Por Adelson Vidal Alves
Nos últimos governos de Volta
Redonda a cultura recebeu atenção subalterna. A Secretaria de Cultura foi
ocupada por pessoas estranhas ao meio, resumindo-se a executoras de uma agenda
comercial e pouco criativa. A classe artística da cidade chegou a intervir no
debate dentro da sociedade, sobretudo, nas gestões de Moacir de Carvalho, o
Moa, elevado a grande culpado da ausência de atenção governamental à cultura.
Ainda que agindo com excessivo corporativismo, houve luta, e a pasta da cultura
foi uma das poucas a serem modificadas pelo prefeito reeleito. A nova secretária
teve a paz que seu antecessor não teve, ainda que mantendo o vazio das
políticas públicas e até retrocedendo em alguns aspectos. O silencio dos
artistas de Volta Redonda ainda hoje não tem explicação.
Nestas eleições, pobre no
debate de projetos, a cultura vem recebendo razoável atenção. Os candidatos a
prefeito e a vereador tem guardado espaço nas suas propostas para a cultura.
Nenhuma delas aprofunda o papel de uma política pública de cultura, nos termos
conceituais, falta qualidade. Mas a fala vem sendo no sentido de encorpar a
dedicação ao setor cultural da cidade. Aqui, cabe a avaliação da orientação que
cada candidato dará a cultura no seu plano de governo.
A política cultural deve ser norteada
por três eixos básicos: 1- fomentação da prática cultural através do incentivo
a espaços plurais de produção cultural 2- valorização do artista local, de modo
a garantir sua livre criação 3- normatizar democraticamente o acesso dos
artistas aos recursos públicos.
O primeiro eixo trata da
construção e/ou manutenção de lugares que expressam a cultura em sua forma de
diversidade. Investir em teatros, em centros culturais, cinemas populares,
bibliotecas comunitárias, oficinas de arte etc. Não cabe ao poder público dirigir
a política de cultura para um objetivo ideológico, ainda que seja impossível
separar a cultura da construção do senso comum. Mas tais decisões se darão na
dinâmica própria da produção artística, e cabe a prefeitura apenas garantir a
espontânea expressão cultural que surge na diversidade espacial e social da
cidade.
O segundo eixo visa dar
sustentação material ao artista voltarredondense. Criando editais que coloquem
o artista em contato com os recursos municipais, visando a viabilização do
processo de construção da cultura, evitando que artistas e produtores culturais
sejam obrigados a aderir à padronização inata da indústria cultural. Além de editais, os artistas locais podem ser valorizados no calendário cultural do município,
sendo remunerados para tal.
Por fim, o terceiro eixo trata
da construção das regras que irão regularizar o acesso dos artistas ao dinheiro
público. Democratiza-se o acesso e ao mesmo tempo racionaliza o investimento,
evitando o favorecimento de grupos e pessoas no acesso aos recursos públicos.
Não se deve responsabilizar a
cultura em questões econômicas e sociais. Não se abre, por exemplo, um curso de violão
ou aulas de capoeira com vistas prioritárias a diminuir o uso de drogas
por parte de jovens, e nem o desenvolvimento econômico deve nascer das
atividades culturais, como prega a economia criativa. A cultura é a vivência
das pessoas, é a dimensão simbólica produzida pelos povos, é a expressão das
tradições e também a renovação das mentalidades. A política cultural deve-se
ocupar disso, sem ter que, necessariamente, produzir resultados para outras
esferas da responsabilidade governamental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário