Por Adelson Vidal Alves
Norberto Bobbio diferencia
esquerda e direita pela forma como tratam a questão da desigualdade. A primeira
defende políticas de distribuição de renda, e a segunda trata a desigualdade
social como algo natural dentro da diversidade humana. A primeira se preocupa
mais com gastos sociais, na busca por democratização da riqueza e proteção
social, a segunda valoriza as liberdades e o desenvolvimento econômico. Mas
nenhuma das duas é homogênea. Podemos falar de uma direita democrática,
liberal, fascista etc. Da mesma forma, a esquerda, democrática, moderada,
revolucionária, reformista ou extrema-esquerda.
Esta última, em geral, é de
orientação marxista: comunista ou socialista. Pensam o Estado como sendo
burguês, e a democracia um instrumento a ser utilizado até a chegada triunfal
ao poder. Por isso, seus programas políticos de governo são a reprodução literal
das teses doutrinárias do marxismo clássico, que aguarda revoluções por vias insurrecionais.
Sendo a democracia instrumental, as eleições servem para educar o povo, são
mecanismos pedagógicos para preparar a população para o grande dia. Não
planejam governar, pois o governo é jogo de cartas marcadas, e só chega quem
faz acordos com o poder econômico para reproduzirem as injustiças sistêmicas. São
maximalistas, e não toleram articular apoios pontuais que faça possível a
construção de um poder plural que nasce da dinâmica democrática.
Na história, no entanto. temos
experiências valorosas em que a esquerda assumiu caminhos democráticos para
seus objetivos políticos. Na Italia, o saudoso PCI (Partido Comunista Italiano)
formou o famoso “compromisso histórico”, pacto de governo com a Democracia Cristã.
Esperava-se uma ultrapassagem comunista nas urnas, mas as brigadas vermelhas, movimento
de extrema-esquerda, raptou e assassinou o deputado Aldo Moro, principal interlocutor
do DC com o PCI. Pela via da violência e do “terrorismo vermelho” implodiu-se a
possibilidade da via italiana ao socialismo.
No Chile, com Salvador Allende,
a Unidade Popular chilena também vislumbrou um caminho democrático até o
socialismo. Sofreu suas contradições internas e de correlação de forças, e
acabou vendo tal experiência ser interrompida com o corpo de Allende sendo
retirado do Palácio La Moneda. Tempos antes, Fidel castro visitou o país, constrangeu
e enfraqueceu Allende junto a aliados, narrando “inimigos fascistas” da UP.
No Brasil, a extrema-esquerda
se representa politicamente em partidos como o PSOL, o PCB e o PSTU. São todos
carentes de vocação de governo, e o sectarismo lhes impede de se aproximar
democraticamente do governo. Nos perguntamos: qual seria a postura de tais
partidos caso vencessem uma eleição para o executivo? O PSOL conseguiu essa
proeza no Macapá, mas o eleito deixou o partido e hoje está na Rede
Sustentabilidade.
Parece-nos claro que a falta de
conexão entres tais partidos e a democracia tira deles qualquer possibilidade
de fazerem virar real o que defendem com tanto ardor. Se não reconhecem a
complexidade da política democrática, se não aceitam a política de alianças
para sair do isolamento, se só tomam como parceiros irmãos em ideologia, seu
destino é falar para poucos, testemunhar suas purezas revolucionárias e só.
Abrem mão do poder, e como fora do poder não se produz mudanças, cumprem papel minúsculo na política nacional.
Caso ganhassem a eleição, só poderiam governar, conforme seus desejos, caso viessem a obter uma maioria de iguais. Como isso é praticamente impossível, ou recorreriam à força ou cederiam, renegando tudo que pregaram até então.
Abrem mão do poder, e como fora do poder não se produz mudanças, cumprem papel minúsculo na política nacional.
Caso ganhassem a eleição, só poderiam governar, conforme seus desejos, caso viessem a obter uma maioria de iguais. Como isso é praticamente impossível, ou recorreriam à força ou cederiam, renegando tudo que pregaram até então.
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