segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os pecados do feminismo autoritário

Por Adelson Vidal Alves



Não sejamos exagerados em desqualificar o feminismo em suas conquistas para as mulheres, também não transformemos a luta feminina contra o machismo em ideologia, a ponto desta se assumir como  portadora de uma força revolucionária da sociedade. Sim, por que o feminismo em sua forma mais autoritária não pensa apenas em libertar as mulheres do jugo histórico da opressão machista, mas sim virar o jogo e tomar o poder pelo gênero, marcando posição de luta contra o macho.

Neste feminismo alguns elementos bizarros de discurso se fazem necessários. Não se pensa o mundo atual como aquele em que o machismo se faz presente, porém, com a sociedade em processo de democratização e com conquistas progressivas para as mulheres. Antes, narra-se um inferno machista, como se movêssemos diariamente em um cotidiano de estupros. 

Essas feministas fecham os olhos para leis como a Maria da Penha, as DEAMs, o ingresso cada vez mais intenso de mulheres em mercados de trabalho, antes exclusivos aos homens, todas conquistas da política democrática, onde homens também estão na linha de frente.

Mas o feminismo autoritário precisa de sangue nos olhos, nada de conciliar com homens, estes são sempre “estupradores em potencial”, devoradores de fêmeas indefesas. A mulher deve, então, se comportar com cuidado frente qualquer aproximação de conquista, afinal, a figura masculina é ameaça, no máximo ele quer te comer e sair pelos cantos exibindo seu troféu.

Veja bem, até mesmo no sexo o feminismo autoritário quer intervir. Mulher ficar de quatro se torna expressão da falocracia (etimologicamente, poder de quem tem pênis). Não mais uma posição sexual prazerosa a alguns parceiros sexuais, mas evidência histórica da submissão ao homem que subjuga a mulher.

Tragédias também viram inspiração na ideologia do feminismo autoritário. O caso recente e bárbaro de estupro coletivo no Rio de Janeiro, forneceu a bandeira da “cultura do estupro”. Tal termo sugere que no Brasil há um conjunto articulado de ideias e comportamentos que fabricam silenciosamente o estuprador. Este, de certa forma, deixa de ser a aberração criminosa para ser fruto social, deixa de ser a monstruosidade psiquiátrica e criminosa para ter uma gênese. É preciso que se esclareça que uma cultura machista não necessariamente fabrica estupradores. Violentar sexualmente uma mulher não pode ser igualado a quem considere o feminino figura exclusiva do lar, por exemplo.

Nos tempos pós-modernos, me parece claro a elevação de movimentos que espelham a fragmentação do sujeito social. E o feminismo, neste aspecto, é apenas mais uma peça deste modismo que derrota o todo para fortalecer identidades que vivem e se fortalecem entre muros intransponíveis. O drama é pior quando estes fragmentos assumem-se como porta voz do todo, formando seu DNA autoritário.




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