domingo, 28 de agosto de 2016

A História do Brasil, segundo o PT

Por Adelson Vidal Alves



Por volta do ano 1500 os europeus chegaram ao Brasil. Vivemos, então, 3 séculos de período colonial, até nossa independência. Vieram dois reinados e turbulentas administrações regenciais, proclamamos a república e a revolução de 1930 reorientou nosso eixo econômico e reconfigurou a cara do Estado brasileiro. Getulio Vargas deu inicio a uma era que se finalizou em 1945, com a derrota da ditadura do Estado novo. Até 1964 passamos por um tempo de relativa estabilidade democrática, interrompido por um golpe civil-militar que inaugurou um regime autoritário de 21 anos. A redemocratização nos legou uma Constituição avançada, e desde então vemos o revezamento de governos democráticos eleitos pelo povo. É mais ou menos assim que a história do Brasil é contada nas escolas, mas o PT resolveu apresentar uma nova versão.

Dentro de uma rede articulada de comunicação, o petismo tenta recontar a história do Brasil em dois períodos: antes do PT e depois do PT na presidência. O primeiro período teria sido um tempo de desgraça social, exploração econômica, violência exploratória, corrupção e injustiças. Com a chegada de Lula ao poder, em 2003, o país teria vivido uma era de glórias, o paraíso dos trabalhadores. Tal narrativa esdrúxula ganha ares ainda mais cômicos quando complementada com a tese de que essa era estaria sendo terminada por um “golpe de Estado” articulado pelas elites, a mídia e os setores conservadores.

Sabemos que a forma com que se conta a história de uma nação é de interesse do poder, por isso os currículos de história frequentemente são revisados, de acordo com os objetivos de um governo. Não a toa, recentemente, o MEC tentou reformular o conteúdo desta disciplina retirando  os grandes acontecimentos europeus, eliminando a temporalidade e reduzindo o ensino da história ao Brasil, África e o mundo indígena. O objetivo era claramente atender interesses militantes do multiculturalismo, substituindo a história geral por fragmentos étnicos e raciais.

Neste momento, o que o PT quer fazer com a história do Brasil é ajustá-la para fins próprios. E o mais grave é que ele não faz apenas pelas vias militantes do marketing, mas conta, principalmente, com o apoio da Universidade. Isso fica evidente na iniciativa de um grupo de historiadores renomados, intitulados “historiadores pela democracia”. Eles preparam documentos, artigos, livros e ensaios que indicam, como conhecimento histórico produzido, a existência de um golpe contra a presidente Dilma Roussef. Fazem isso sem respeitar o rigor científico da pesquisa histórica, narram como ciência o que vem da ideologia.

Os tempos atuais revelam uma guerra ideológica onde a história do Brasil é gravemente atingida. Já temos livros didáticos que apontam heróis nacionais contemporâneos, como o operário que virou presidente. Também lemos a demonização de adversários do petismo como sendo agentes perversos do neoliberalismo, a globalização tratada como o inferno dos pobres e ditaduras atuais desenhadas como paraísos sociais.

O desafio consiste em denunciar articulações que passam longe das formalidades acadêmicas de pesquisa, e trabalham, com disfarse científico, em função da legitimação do poder. O triste é saber que nossos principais adversários são homens e mulheres do saber histórico, que deveriam velar pelos procedimentos historiográficos, mas são os primeiros a agirem como soldados dos interesses de um partido político.




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