sábado, 4 de fevereiro de 2017

OPINIÃO: O governo Samuca e o carnaval

Por Adelson Vidal Alves



O prefeito Samuca exigiu dos blocos de rua de Volta Redonda que arquem com todas as responsabilidades em seus desfiles, até segurança privada. No documento que enviou aos carnavalescos, deixa um tom de ameaça do tipo "se acontecer algo a culpa é sua". Nem mesmo Moa e Roseane Gonçalves chegaram a este ponto. O pior é que tem gente gostando, dizendo que Samuca tá certo, afinal "tem que priorizar a saude" e "Carnaval só traz prejuízo e baderna" "quem faz a festa que pague a conta" e por ai vão os argumentos samuquistas anti-carnaval.

Me desculpem o tom, mas pensar isso é coisa de gente ignorante. Carnaval não é festa privada, é cultura popular. Fosse um aniversário, uma formatura, um casamento, bem, ai sim, quem fez a festa que pague a conta. Mas Carnaval está inscrito na nossa cultura, mobiliza milhões de pessoas e representa a dimensão simbólica do imaginário nacional. Isso é cultura, e o Estado tem o dever de garantir sua expressão e reprodução, do contrário, porque haveria uma secretaria de cultura?

Mas em Volta Redonda Carnaval não dá lucro, não tem que fazer, dizem alguns. Ora, visão economicista essa. Iluminar a cidade nas festas natalinas não traz lucro também, apagaremos os enfeites de fim de ano a partir da gestão Samuca?

O fato é que cultura não tem que se adaptar as planilhas de lucro e investimento. Ela é uma parte importante da vida social, cuidar dela é cuidar das memórias do povo, de sua intervenção simbólica na história. Renegar as políticas de cultura faz de um governo um assassino de memórias e tradições.

Por fim, há quem diga que é melhor investir em saúde que no Carnaval. Mas peraí! Ninguém tá tirando dinheiro da saúde pra fazer carnaval. O orçamento do governo pode cobrir o cuidado com saúde, assistência social e as festas populares, é só administrar com a devida transparência. E Samuca passa a vida a falar que é gestor, isso não deveria ser problema.

O fato é que o governo Samuca demonstra má vontade com o carnaval, a maior de nossas festas populares. Isso nenhum dos secretários de cultura anteriores fez com tanto rigor. É uma pena, pois Marcia Fernandes, titular de Samuca para a cultura, sabe de tudo isso que estou dizendo. Mas parece aceitar a lógica tecnocrata do governo.

Se não deixar as claras sua autonomia administrativa desde já, vai se transformar numa simples executora das ordens do chefe do executivo. Perderá a chance de sair como a secretária de cultura que recolocou a cultura de volta na pauta de governo de forma qualificada. Competência tem, agora, precisa se impor.

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