Por Adelson Vidal Alves
O filósofo Karl Marx escreveu: "A religião é, na realidade, a
consciência e sentimentos próprios do homem que ou ainda não se encontrou ou
então já se perdeu. A religião é apenas o sol ilusório em torno do qual se move
o homem enquanto não se move em torno de si mesmo". O pensador alemão
tratou a religião, ainda, como o “ópio do povo”. Ela seria uma fuga do ser humano
de suas responsabilidades, que não se assume como dono dos seus destinos. Antes
transfere parte de suas decisões para o sobrenatural, ao invés de enfrentar os
problemas com suas próprias forças.
O pensamento religioso é fruto
da consciência alienada, que por sua vez vem da divisão social do trabalho e da
sociedade de classes. No sistema de produção capitalista o trabalhador se
separa de suas ferramentas de trabalho e perde o domínio sobre a totalidade
produtiva, desconhecendo o fruto do seu trabalho. Ele é apenas parte. A
religião se assenta nessa realidade econômica de modo que ela só irá
desaparecer quando os elementos que sustentam a alienação desaparecerem.
Não faz sentido, dessa forma, a
militância antirreligiosa de alguns pensadores como Richard Dawkins e Christopher
Hitchens, autointitulados “cavalheiros do apocalipse”. Eles usam de palestras,
livros e artigos como forma de combate a religião. Desqualificam a religiosidade
e acham que usando somente de argumentos racionais poderão vencer o pensamento religioso. Lutam
contra a religiosidade ignorando suas causas.
Não acho que a fé em Deus seja
uma “neurose”, como sugeriu Freud. Tampouco ligo a prática religiosa a uma
total irracionalidade. A religião, depois que perdeu o monopólico da explicação
do mundo natural, passando a dividir essa responsabilidade com a ciência, foi
obrigada a se revestir também de algum fundamento da razão, ainda que no fim ela
se valha essencialmente da fé e a revelação do sagrado. O religioso não é necessariamente
um bitolado.
No entanto, penso que a prática
religiosa limita nossa humanização. Prostrados diante do desconhecido, nos
submetemos à moral construída em nome de um ser supremo invisível, perdemos a
liberdade e a capacidade de agir livremente. O fim da religião seria a
consagração da humanidade, a plenitude de nossa espécie como a espécie superior
entre os seres vivos, dominantes de tudo, do planeta, da história, da vida,
coisas que a religião transferiu para o nome de Deus. Mas o fim da religião só
será possível com a construção de uma nova ordem social, onde o homem seja o
senhor de si, e não parte de uma hierarquia que divide governantes e governados,
trabalhadores e patrões, servos e senhores.
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