Por Adelson Vidal Alves
O ex-governador Anthony
Garotinho é acusado de usar de programa social na compra de votos quando
governava o estado do Rio de Janeiro. Foi preso pela Polícia Federal, não foi
condenado, e pelo que sei, não tinha força para atrapalhar as investigações.
Bem, deixemos isso para os juristas. O que me preocupa é o espetáculo midiático
e popular criado em torno da detenção de Garotinho.
O filósofo Michel Foucault em
seu clássico “vigiar e punir” narra a evolução do sistema penal mundial. Em
outros tempos, valia a penúria, o sofrimento, a dor do condenado. Era a punição
do crime com os maiores horrores possíveis, sempre em praça pública. Era a
vingança, não a justiça.
Hoje, evoluímos para um
paradigma cívico no qual a interpretação de um crime leva em consideração uma
série de fatores, atenuantes ou agravantes. A punição não visa apenas castigar
como exemplo, mas também reeducar para a volta do convívio social. Um preso
recuperado não é bom só pra ele, é bom pra sociedade. Um perigo a menos. Apesar
disso, segue o sentimento “justiceiro”, as vezes a tal “justiça” é feita com as
próprias mãos. Não a toa, aumentam os casos de linchamento de supostos
assassinos, estupradores ou agressores de criança. Os condenados estão
exclusivamente sob o júri da paixão de uma sociedade sedenta de sangue e
violência. Não são raro os casos onde a vítima mais tarde se comprova inocente.
Garotinho, antes da sentença judicial,
foi arrastado em uma maca . Comprovadamente doente, foi jogado em uma ambulância
aos gritos da filha desesperada. O vídeo, comemorado nas redes sociais, era a
própria cena da barbárie. Os que aplaudiram a violação da dignidade humana do
ex-governador mal sabem o crime que ele cometeu, mas isso não faz diferença,
né? Ele é político, e todo o político não presta. Não merece julgamento,
defesa, e nem respeito a seus direitos constitucionais como gente. Bom é o juiz
que nega todos seus direitos, o agente público que age com truculência ilegal
contra familiares que se desesperam pela dor de um parente, culpado ou não.
O caso de Garotinho está longe
de significar alguma evolução civilizatória, passa distante de algum motivo
para comemorarmos justiça. Nos aproxima da barbárie, do abuso de poder, do
judiciário autoritário e da sede popular pela barbárie. Nos afasta da
democracia e da cultura cívica.
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