sábado, 6 de agosto de 2016

Para além de Dilma/Temer

Por Adelson Vidal Alves




Os poucos que ainda acreditam no retorno de Dilma à presidência da República apostaram todas as suas fichas que o povo brasileiro fosse às ruas na abertura dos jogos olímpicos denunciar o “golpe”. Não foi. Salvo as entidades de ligação histórica com o PT, os brasileiros optaram por prestigiar o país e o momento histórico que vive.

As tão sonhadas vaias a Temer foram tímidas, ainda que o protocolo da abertura tenha dispensado a figura do presidente interino em algum momento. Atitude até certo ponto compreensível, havia o risco de se apresentar a minoria de um país quebrando regras mínimas de civilidade, como a de respeitar autoridades constituídas. Em geral, o discurso do golpe não apareceu.

O fato é que todo o trabalho de marketing para convencer os brasileiros que Temer lidera um governo golpista fracassou. O Brasil sente e sabe que vivemos a normalidade democrática. Soma-se, ainda, que as pesquisas de opinião mostram que mesmo o interino não tendo decolado na popularidade, não se deseja o retorno de Dilma, uma figura cada vez distante da atenção dos brasileiros.

O próprio PT já se afasta de Dilma. Sonham com um fracasso absoluto de Temer e o triunfo messiânico de Lula em 2018. De certo modo, é a estratégia que sobrou. Mas parece óbvio que o Partido dos Trabalhadores se dissolve em meio à Operação Lava jato, e tudo indica que sairá devastado destas eleições municipais. O próprio Lula acumula um alto índice de rejeição

Esse quadro político oferece oportunidade para uma saída alternativa para o país a médio prazo. PMDB e PT são sócios na quebradeira do país nos últimos anos, serão igualmente responsabilizados, e devem arcar com os prejuízos nas urnas. Mas a grande questão é o que virá. Estaremos na direção de se construir uma nova força política de governo? Há sinais de acúmulo de forças para fazermos real o desejo de milhões para um Brasil pós-PT/PMDB?

Gramsci certa vez alertou que se o velho está morrendo e o novo não nasce, elementos mórbidos podem aparecer. Isto é, se a governança atual se esgota e o novo não aparece, pode ser que haja uma recomposição do velho e sua sobrevida. O desafio passa ser construir, na vida real, a novidade que de conta de superar o atual ciclo de governo.

Enfim, é necessário a articulação política e social que vá além da polarização, que se estabeleça como síntese democrática que represente o grito das ruas, que passe longe dos conflitos toscos que contrapõem “petralhas e “coxinhas”, e que possa, de fato, unir o Brasil, retornar o ambiente cívico da política. Temos a chance de reconfigurar nossa política, renová-la para o seu objetivo original: a busca do bem comum.





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