sexta-feira, 26 de agosto de 2016

CSN e eleições

Adelson Vidal Alves



Em 2004, nas eleições para prefeito em Volta Redonda, o aperto de mão entre o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch, e o então candidato Paulo Cesar Baltazar, decretou a derrota deste. A dupla apostou na chantagem do alto forno 4. Ou Baltazar venceria, ou não haveria construção de mais um alto forno na siderúrgica. Não colou, Baltazar perdeu. Em 2012, o candidato Jorge de Oliveira, o  Zoinho, também ganhou o carimbo de candidato da empresa. Em uma de suas últimas entrevistas, o bispo emérito da cidade Dom Waldir Calheiros expressou bem o sentimento popular, dizendo que a vitória de Zoinho significaria entregar a cidade para a CSN de porteira fechada. Jorge de Oliveira também sentiu o peso do desgaste do “barão do aço” junto  à população. 

Desde então, ter Benjamin como cabo eleitoral é prejuízo. Afinal, o dono da siderúrgica representa o capitalismo mais selvagem, chegando a declarar em artigo sua simpatia para o fato de trabalhadores americanos comerem sanduiches com uma mão e operarem  máquinas com a outra.  Além do mais, Steinbruch é o símbolo vivo de uma das privatizações socialmente mais fracassadas de nossa história. Custou aos voltarredondenses a extinção de mais de 15 mil postos de trabalho, a ociosidade de terras e imóveis produtivos, a perda de espaços educacionais e de lazer que até então serviam às famílias dos operários.

Nestas eleições, nenhum candidato a prefeito se apresenta como preferido da siderúrgica. Mas é inegável que todos, uma hora ou outra, terão que apresentar ao povo que comportamento terão caso sejam eleitos. Malgrado toda a política de precarização aplicada pela empresa nestes últimos anos, é fato que ignorar sua importância é irresponsabilidade.

Volta redonda já não é mais uma cidade operária, a maioria dos empregos estão no setor de serviços, mas este gira em torno da empregabilidade que a CSN oferece. Um administrador público lúcido jamais governaria em choque com a empresa, ao contrário, deve assumir a postura do diálogo. É claro, dialogar não significa se submeter as diretrizes do lucro empresarial, mas estabelecer pactos que atendam ao interesse coletivo.

Bem verdade que Benjamin não faz parte do que arriscaríamos chamar de “burguesia nacionalista”. Pensa o capitalismo em sua forma mais rudimentar, e maximaliza os lucros pela mais-valia absoluta. Reverter a consciência deste tipo de burguês não é tarefa fácil. Por isso, desde já é preciso que os candidatos deixem claro o quanto seus programas de governo se comprometem com o desenvolvimento econômico sem sacrificar o erário público.

Neste aspecto, é preciso estar atento para que a construção do próximo governo combine disposição para o diálogo e intransigência para proteger a cidade de danificações que a violência do capital pode promover. Em linhas gerais, o eleitor vai precisar conhecer o que cada candidato pensa em fazer para gerar empregos, tendo como norte restabelecer relações diplomáticas com a CSN, ainda que diplomacia não ande combinando muito com as ideias arcaicas de seu presidente.


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