segunda-feira, 22 de agosto de 2016

E se a extrema-esquerda vencesse as eleições?

Por Adelson Vidal Alves



Norberto Bobbio diferencia esquerda e direita pela forma como tratam a questão da desigualdade. A primeira defende políticas de distribuição de renda, e a segunda trata a desigualdade social como algo natural dentro da diversidade humana. A primeira se preocupa mais com gastos sociais, na busca por democratização da riqueza e proteção social, a segunda valoriza as liberdades e o desenvolvimento econômico. Mas nenhuma das duas é homogênea. Podemos falar de uma direita democrática, liberal, fascista etc. Da mesma forma, a esquerda, democrática, moderada, revolucionária, reformista ou extrema-esquerda.

Esta última, em geral, é de orientação marxista: comunista ou socialista. Pensam o Estado como sendo burguês, e a democracia um instrumento a ser utilizado até a chegada triunfal ao poder. Por isso, seus programas políticos de governo são a reprodução literal das teses doutrinárias do marxismo clássico, que aguarda revoluções por vias insurrecionais. Sendo a democracia instrumental, as eleições servem para educar o povo, são mecanismos pedagógicos para preparar a população para o grande dia. Não planejam governar, pois o governo é jogo de cartas marcadas, e só chega quem faz acordos com o poder econômico para reproduzirem as injustiças sistêmicas. São maximalistas, e não toleram articular apoios pontuais que faça possível a construção de um poder plural que nasce da dinâmica democrática.

Na história, no entanto. temos experiências valorosas em que a esquerda assumiu caminhos democráticos para seus objetivos políticos. Na Italia, o saudoso PCI (Partido Comunista Italiano) formou o famoso “compromisso histórico”, pacto de governo com a Democracia Cristã. Esperava-se uma ultrapassagem comunista nas urnas, mas as brigadas vermelhas, movimento de extrema-esquerda, raptou e assassinou o deputado Aldo Moro, principal interlocutor do DC com o PCI. Pela via da violência e do “terrorismo vermelho” implodiu-se a possibilidade da via italiana ao socialismo.

No Chile, com Salvador Allende, a Unidade Popular chilena também vislumbrou um caminho democrático até o socialismo. Sofreu suas contradições internas e de correlação de forças, e acabou vendo tal experiência ser interrompida com o corpo de Allende sendo retirado do Palácio La Moneda. Tempos antes, Fidel castro visitou o país, constrangeu e enfraqueceu Allende junto a aliados, narrando “inimigos fascistas” da UP.

No Brasil, a extrema-esquerda se representa politicamente em partidos como o PSOL, o PCB e o PSTU. São todos carentes de vocação de governo, e o sectarismo lhes impede de se aproximar democraticamente do governo. Nos perguntamos: qual seria a postura de tais partidos caso vencessem uma eleição para o executivo? O PSOL conseguiu essa proeza no Macapá, mas o eleito deixou o partido e hoje está na Rede Sustentabilidade.

Parece-nos claro que a falta de conexão entres tais partidos e a democracia tira deles qualquer possibilidade de fazerem virar real o que defendem com tanto ardor. Se não reconhecem a complexidade da política democrática, se não aceitam a política de alianças para sair do isolamento, se só tomam como parceiros irmãos em ideologia, seu destino é falar para poucos, testemunhar suas purezas revolucionárias e só. 

Abrem mão do poder, e como fora do poder não se produz mudanças, cumprem papel minúsculo na política nacional. 

Caso ganhassem a eleição, só poderiam governar, conforme seus desejos, caso viessem a obter uma maioria de iguais. Como isso é praticamente impossível, ou recorreriam à força ou cederiam, renegando tudo que pregaram até então.




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