sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O fim da religião

Por Adelson Vidal Alves



O filósofo Karl Marx escreveu: "A religião é, na realidade, a consciência e sentimentos próprios do homem que ou ainda não se encontrou ou então já se perdeu. A religião é apenas o sol ilusório em torno do qual se move o homem enquanto não se move em torno de si mesmo". O pensador alemão tratou a religião, ainda, como o “ópio do povo”. Ela seria uma fuga do ser humano de suas responsabilidades, que não se assume como dono dos seus destinos. Antes transfere parte de suas decisões para o sobrenatural, ao invés de enfrentar os problemas com suas próprias forças.

O pensamento religioso é fruto da consciência alienada, que por sua vez vem da divisão social do trabalho e da sociedade de classes. No sistema de produção capitalista o trabalhador se separa de suas ferramentas de trabalho e perde o domínio sobre a totalidade produtiva, desconhecendo o fruto do seu trabalho. Ele é apenas parte. A religião se assenta nessa realidade econômica de modo que ela só irá desaparecer quando os elementos que sustentam a alienação desaparecerem.

Não faz sentido, dessa forma, a militância antirreligiosa de alguns pensadores como Richard Dawkins e Christopher Hitchens, autointitulados “cavalheiros do apocalipse”. Eles usam de palestras, livros e artigos como forma de combate a religião. Desqualificam a religiosidade e acham que usando somente de argumentos racionais  poderão vencer o pensamento religioso. Lutam contra a religiosidade ignorando suas causas.

Não acho que a fé em Deus seja uma “neurose”, como sugeriu Freud. Tampouco ligo a prática religiosa a uma total irracionalidade. A religião, depois que perdeu o monopólico da explicação do mundo natural, passando a dividir essa responsabilidade com a ciência, foi obrigada a se revestir também de algum fundamento da razão, ainda que no fim ela se valha essencialmente da fé e a revelação do sagrado. O religioso não é necessariamente um bitolado.

No entanto, penso que a prática religiosa limita nossa humanização. Prostrados diante do desconhecido, nos submetemos à moral construída em nome de um ser supremo invisível, perdemos a liberdade e a capacidade de agir livremente. O fim da religião seria a consagração da humanidade, a plenitude de nossa espécie como a espécie superior entre os seres vivos, dominantes de tudo, do planeta, da história, da vida, coisas que a religião transferiu para o nome de Deus. Mas o fim da religião só será possível com a construção de uma nova ordem social, onde o homem seja o senhor de si, e não parte de uma hierarquia que divide governantes e governados, trabalhadores e patrões, servos e senhores.



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