de impeachment. Enquanto a direção nacional apontou voto a favor do impedimento, 3 dos nossos 5 parlamentares votaram contra a orientação nacional, com defesas exacerbadas de Dilma e o PT. Um de nossos parlamentares acusou o impeachment de golpe, e indiretamente atingiu a maioria da militância e também Marina Silva.

Também foi notada a construção de alianças sem critérios. Em alguns municípios os acordos giraram em torno de projetos de centro-direita, como em Porto Alegre, em outros, caminhamos com a extrema-esquerda, como no Rio de Janeiro. Quem é a REDE afinal?


A falta de coesão e projeto claro de sociedade foi responsável pela perda de quadros intelectuais importantes do partido, como o antropólogo Luiz Eduardo Soares. A REDE precisa ser mais que uma reunião de pessoas de boa intenção, é preciso ter um programa claro, capaz de reunir uma base sólida em torno desse projeto. É preciso declarar à sociedade que temos algo de novo a dizer, uma saída real e concreta para a crise civilizatória de nossos tempos. A razão da REDE existir passa por este desafio, do contrário, não tem porque existir. 

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