sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Por que não uma História Temática?

Por Adelson Vidal Alves



Marc Bloch e Lucien Febvre são os principais nomes de uma corrente historiográfica que revolucionou a metodologia de construção do saber histórico. Eles propuseram uma história problemática, em diálogo com variados campos do saber, em oposição a uma historiografia tradicional até então focada em grandes narrativas políticas, heróis e com olhar exclusivo em fontes documentais. A história tradicional, no entanto, foi de grande importância para a consolidação da história como conhecimento científico.

A Escola dos Annales - como ficou conhecido o grupo que propôs essa grande transformação - iniciou uma historiografia com outros paradigmas. Hoje, o que precisa de uma verdadeira revolução é o ensino de história, ainda engessado dentro do velho esquema quadripartite francês (História Antiga, Idade Média, Idade Moderna e História Contemporânea), de conteúdo cronológico e fatual. Para os alunos, tal abordagem da história soa como inútil, chato e pesado. Mas, afinal, é possível uma nova didática de ensino de história que soe mais interessante e útil para nossos jovens?

De inicio, devo esclarecer que sou contra qualquer iniciativa que tente abolir dos currículos escolares os grandes acontecimentos europeus que marcam as divisões históricas do atual conteúdo programático, como tentou o MEC recentemente. É inimaginável imaginar aulas de história que não abordem a Roma clássica, a Grécia clássica, o mundo medieval, as grandes navegações, a reforma protestante e a Renascença. Todavia, sem romper com a atual divisão temporal, poderia coexistir um ensino de história temático.

A história temática seria uma abordagem escolar da história que consiste na seguinte metodologia: 1) Escolhe-se um tema, por exemplo, a democracia. 2) Entende-se o que é democracia nos dias de hoje em vários lugares, países, continentes e culturas diferentes. 3) Estuda-se a democracia em outros tempos e lugares, buscando sua origem e significado. 4) Compara-se os conceitos e os sentidos da modificação no tempo e no espaço.

De imediato o aluno irá entender que a história é um processo em construção, e que nada é eterno, tudo passa por um processo de criação e transformação. Identificar rupturas e permanências pode instigar a curiosidade dos alunos, fazer com que respeitem o diferente. Em geral, nossos estudantes imaginam o seu mundo como o único; o outro, o diferente, é visto como estranho, errado, bizarro.

A proposta de uma história temática não é nova, e sozinha é insuficiente. Mais: a escolha de temas a serem estudados ainda é uma questão polêmica, e a formação de profissionais de história na atualidade não aborda tal método. Trabalhar história temática exige algumas habilidades. Todavia, pensar uma nova construção do saber histórico escolar é uma tarefa urgente.


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