sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A prisão de Garotinho sacia a sede dos “justiceiros" da barbárie

Por Adelson Vidal Alves



O ex-governador Anthony Garotinho é acusado de usar de programa social na compra de votos quando governava o estado do Rio de Janeiro. Foi preso pela Polícia Federal, não foi condenado, e pelo que sei, não tinha força para atrapalhar as investigações. Bem, deixemos isso para os juristas. O que me preocupa é o espetáculo midiático e popular criado em torno da detenção de Garotinho.

O filósofo Michel Foucault em seu clássico “vigiar e punir” narra a evolução do sistema penal mundial. Em outros tempos, valia a penúria, o sofrimento, a dor do condenado. Era a punição do crime com os maiores horrores possíveis, sempre em praça pública. Era a vingança, não a justiça.

Hoje, evoluímos para um paradigma cívico no qual a interpretação de um crime leva em consideração uma série de fatores, atenuantes ou agravantes. A punição não visa apenas castigar como exemplo, mas também reeducar para a volta do convívio social. Um preso recuperado não é bom só pra ele, é bom pra sociedade. Um perigo a menos. Apesar disso, segue o sentimento “justiceiro”, as vezes a tal “justiça” é feita com as próprias mãos. Não a toa, aumentam os casos de linchamento de supostos assassinos, estupradores ou agressores de criança. Os condenados estão exclusivamente sob o júri da paixão de uma sociedade sedenta de sangue e violência. Não são raro os casos onde a vítima mais tarde se comprova inocente.

Garotinho, antes da sentença judicial, foi arrastado em uma maca . Comprovadamente doente, foi jogado em uma ambulância aos gritos da filha desesperada. O vídeo, comemorado nas redes sociais, era a própria cena da barbárie. Os que aplaudiram a violação da dignidade humana do ex-governador mal sabem o crime que ele cometeu, mas isso não faz diferença, né? Ele é político, e todo o político não presta. Não merece julgamento, defesa, e nem respeito a seus direitos constitucionais como gente. Bom é o juiz que nega todos seus direitos, o agente público que age com truculência ilegal contra familiares que se desesperam pela dor de um parente, culpado ou não.

O caso de Garotinho está longe de significar alguma evolução civilizatória, passa distante de algum motivo para comemorarmos justiça. Nos aproxima da barbárie, do abuso de poder, do judiciário autoritário e da sede popular pela barbárie. Nos afasta da democracia e da cultura cívica.


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