Por Adelson Vidal Alves
Marc Bloch e Lucien Febvre são
os principais nomes de uma corrente historiográfica que revolucionou a
metodologia de construção do saber histórico. Eles propuseram uma história
problemática, em diálogo com variados campos do saber, em oposição a uma
historiografia tradicional até então focada em grandes narrativas políticas, heróis
e com olhar exclusivo em fontes documentais. A história tradicional, no
entanto, foi de grande importância para a consolidação da história como
conhecimento científico.
A Escola dos Annales - como
ficou conhecido o grupo que propôs essa grande transformação - iniciou uma
historiografia com outros paradigmas. Hoje, o que precisa de uma verdadeira revolução
é o ensino de história, ainda engessado dentro do velho esquema quadripartite
francês (História Antiga, Idade Média, Idade Moderna e História Contemporânea),
de conteúdo cronológico e fatual. Para os alunos, tal abordagem da história soa
como inútil, chato e pesado. Mas, afinal, é possível uma nova didática de ensino
de história que soe mais interessante e útil para nossos jovens?
De inicio, devo esclarecer que sou
contra qualquer iniciativa que tente abolir dos currículos escolares os grandes
acontecimentos europeus que marcam as divisões históricas do atual conteúdo programático,
como tentou o MEC recentemente. É inimaginável imaginar aulas de história que
não abordem a Roma clássica, a Grécia clássica, o mundo medieval, as grandes
navegações, a reforma protestante e a Renascença. Todavia, sem romper com a
atual divisão temporal, poderia coexistir um ensino de história temático.
A história temática seria uma
abordagem escolar da história que consiste na seguinte metodologia: 1)
Escolhe-se um tema, por exemplo, a democracia. 2) Entende-se o que é democracia
nos dias de hoje em vários lugares, países, continentes e culturas diferentes. 3)
Estuda-se a democracia em outros tempos e lugares, buscando sua origem e
significado. 4) Compara-se os conceitos e os sentidos da modificação no tempo e
no espaço.
De imediato o aluno irá
entender que a história é um processo em construção, e que nada é eterno, tudo
passa por um processo de criação e transformação. Identificar rupturas e permanências
pode instigar a curiosidade dos alunos, fazer com que respeitem o diferente. Em
geral, nossos estudantes imaginam o seu mundo como o único; o outro, o
diferente, é visto como estranho, errado, bizarro.
A proposta de uma história temática
não é nova, e sozinha é insuficiente. Mais: a escolha de temas a serem
estudados ainda é uma questão polêmica, e a formação de profissionais de
história na atualidade não aborda tal método. Trabalhar história temática exige
algumas habilidades. Todavia, pensar uma nova construção do saber histórico
escolar é uma tarefa urgente.
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