Por Adelson Vidal Alves
Uma das hipóteses antropológicas
para o surgimento da religião está no impacto do desconhecido sobre nossos ancestrais
primitivos. Um raio que corta o céu, um companheiro que dorme e nunca mais
acorda (morte) e até mesmo os sonhos podem ter sugerido ao homem primitivo - sem
nossos conhecimentos modernos- a existência de uma realidade fora do mundo que enxergavam.
O encantamento do desconhecido talvez tenha levado os primeiros humanos a
venerarem o que não podiam explicar, criando as bases para o que mais tarde
viriam a ser as religiões.
Tal tese pode explicar a origem
dos primeiros sinais de fé religiosa entre nós, mas não pode esclarecer por que
hoje, milhões de anos depois e com tanto conhecimento acumulado, seguimos
acreditando em seres divinos.
O astrofísico Stephen Hawking
em recente Conferência declarou que “o Universo não precisa de Deus para
existir”. Segundo o renomado cientista, o conhecimento científico já tem
elementos suficientes para dispensarmos do cosmos a necessidade de um criador
para ele. Tudo poderia ser explicado pelas leis da física.
De fato, a ciência moderna
desvendou grande parte do que então era considerado mistério. A origem da vida,
a construção da ordem planetária, o funcionamento do corpo humano e a maioria
dos fenômenos naturais estão bem explicados, dispensando a necessidade de
qualquer ser metafísico agindo do seu mundo celestial. Então voltamos a
perguntar: por que Deus segue entre nós? Por que os templos religiosos seguem
lotados? Por que a maioria das pessoas segue acreditando em uma entidade
sobrenatural que governa o mundo?
As tentativas de respostas vem
de todos os lados. Para o médico americano Andrew Newberg, autor do livro Why
God Won’t Go Away (“Por que Deus não vai embora”, sem tradução em português), a
espiritualidade faz bem a saúde e teria sido fundamental em nossa
autopreservação. O cientista usou de tomografia em cérebros religiosos, como os
de freiras católicas e monges budistas, e conseguiu mapear a neurologia de suas
meditações e experiências místicas. O resultado sugere que no nosso cérebro
estaria uma espécie de “programa que nos faz viver a espiritualidade”. Resta saber se foi Deus quem inventou nosso
cérebro ou se foi o contrário.
Pensadores em todos os tempos
também se debruçaram sobre a questão divina. O pai da psicanálise, Sigmund
Freud, disse que a crença religiosa é uma neurose. Friedich Nietzsche, Bertrand Russel,
David Hume e outros, também abordaram o tema, sempre em tom crítico. Destaque
para o filósofo alemão Karl Marx, que em sua abordagem antropológica defendeu a
religião como a expressão da “consciência alienada”, fruto da divisão social do
trabalho promovida pelo capitalismo. Segundo o materialismo histórico marxista,
a religião teria bases materiais, e só poderia deixar de existir quando tais
bases desaparecessem, ou seja, quando o capitalismo deixasse de existir.
Enfim, é de fato um paradoxo
que tenhamos evoluído tanto na tecnologia, na medicina e no conhecimento
científico e ainda sigamos buscando milagres, acreditando em eventos
extraordinários, em possessões demoníacas ou coisas do gênero. Esperávamos que
nos dias de hoje o ser humano já fosse capaz de tomar o seu destino nas mãos, e
não transferi-lo para seres de outra dimensão. Que respondêssemos nossas dores
e dilemas com respostas racionais, e não com credos rudes. Talvez nossa carência existencial não nos deixe assumir a autoconfiança de que somos os verdadeiros donos
do planeta, e que somos nós quem decidimos nosso futuro, não um estranho ser
controlador, que depois de milhões de anos de história, nunca deu sinal de que
de fato poderia nos fazer falta.
Parei de ler em Karl Marx
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